BRASÍLIA — A cinco horas de completar seis dias em greve de fome, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) inspira preocupação na equipe médica que o monitora desde a última quarta-feira (9), quando iniciou o jejum de alimentos contra a cassação de seu mandato — aprovada na ocasião pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Há cinco dias, Glauber permanece recolhido no plenário 5, onde os membros do colegiado votaram pela cassação de seu mandato.

Nesse período, ministros de Estado estiveram com ele: Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação), Cida Gonçalves (Mulheres), Macaé Evaristo (Direitos Humanos), Rui Costa (Casa Civil) e Márcio Macêdo (Secretaria Geral). Nesta segunda-feira (14), o defensor público-geral federal Leonardo Magalhães também esteve com o parlamentar ameaçado de cassação. 

A perspectiva, entretanto, é que as visitas sejam reduzidas nos próximos dias para atender à orientação da equipe médica. "A preocupação com as condições de saúde do parlamentar aumenta a cada hora, visto que Glauber já começou a apresentar sinais de fraqueza. A fim de evitar cansaço, as visitas estão mais restritas", informou a nota da equipe do deputado do PSOL nesta segunda-feira à noite.

Apoiadores de Glauber chegaram a organizar uma roda de samba na entrada do Anexo II da Câmara dos Deputados, próximo ao plenário 5. Entretanto, os médicos vetaram a participação dele. "Por orientações médicas, Glauber não irá ao local, mas pode ouvir de dentro do plenário o som que está sendo feito em solidariedade ao seu mandato", detalhou a assessoria.

Nos bastidores, o líder da bancada do PT, deputado Lindbergh Farias (RJ), tenta costurar um acordo para pôr fim à greve de fome de Glauber. Existe um temor de que o parlamentar acabe isolado nos próximos dias dado o funcionamento precário da Câmara, que não terá sessões presenciais até, pelo menos, 22 de abril.

Aliados de Glauber argumentam que o deputado é alvo de perseguição política coordenada pelo ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com quem ele colecionou divergências e brigas nos últimos anos. O deputado do PSOL acusou o alagoano de operar o orçamento secreto para beneficiar seus aliados.

A bancada do PSOL também avalia que a punição sugerida pelo Conselho de Ética é desproporcional à medida que ele seu mandato é ameaçado de cassação — assim como o de Chiquinho Brazão (Sem Partido), réu pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) em 2018. Glauber é alvo de processo por ter agredido um militante do Movimento Brasil Livre (MBL) no ano passado; a cassação de um deputado por um episódio de agressão seria algo inédito na Câmara.