Subvalorização

Codemig pode valer até 3 vezes mais que o estimado pelo Estado

Especialistas questionam preço de R$ 20 bilhões da estatal, que foi oferecida à União nas negociações do RRF.

Por Clarisse Souza
Publicado em 20 de novembro de 2023 | 06:00
 
 
 
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Cogitada como moeda de troca para tentar amortizar parte da dívida pública de R$ 156,7 bilhões que o Estado mantém com a União, a Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemig) pode valer muito mais do que o governo Zema calcula. Enquanto o Executivo estadual propõe que ela seja repassada à União por algo em torno de R$ 20 bilhões, especialistas avaliam que a estatal pode custar até três vezes mais. Para se ter uma ideia, somente o lucro líquido da empresa ultrapassa US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,4 bilhão) por ano.

Dedicada exclusivamente à exploração de nióbio, a Codemig voltou ao centro das discussões sobre a dívida pública em outubro, quando deputados estaduais propuseram que ela fosse federalizada como alternativa para reduzir o débito sem precisar aderir ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). Até então, Zema vinha defendendo a privatização da empresa.

Pressionado pelos parlamentares, o governo de Minas consultou o Ministério da Fazenda sobre a federalização, mas a pasta ainda analisa a proposta. Segundo nota do Estado divulgada na ocasião, o negócio poderia “gerar receitas acima de R$ 20 bilhões, que poderá ser utilizada no estoque da dívida”. No entanto, para Marco Antonio Castello Branco – que foi presidente da Codemig entre 2015 e 2018 –, o governo subestima o valor da empresa. Defensor da federalização, o empresário calcula que a estatal poderia ser repassada por R$ 40 bilhões, o que abateria cerca 25% da dívida de Minas. 

“A Codemig é uma empresa extremamente rentável. Por isso, se o governo federal a comprar, ele estará fazendo um bom negócio. Não é um ativo podre que gera despesa, é exatamente o contrário. É um ativo excelente, que gera receita”, diz Castello Branco ao afirmar que a companhia lucra cerca de US$ 300 milhões por ano.

O potencial da estatal faz com que o economista e membro do Conselho Regional de Economia (Corecon-MG) Gelton Pinto Coelho vá além da estimativa de preço da Codemig. “A valoração da empresa está muito abaixo do que é praticado no mercado. (Federalizar) a Codemig por um valor abaixo de R$ 60 bilhões é muito pouco tendo em vista as possibilidades futuras dela”, considera o especialista. 

Modelo único dificulta precificação

O gerente acadêmico do Ibmec, Eduardo Coutinho, comenta que a divergência em relação ao valor da Codemig é explicada pelo fato de que não há no mercado outras empresas que operem nos mesmos moldes da estatal para serem usadas como base de comparação. “O que permeia esse tipo de ativo é a expectativa de geração de resultados futuros, o quanto se espera que essa empresa seja capaz de gerar de fluxo de caixa. É uma avaliação objetiva”, esclarece o professor.
 
Segundo Coutinho, para avaliar uma empresa, é preciso fazer também a análise das receitas com a venda dos produtos, os custos dos investimentos e as dívidas. “Quando faço isso, estou avaliando a demanda pelo produto, o preço pelo qual vou vender, o custo dos empregados, dos tributos, dos insumos. Isso explica as divergências. Se dez analistas avaliarem, eles vão partir de premissas que podem ser divergentes. É por isso que se chega a valores diferentes”, pondera o especialista.

Sem resposta

A reportagem de O TEMPO solicitou à Codemig entrevista com um porta-voz para explicar detalhes sobre o valor de mercado da companhia, o faturamento da empresa, o volume de exportações nos últimos meses e as tratativas em prol da federalização da estatal. No entanto, mesmo após tentativas de contato por e-mail e telefone, a companhia não havia se manifestado. A reportagem também encaminhou os mesmos questionamentos à assessoria de imprensa do governo de Minas Gerais, proprietário da Codemig, mas este também não respondeu às perguntas. O espaço segue aberto e a reportagem será atualizada caso haja alguma manifestação.

Codemig x Codemge

Até 2018, a Codemig era responsável por vários projetos de fomento ao desenvolvimento do Estado. Depois disso, as atividades foram assumidas pela Codemge, e a Codemig passou a se dedicar ao nióbio.

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