BRASÍLIA — Horas depois da operação da Polícia Federal (PF), que investiga a participação do chefe de gabinete do deputado Afonso Motta (PDT-RS) em uma negociata para pagamento propina sobre emendas, o político chegou a Brasília para uma reunião com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB).
O político do PDT ainda não conversou com o chefe de gabinete, Lino Furtado, alvo da ação da PF, mas declarou que crê na inocência do servidor — afastado do cargo por determinação do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Eu não acredito [no envolvimento do Lino]. Claro que a gente sempre precisa trabalhar com uma reserva no sentido de ter uma avaliação completa”, declarou após a reunião com Hugo Motta. “Estou preocupado com o fato de que é inadmissível uma circunstância como essa que, de certa forma, atinge meu mandato”, acrescentou.
Afonso Motta informou que avalia a demissão de Lino Furtado, mas, declarou que esperará o avanço das investigações para decidir sobre o desligamento do servidor. “Não tive ainda a oportunidade de conversar com ele no meu retorno à Câmara dos Deputados”, disse o político, que estava no Rio Grande do Sul quando a operação aconteceu. “Vou conversar com ele, mas, ele está afastado por determinação judicial”, completou.
Citado no relatório da Polícia Federal entregue ao STF, o deputado Afonso Motta não foi alvo da operação. O apartamento cedido a ele pela Câmara dos Deputados, entretanto, sofreu buscar nesta manhã de quinta-feira — o endereço é indicado como moradia de Lino Furtado em Brasília.
A conversa com Hugo Motta durou cerca de uma hora, e o deputado avaliou bem o encontro. “Tivemos a oportunidade de falar sobre a ocorrência que determinou o afastamento de meu secretário de gabinete. Ele manifestou solidariedade”, disse.
A operação
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino deu aval à operação da Polícia Federal (PF), que, na manhã de quinta-feira (13), mirou a atuação do chefe de gabinete do deputado Afonso Motta (PDT-RS), Lino Furtado, em um escândalo de desvio de dinheiro público.
O inquérito indica que o funcionário público agiu para desviar parte das emendas destinadas pelo deputado ao Hospital Ana Nery, na cidade de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul.
A Polícia Federal nomeou a operação com o apelido EmendaFest, em referência à suspeita de uso das emendas parlamentares para pagamento de propina no Rio Grande do Sul. Os crimes investigados são desvio de recursos públicos e corrupção ativa e passiva.
O ministro Flávio Dino permitiu o cumprimento de 11 mandados de busca e apreensão e dois de busca pessoal e determinou os afastamentos de Lino Rogério e de outro investigado que ocupa cargo público. As ações aconteceram em Brasília e em cinco cidades gaúchas — Estrela, Rosário do Sul, Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires e Lajeado.
Investigados
O deputado Afonso Motta é citado na investigação pela participação do chefe no conluio. Entretanto, as emendas indicadas por ele é que entraram na mira da Polícia Federal. Sete pessoas são investigadas, segundo relatório da Polícia Federal entregue ao Supremo Tribunal Federal.
Dois personagens têm protagonismo na negociata. O primeiro é Lino Furtado; o segundo, o lobista Cliver Fiegenbaum — também funcionário público, que ocupou a diretoria da Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional do Rio Grande do Sul.
Como aconteciam os desvios?
O inquérito da Polícia Federal indicam que Lino Rogério recebeu 6% do valor das emendas indicadas pelo deputado Afonso Motta para o Hospital Ana Nery, no Rio Grande do Sul. A propina era paga a título de contrapartida pela captação de recursos — significa que ele recebia uma comissão para garantir a liberação do dinheiro público para a unidade de saúde.
O repasse constava em um contrato de prestação de serviços obtido pela PF. “Em contrapartida aos serviços prestados, o contratado receberá 6% (seis por cento) sobre o valor por ele comprovadamente captado, que serão pagos em até 30 dias após o recebimento do valor pela contratante, através de depósito bancário”, impõe a terceira cláusula do documento.
Dinheiro em espécie e celulares escondidos
Agentes encontraram R$ 350 mil em espécie durante a operação desta quinta-feira — parte do valor encontrado estava em endereço ligado a Lino Rogério. Ainda no cumprimento dos mandados, a PF também recolheu celulares escondidos sob o forro de gesso em um dos escritórios visitados durante a ação.