O vereador Helton Júnior (PSD) declarou, em entrevista ao Café com Política, do canal O TEMPO, exibida nesta quinta-feira (28/8), que se surpreendeu com a ênfase de colegas em assuntos que não cabem ao Legislativo municipal. Projetos relacionados a pauta de costumes, como aborto e restrições a pessoas trans, além de embates sobre figuras como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente norte-americano Donald Trump, têm ocupado espaço frequente na Câmara Municipal de Belo Horizonte. 

Questionado sobre suas primeiras percepções no cargo, em seu primeiro mandato, Helton reconheceu: “assustou um pouco. Eu sinto que quem representa a população tem que estar sempre próximo das demandas. O que é isso? É estar na rua, é escutar as pessoas, é entender o que de fato está infligindo a vida do cidadão. Aí quando eu cheguei na Câmara e eu vi pessoas discutindo questões supranacionais, Lula e Bolsonaro, discutindo Donald Trump, discutindo toda a sorte de coisas que não necessariamente impactavam a vida do belo-horizontino, isso me impactou negativamente”. 

Para o vereador, a função do cargo exige foco em temas locais e em problemas que afetam diretamente a população. “Um vereador tem muito prestígio, tem condição de resolver coisas muito importantes para as pessoas, mas em outros âmbitos que não nos competem, a gente tem menos influência. E é natural, porque temos para isso pessoas que também foram eleitas, deputados estaduais, deputados federais, senadores”, pontuou. 

Vereador falando de Trump é ninguém na fila do pão 

Na avaliação do parlamentar, o vereador enfraquece sua atuação ao tentar se inserir em áreas que não lhe competem. “Obviamente, quando eu tento jogar em uma arena que não é a minha, a posição que eu ocupo começa a ficar menos relevante. Então se um vereador de Belo Horizonte for falar sobre a taxação do Donald Trump, com todo o respeito, ele não vai ser ninguém na fila do pão, tem pessoas mais adequadas para fazer esse enfrentamento”, disse. 

Presidente da Câmara não é babá de vereador 

Na avaliação de Helton Júnior, o excesso de atenção a disputas nacionais faz com que problemas urgentes da capital mineira sejam deixados em segundo plano. “Enquanto isso, nós estamos em Belo Horizonte, que tem uma série de problemas muito graves. Transporte coletivo, temos questões de drenagem na cidade inteira que precisam ser solucionadas e outros tantos problemas que precisam da atuação dos vereadores de forma atenta e qualificada. Se a gente dispersa a pauta àquilo que não nos cabe, a população sai prejudicada”, afirmou. 

Indagado se caberia ao presidente da Câmara, Juliano Lopes (Podemos), atuar como mediador diante desse tipo de debate, o parlamentar negou. “Eu não acho que falta uma mediação do presidente Juliano, não. Por quê? Cada vereador tem autonomia e liberdade para trabalhar aquilo que ele quiser, então se um vereador decide falar de um assunto que é nacional e não compete a Câmara de Vereadores, ele tem legitimidade para aquilo, ele foi eleito também como os outros 40 vereadores”, avaliou. 

Ele continuou: “então não é a atuação, a coerção do presidente Juliano que vai fazer o vereador falar disso ou daquilo. É realmente a postura de cada um e cada um fazer uma autorreflexão. Ele pode falar do que quiser e nós também podemos criticá-lo na mesma medida”. 

“Não acho que cabe a ele ser babá de vereador, não. Ele tem conduzido bem, mas a conduta de cada é responsabilidade individual”, finalizou.