O prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União), tem dedicado boa parte de sua agenda recente a compromissos religiosos. Em apenas três fins de semana, participou de três cultos evangélicos e de uma festa católica. A postura é diferente da que adotou em maio, quando, diante do padre Marcelo Rossi, pediu bênçãos, mas dispensou uma “reza forte” para melhorar a relação com a Câmara Municipal. Agora, parece menos disposto a abrir mão de orações.

A maratona religiosa começou em 17 de agosto, no “Culto de aniversário de 22 anos da Igreja Batista Templo de Adoração (IBTA)”, no Barreiro. 

No fim de semana seguinte, Damião esteve no festival gospel “Ore Comigo”, na Arena MRV, em 23 de agosto. No dia 24, o prefeito da capital marcou presença em um culto na Igreja Batista da Lagoinha, no bairro Belvedere, ao lado do pastor André Valadão.

A sequência continuou no fim de semana seguinte. Na sexta-feira, 29 de agosto, Damião se reuniu com vereadores da Frente Parlamentar Cristã, na Câmara Municipal de Belo Horizonte, para discutir a participação da prefeitura na “Jornada Pascoal” de 2026. E no sábado, 30 de agosto, ele compareceu na “Festa do beato Padre Eustáquio”, de quem o ex-prefeito Fuad Noman era devoto.

A aproximação com a pauta religiosa ocorre após turbulência ligada ao assunto. Em julho, a prefeitura destinou R$ 450 mil para a Parada do Orgulho LGBTQIA+ de BH, mas o repasse foi suspenso pela Justiça, que liberou no máximo R$ 100 mil. A decisão atendeu ação movida por vereadores da Frente Cristã, insatisfeitos com o apoio financeiro ao evento.

Diante da agenda intensa ao lado de lideranças religiosas, Damião nega qualquer cálculo eleitoral. “Se me chamarem, eu vou”, disse, em tom descontraído. E completou: “Não tem nada específico ou uma razão especial, não. Os pastores me convidam para poder ir e eu vou. Já fui em várias; tem vários outros convites para ir. Algumas eu não consegui ainda, mas eu vou. Vou em eventos católicos também. Estive sábado na Igreja do Padre Eustáquio; o padre da igreja fez questão que eu fosse e eu também fazia questão de estar lá. Então fui. Não é proximidade com um público específico. Na verdade eu já tenho e tento manter a proximidade com todos”.

A relação entre política e fé não é novidade em Belo Horizonte. Um exemplo recente é o que houve na reta final da eleição municipal de 2024, quando o então prefeito Fuad, que trouxe Damião para a prefeitura como candidato a vice em sua chapa, enfrentou episódio marcante em sua campanha. Ele foi surpreendido em um debate improvisado com o também candidato Bruno Engler (PL), em um evento na Igreja Batista Getsêmani.

Fuad tentava a reeleição e era muito pressionado por causa de trechos de seu livro, “Cobiça”, avaliado por Engler como “perturbador” e “pornográfico”. Na ocasião, Fuad disse que a população evangélica era muito importante e que ele esperava convencê-la pela continuidade. Já Engler destacou que os “cristãos” não poderiam se contentar com “migalhas” de políticos que passavam pelas igrejas de quatro em quatro anos, pediam votos e orações e depois trabalhavam contra os valores da comunidade. 

Ao menos por enquanto, Damião tem feito uma agenda para ser presença constante nestes espaços e evitar este tipo de crítica.