Em uma sessão bastante tumultuada, acabou suspensa ontem por falta de quórum na Câmara Municipal de Belo Horizonte a votação do projeto de lei que prevê o fim gradativo do transporte por tração animal e humana na capital.

No momento mais tenso da reunião, o vereador Jair di Gregório (PP) – favorável à aprovação do texto – arrancou o microfone de Bella Gonçalves (PSOL), que pedia a retirada do projeto de pauta. Na confusão, o parlamentar acabou acertando o microfone de raspão no rosto da colega. Após o incidente, iniciou-se uma discussão entre o próprio di Gregório e Pedro Bueno (Podemos) – também contrário à proposição.

Questionado sobre o ocorrido, o vereador do PP afirmou que não houve confusão. “Na verdade, o Pedro (Bueno) estava me empurrando e acabei esbarrando o microfone na Bella, mas pedi desculpas na mesma hora. Eu e Bellinha, a gente não briga mais”, afirmou.

Já Bella esclareceu que pedia a retirada do projeto enquanto di Gregório recorria do pedido. “Foi quando ele puxou o microfone e me atingiu, mas entendi que não era a intenção e já foi tudo resolvido. Porém, é bom frisar que o espaço público ainda é difícil para as mulheres. O espaço do microfone é muito disputado pelos homens, que ficam em volta e agem, muitas das vezes, de forma violenta”, ressaltou. 

Assista ao vídeo da confusão:

Outros vereadores também trocaram acusações e levantaram suspeitas sobre os interesses por trás do projeto. Foi o caso de Gilson Reis (PCdoB), que insinuou que a aprovação do texto atenderia a demandas de empresários do ramo das caçambas em Belo Horizonte – que poderiam se beneficiar com o fim da categoria. “Me parece que o que está por trás disso é um esquema empresarial de caçambas, que querem eliminar os carroceiros para poder assumir um trabalho que é executado a vida toda por essas pessoas”, disse.

Votação

O Projeto de Lei 142/2017, de autoria do hoje deputado estadual Osvaldo Lopes (PSD), era o único na pauta de votações da Câmara Municipal ontem. 

A sessão foi aberta por Jair di Gregório com a exibição de um vídeo que destacava imagens de cavalos vítimas de maus tratos. “Sou a favor do projeto por entender que o massacre aos animais é muito grande e Belo Horizonte não pode continuar assassinando animais”, defendeu o parlamentar do PP.

Ainda de acordo com di Gregório, a proposta prevê que, em um período de dez anos, os profissionais sejam capacitados para substituir o trabalho que hoje é feito por carroças para motocicletas. 

Já Pedro Bueno alega que a proposição prejudicará aproximadamente cinco mil famílias na capital mineira. “Essa proposta é mentirosa, porque fala da possibilidade de transformar as carroças em cavalos de lata ou moto-caçambas, mas não existe nenhuma fonte de financiamento. Na verdade, o que ele vai promover com esse projeto é o desemprego de cinco mil trabalhadores e, por consequência, a morte ou o abandono de aproximadamente sete mil animais”, prevê o vereador. 

A sessão foi acompanhada por dezenas de carroceiros, que ocuparam as galerias da Casa em defesa da profissão. A categoria é contra o projeto e se organiza para realizar uma passeata até a Câmara hoje, quando o projeto volta à pauta.