A deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL) disse que irá acionar o Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) contra o deputado Bruno Engler (PL), após ele se referir aos parlamentares contrários à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 26/2023 como "nazistas de luvas brancas". 

O projeto trata da inclusão do “direito do nascituro” na Constituição mineira, o que, segundo críticos, pode restringir a realização de abortos legais no estado. A declaração foi feita durante reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), nesta terça-feira (24), depois que os deputados decidiram retirar a proposta de pauta. 

Para Bella Gonçalves, a fala de Engler foi uma agressão pessoal, incompatível com o debate democrático. “É uma ofensa gravíssima que será levada à Comissão de Ética. Em tempos anteriores, ofensas desse tipo, como ofensas de supremacistas brancos, geraram um escarcéu nesta Casa. Não podemos aceitar de forma nenhuma que um debate qualificado sobre um Projeto de Lei gere um tipo de ofensa pessoal de um deputado homem contra uma mulher, dessa forma. Estou ainda um pouco desestabilizada pelo tamanho desta ofensa, mas segura de que estou fazendo a defesa das meninas e mulheres”, disse a parlamentar.”, afirmou.

Durante a audiência, a deputada questionou a quem Engler dirigia o termo “nazista”. Em resposta, o parlamentar do PL afirmou que se referia “aos mesmos que o Papa Francisco criticou, os que defendem o aborto”. Ele comparou a interrupção da gravidez às práticas de eugenia do regime nazista. “O nazismo impunha morte a pessoas com deficiência, assim como fazem os abortistas”, disse.

Antes do embate, Bella havia criticado duramente a PEC, apelidando-a de “PEC do estuprador”. Segundo ela, a proposta tenta impedir abortos legais e obrigar meninas e mulheres estupradas a manterem a gestação. “O projeto quer legalizar uma prática de tortura contra meninas e mulheres que tenham sido estupradas, pode prejudicar pesquisas e até a realização de fertilização in vitro para casais que dependem desse método para ter seus filhos. É absurdo demais”, disse.

A parlamentar também criticou o uso de discurso religioso como argumento político. “Limpe a boca suja de vocês para dizer que defendem as crianças. Obrigar uma menina de 10 anos, estuprada, a ouvir os batimentos cardíacos da gestação não é defesa da família ou da infância”, disse.

Diante da tensão, o presidente da Comissão ameaçou suspender todos os pedidos de resposta dos deputados para garantir a continuidade da reunião. “Se continuarmos assim, vamos ficar nisso até amanhã. Não permitirei mais questões de ordem”, declarou.

Procurado pela reportagem, o deputado Bruno Engler ainda não se manifestou sobre a denúncia ao Conselho de Ética. O espaço permanece aberto para posicionamento.