Funcionários da Unitec Semicondutores, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, reclamam de salários atrasados, de falta de água e da ausência de diversos direitos, como o vale-alimentação, além de condições insalubres de trabalho. A empresa, criada em 2012, foi projetada para se tornar referência na produção de chips de alta tecnologia na América do Sul, mas esse plano esbarra na falta de investimentos e em falhas de gestão.
A maior parte da Unitec pertencia ao grupo EBX, de Eike Batista, e tinha participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), como acionista minoritário. A parte do EBX foi assumida pelo grupo argentino Corporacion América.
Uma fonte que preferiu não se identificar, mas que acompanha o caso de perto, disse ao Aparte que os 13 funcionários que atuam na sede da companhia, em Ribeirão das Neves, estão abandonados.
Os salários estariam atrasados desde maio, e férias vencidas não teriam sido quitadas. A falta de pagamento aos fornecedores teria causado o corte da água da empresa e o plano de saúde dos funcionários.
Ainda segundo a denúncia, por causa da falta de água, os colaboradores estariam usando um matagal próximo à empresa como banheiro. Outra reclamação diz respeito ao FGTS e ao INSS, que teriam sido descontados dos empregados, mas não recolhidos.
“Os empregados que permanecem na Unitec são apaixonados pelo projeto e investiram toda a sua energia e a confiança nos acionistas, acreditando no bem da empresa. Durante os últimos meses, os empregados têm literalmente custeado a Unitec, mesmo sem receber os salários. Hoje a empresa não tem rede, e-mails e telefones corporativos, e os empregados que estão custeando todo o trabalho”, diz a fonte.
O BNDES alegou que investiu R$ 245,05 milhões em ações e R$ 266,67 milhões em financiamento na companhia mineira. O banco afirma que tem conhecimento das reivindicações dos profissionais da empresa e trabalha para atendê-las no curto e no médio prazo.
Buscando recuperar o crédito concedido, o BNDES ingressou com duas ações judiciais contra a Unitec, no valor total de R$ 253 milhões, na data base de 8 de julho de 2019.
A empresa Tauá Partners foi contratada pelos acionistas para dar assessoria na gestão da empresa de tecnologia. De acordo com a Tauá, a pandemia de coronavírus agravou os problemas operacionais e financeiros da Unitec, mas trabalha para regularizar os pagamentos aos trabalhadores e solucionar as questões apresentadas por eles ainda neste mês.
O BDMG informou que possui 6,5% das ações da Unitec e que os aportes financeiros para o projeto foram feitos de 2012 a 2017. O banco informou ainda que busca, junto aos outros sócios, um plano de reestruturação da empresa.