BRASÍLIA - Às vésperas do tarifaço, senadores brasileiros em missão nos Estados Unidos avaliam que é chegada a hora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ligar para o norte-americano Donald Trump e abrir o diálogo direto entre os países. A senadora Tereza Cristina (PP-MS), membro da delegação, avaliou que os presidentes precisam discutir a aplicação das sobretaxas nos produtos brasileiros importados para os Estados Unidos e o impacto da medida trumpista ao empresariado dos dois países.
"O presidente Lula deveria ligar, sim, para o presidente Trump. Aliás, já passou da hora. O Brasil não pode ser refém do populismo e da vaidade de quem governa", publicou em uma rede social nesta segunda-feira (28/7). Antes, o senador Carlos Viana (Podemos-MG), que também compõem a comitiva, disse que a ligação entre os presidentes "está na mesa de negociação".
A quatro dias do início do tarifaço sobre o Brasil, os senadores têm agenda de reuniões nos Estados Unidos. Nesta segunda, eles estiveram na embaixada do Brasil em Washington e também se reuniram com o empresariado norte-americano na Câmara de Comércio. A perspectiva é que os parlamentares brasileiros se encontrem com políticos do partido Republicano, legenda à qual é filiado Donald Trump, para discutir a imposição das tarifas. A comitiva brasileira pretende, pelo menos, aliviar as tensões entre os países para abrir caminho para o diálogo entre os Executivos de Brasil e Estados Unidos.
O presidente Lula optou por não se envolver diretamente com as negociações e terceirizou a tarefa para o vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro de Indústria, Comércio e Serviços.
O que os senadores brasileiros querem nos Estados Unidos?
Os oito senadores que compõem a delegação são de partidos diferentes e entre eles estão nomes da oposição, como Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), e da base. Nesse pólo se destacam o líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), e o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA). Fecham o grupo a líder da missão, Tereza Cristina (PP-MS), e os senadores Carlos Viana (Podemos-MG), Fernando Farias (MDB-AL) e Esperidião Amin (PP-SC).
A composição do grupo pretende atribuir à delegação um caráter suprapartidário, e a participação de aliados diretos do Palácio do Planalto reforça o papel institucional da missão. A comitiva aposta em conversas com representantes da Câmara de Comércio dos Estados Unidos e parlamentares norte-americanos para melhorar o clima entre os países.
Pela manhã, os senadores estiveram com a a embaixadora Maria Luiza Viotti e o diplomata Roberto Azêvedo, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Os compromissos seguem até quarta-feira (30/7), quando há previsão de um balanço da viagem oficial aos Estados Unidos. O tarifaço é o foco da missão.
A sobretaxa de 50% imposta por Donald Trump ao Brasil entrará em vigor na sexta-feira, sem possibilidade de carência ou prorrogação, segundo o governo dos Estados Unidos. Trump justificou a sanção citando a ação por golpe de Estado que tem Jair Bolsonaro (PL) como réu no Supremo Tribunal Federal (STF).
Para autoridades brasileiras, há tentativa de interferência de Trump na Justiça brasileira. A sanção, porém, chegou a ser defendida por alas da oposição, inclusive alinhadas ao deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos EUA e declarou que o fim do tarifaço está condicionado à aprovação da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023.
Pelo menos 30 setores da economia brasileira que direcionam pelo menos 25% de suas exportações os EUA devem ser atingidos com a nova tarifa. É o caso de tratores e máquinas agrícolas (previsão de queda estimada de 23,6% nas exportações e retração de 1,86% na produção), aeronaves (recuo de 22,3% nas exportações e redução de 9,2% na produção) e carnes e aves (11,3% de queda nas exportações e impacto de 4,2% na produção nacional).
Dados da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) estimam perdas de até R$ 175 bilhões nos próximos 10 anos pelas tarifas unilaterais dos Estados Unidos. A cifra representa uma redução a longo prazo de 1,49% do Produto Interno Bruto (PIB).