ALMG

Após reportagem, CPI da Cemig pede cópia do plano de trabalho da Kroll

Deputados também solicitaram listas dos funcionários que tiveram dados copiados. Pedidos ocorrem após matéria de O TEMPO mostrar que a empresa de investigação propôs à Cemig levantar informações pessoais dos servidores

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 23 de setembro de 2021 | 19:29
 
 
 
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A CPI da Cemig na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou na noite desta quinta-feira (28) um requerimento pedindo que a Cemig envie, no prazo de cinco dias, uma cópia do plano de trabalho da Kroll e a relação dos funcionários que tiveram os dados de seus computadores funcionais copiados.

A solicitação ocorre após O TEMPO publicar na quarta-feira (22) parte do plano de trabalho. O documento mostra que a Kroll propôs à Cemig levantar informações pessoais sobre funcionários da Cemig e de seus familiares e também instalar um programa espião nos computadores corporativos dos trabalhadores para monitorá-los em tempo real.

As ações do plano de trabalho da Kroll dizem respeito aos “custodiantes”. Isso significa que qualquer funcionário da Cemig que esteja em posse de informações que possam ser relevantes para a investigação independente promovida pela Kroll sobre denúncias de corrupção na Cemig podem ter a vida pessoal investigada, e não apenas os suspeitos ou investigados.

A Kroll propôs levantar informações de familiares dos funcionários até o 2º grau, saber se eles têm dívidas, estão em dia com a Receita Federal e se são filiados a partidos políticos ou fizeram doações eleitorais, entre outros pontos.

O requerimento, de autoria dos deputados Professor Cleiton (PSB) e Beatriz Cerqueira (PT), também pede uma lista dos funcionários considerados “custodiantes” pela investigação da Kroll.

O vice-presidente da CPI, deputado Professor Cleiton (PSB), disse durante a reunião que após a publicação da reportagem, recebeu mensagens de funcionários da Cemig disseram que estão com medo de trabalharem na empresa..

Ele destacou o que classificou como “silêncio ensurdecedor de quem está no governo”. “Nós esperávamos uma resposta da Cemig dizendo: ‘foi oferecido [esse serviço], mas nós não concordamos. Não, a Companhia está mais preocupada em dizer: ‘nossa, vazou, o Ministério Público precisa ser acionado porque vazaram dados sigilosos de um contrato”, criticou Professor Cleiton.

O presidente da CPI, Cássio Soares (PSD), também comentou a reportagem e a preocupação da Cemig com o vazamento das informações e não com as práticas propostas pela Kroll. “[A postura da Cemig é] Descobriram nossas mazelas, vamos descobrir quem denunciou nossas mazelas. É praticamente isso”, afirmou.

A deputada Beatriz Cerqueira (PT) criticou o plano de trabalho da Kroll apresentado à Cemig. "Agente invísivel nas máquinas corporativas, conexões familiares, levantamento de cargos políticos, filiação partidária, contratos com entidades públicas e doações políticas. Eu vou traduzir o que é isso: é característica de polícia política. É uma polícia política de modo que você incute o medo e é pelo medo que você faz a gestão", afirmou a parlamentar.

Em nota, a Kroll disse que "todos os serviços prestados à Cemig são lícitos e representam as melhores práticas para investigações anticorrupção, recomendadas tanto em âmbito nacional, quanto internacionalmente".

"A coleta forense de dados e as atividades de background check são mecanismos de identificação e mapeamento de risco em caso de suspeita de atos de corrupção, e o processamento dos dados é estritamente vinculado aos fins estipulados pela investigação interna em andamento. A Kroll esclarece que a investigação corre em sigilo", informou a empresa.

A Cemig foi procurada por email para se posicionar sobre as falas dos deputados, mas ainda não respondeu. Esta matéria será atualizada quando o fizerem.

A Cemig disse, na quarta-feira (22), que contratou a Kroll para realizar uma investigação independente após ter sido comunicada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) sobre suspeitas de corrupção na área de compras.

Segundo a Cemig, a Kroll tem autorização para captar informações em equipamentos que pertencem à companhia.

"Isso [a autorização concedida à Kroll] foi feito em computadores e celulares corporativos utilizados por investigados e custodiantes. Todas as informações captadas buscam o esclarecimento das denúncias e o avanço das investigações, que serão compartilhadas com o MPMG", informou a Cemig em nota na quarta-feira (22).

A Cemig disse também que vai apresentar uma notícia de fato ao MPMG para apuração do que classificou como "vazamento ilegal" a O TEMPO.

"A Cemig esclarece ainda que a investigação corre em sigilo, assim como os documentos que a compõem. Dada a gravidade do vazamento ilegal da informação, a Cemig encaminhará notícia do fato ao MPMG, assim como adotará providências para apuração de responsabilidade pelo ato", disse a estatal mineira.

Matéria atualizada às 20h58 para incluir posicionamento da Kroll

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