BRASÍLIA - O relatório da Polícia Federal (PF) sobre a investigação contra Jair Bolsonaro (PL) e o filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP) aponta ex-presidente recebeu, em um ano, mais de R$ 30,5 milhões. Aproximadamente o mesmo valor também foi retirado de suas contas.
As informações fazem parte do Relatório de Inteligência Financeira (RIF) elaborado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) com base em dados enviados pelo Banco do Brasil.
O pedido foi feito pela Polícia Federal no inquérito que apura a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos. Os investigadores também identificaram o repasse de recursos substanciais de Jair Bolsonaro para Eduardo, "de forma reiterada e fracionada, como forma de evitar o acionamento de mecanismos de controle legal".
No relatório, a PF destaca o grande volume de transações em dinheiro físico e afirma que as movimentações feitas pelo ex-presidente estão sob a suspeita de serem "ocorrências de lavagem de dinheiro e outros ilícitos".
"Entre 14.01.2025 a 11.07.2025, o investigado realizou 40 transações, entre saques em caixas eletrônicos (ATM) e atendimento presencial em guichê bancário. No total, foram contabilizados R$ 130.800,00", diz o documento.
"Não se ignora a eventual necessidade do ex-presidente em realizar despesas de pequeno vulto, sobretudo durante deslocamentos e viagens realizadas ao longo de agendas públicas. Entretanto, o grande volume de transações em dinheiro físico é indício relevante no contexto probatório, considerando os riscos associados à falta de rastreabilidade e a possibilidade de financiamento de ações de caráter ilícito".
Movimentações de mais de R$ 30,5 milhões
De acordo com as informações que constam no relatório da PF, de março de 2023 a fevereiro de 2024, Bolsonaro recebeu R$ 30.576.801,36 em suas contas. Enquanto, R$ 30.595.430,71 foram retirados.
Dos valores que entraram nas contas do ex-presidente no período:
- R$ 19,2 milhões são oriundos de 1,2 milhão de transações via Pix
- R$ 8,7 milhões têm origem em 52 resgates de CDB/RDB
- R$ 1,3 milhões são de três operações de câmbio
- R$ 373,3 mil de proventos
- R$ 304 mil de 203 transferências
- R$ 166 mil de 12 resgates de aplicação
- R$ 99.687,49 de uma previdência privada
Há ainda recursos oriundos de transferências do tipo DOC/TED, depósitos em cheque, depósitos online, entre outras.
O PL, partido ao qual Bolsonaro é filiado e no qual ocupa o cargo de presidente de honra, é o principal depositante de valores na conta do presidente (R$ 291 mil).
Já entre os valores que saíram das contas de Bolsonaro, estão:
R$ 18,3 milhões em seis aplicações em CDB/RDB
R$ 7,5 milhões em quatro transferências DOC/TED
R$ 1,5 milhão em 107 pagamentos de títulos, que podem ser boletos
R$ 1,1 milhão em 266 operações via PIX
R$ 749 mil em transferência para previdência privada
R$ 198 mil em 97 saques
R$ 52 mil no pagamento de 20 tributos/impostos
R$ 25 mil em três operações de câmbio
R$ 13 mil em contas de energia
R$ 13 mil em contas de telefone
As movimentações incluem gastos com compras, cartão de crédito, conta de água, entre outros. Entre os principais beneficiários de valores pagos por Bolsonaro, estão o advogado Paulo Cunha Bueno (R$ 3,3 milhões), o escritório de advocacia DB Tesser (R$ 3,3 milhões), uma empresa de engenharia (R$ 900 mil), um escritório de arquitetura (R$ 235 mil), uma loja de veículos (R$ 130 mil).
Há também transferências para Michelle Bolsonaro e para o filho Jair Renan, que atualmente é vereador em Balneário Camboriú (SC).
O relatório da PF também reúne outras informações sobre movimentações feitas por Bolsonaro em outros períodos.
Entre fevereiro de 2024 e agosto de 2025, R$ 1.733.079,19 ingressou nas contas do ex-presidente; e R$ 1.345.311,79 saiu. Dos valores debitados, estão transferências para advogados, Fabio Wajngarten e para os filhos Carlos e Eduardo Bolsonaro.
Procurada pelo jornal O Tempo, a defesa não se manifestou.
O ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro foram indiciados, na quarta-feira (20/8), pela Polícia Federal, por suspeitas de coação e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Jair Bolsonaro cumpre prisão domiciliar, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), alegando que o ex-presidente descumpriu medidas cautelares impostas a ele. A decisão do magistrado incluiu a apreensão de celulares de Bolsonaro e proibição do uso de redes sociais.