BRASÍLIA Réu em ação penal por golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu, nesta quarta-feira (26), que o Projeto de Lei (PL) para anistiar os presos pelos atos do 8 de janeiro e por episódios semelhantes pode não obter apoio unânime na bancada do próprio partido na Câmara dos Deputados. “Espero que não, mas, até o PL eu tenho dúvida de algumas pessoas que não queiram votar pela anistia por outros interesses”, disse.

A declaração aconteceu no início da noite, horas depois do Supremo Tribunal Federal (STF) acolher a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e sete de seus aliados mais próximos. Eles são apontados por um inquérito da Polícia Federal (PF) como responsáveis pelo núcleo 1, o núcleo crucial para planejamento de uma tentativa de golpe de Estado.

O Partido Liberal encarnou em Bolsonaro a figura do PL da Anistia, e é ele quem tem estreitado o contato com os presidentes dos partidos do Centrão à caça de apoio para a proposta. Gilberto Kassab, do PSD, Antonio de Rueda, do União Brasil e Marcos Pereira, do Republicanos, já foram procurados por Bolsonaro.

Nas últimas semanas, o PL intensificou as conversas para tentar avançar com o projeto na Câmara; o partido tem pleiteado junto às lideranças a aprovação de um requerimento de urgência que mande a proposta direto à votação no plenário. Bolsonaro defende abertamente que a anistia sugerida seja “ampla e irrestrita”, algo que não é consensual mesmo entre os apoiadores da proposição.

Bolsonaro contraria orientação de advogado

Após passar o dia no gabinete do filho, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ex-presidente deixou o Senado Federal pelo estacionamento do Anexo I. À tarde, após o acolhimento da denúncia, o ex-presidente concedeu uma longa declaração à imprensa e até prometeu que responderia às perguntas dos repórteres quando encerrasse.

Entretanto, diante dos olhos do advogado Paulo Cunha Bueno, optou por concluir a declaração sem as respostas. Flávio, inclusive, interviu antes que o pai começasse: “os advogados orientaram”, disse justificando que ele não responderia. 

Depois de quase uma hora de declaração repetindo críticas recorrentes à denúncia da PGR e à celeridade do processo, Bolsonaro retornou ao gabinete de Flávio Bolsonaro, e neste início de noite desceu novamente ao estacionamento do Senado Federal e, longe de Paulo Cunha Bueno, optou por responder às perguntas. 

Ele decidiu contrariar a orientação dos advogados que o defendem na ação penal e, em uma segunda manifestação à imprensa nesta quarta-feira (26) à tarde, respondeu às perguntas dos repórteres sobre o processo contra ele.

Em suas respostas, Bolsonaro tornou a rejeitar a possibilidade de apoiar alguém, que não ele próprio, para concorrer à eleição presidencial. Também criticou a prisão do general Braga Netto e o julgamento da deputada Carla Zambelli (PL-SP), ré no Supremo Tribunal Federal (STF) por perseguir um homem com arma em punho na véspera do último pleito presidencial.