Enquanto mísseis cruzavam o céu do Oriente Médio na guerra entre Israel e Irã, os políticos brasileiros abrigados no bunker de Kfar Saba, cidade a cerca de 20 km de Tel Aviv, capital israelense, enfrentavam outra batalha silenciosa para definir quem lideraria a comitiva durante a crise.
O grupo embarcou para participar de eventos sobre segurança pública em Israel em 8 de junho e na sexta-feira (13) passou as noites no abrigo para se proteger de ataques iranianos. Além do medo e da situação inesperada, eles tiveram que lidar ainda com disputas internas. “Ambiente de política tem muita inveja”, disse um dos integrantes da comitiva de 25 autoridades brasileiras, a grande maioria vinculada a partidos de direita.
Uma questão era saber como o grupo iria se apresentar diante dos intermediários dos governos de Israel e Brasil que estavam negociando a retirada dos brasileiros. Prefeitos de cidades grandes acabavam sendo mais procurados do que representantes e autoridades de municípios menores, o que teria gerado alguns “ciúmes”, segundo relatos de quem acompanhou a questão de perto.
Álvaro Damião (União Brasil), prefeito de Belo Horizonte, a maior cidade com representante na comitiva, comunicador experiente, acabou se destacando e virando referência para a imprensa brasileira, sedenta por informações direto do território israelense. Os vídeos divulgados por Damião mostrando a rotina nos bunkers foram reproduzidos por diversos veículos de comunicação e na redes sociais. Mas a liderança do mineiros não foi referendada por todos.
A situação se agravou após a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), divulgar uma nota oficial, no sábado (14), chamando Damião de “coordenador” do grupo. A deferência de uma ministra petista ao prefeito de um partido de centro-direita causou desconforto, sendo interpretada por integrantes como um alinhamento político indesejado. Críticas começaram a circular, acusando o prefeito de ter aderido a uma “narrativa do PT” e desvalorizando seu papel nas negociações.
Durante os debates internos, Damião teria questionado um oficial israelense sobre a razão de levarem os brasileiros àquela região mesmo com o risco iminente de ataques. A resposta, segundo relatos, foi ríspida, indicando que a informação sobre o início do ataque não seria do conhecimento de quem fez o convite aos brasileiros. A fala foi usada por opositores para fragilizar a liderança do prefeito de Belo Horizonte, classificado por interlocutores do grupo como “imprudente”.
No final, a liderança do grupo passou ao prefeito de João Pessoa, capital da Paraíba, Cícero Lucena (PP). Foi seu filho, o deputado federal Mersinho Lucena (PP), quem financiou o jato particular que resgatou os brasileiros a partir da Arábia Saudita, após uma viagem de cerca de dez horas pela Jordânia, organizada com o apoio dos governos de Israel e do Brasil.
Lucena também foi apontado como o articulador de uma nota divulgada pelo grupo em resposta ao Itamaraty, que havia criticado a ida da comitiva a Israel, “a despeito de alerta consular da Embaixada do Brasil em Tel Aviv”. O documento rechaçava a versão oficial e reafirmava a legitimidade da missão.
Álvaro Damião foi procurado para comentar as falas sobre sua atuação em Israel, mas não retornou o contato.
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