BRASÍLIA - A delegação de senadores brasileiros nos Estados Unidos começou a missão oficial nesta segunda-feira (28) com a proposta de distensionar as relações entre o governo Donald Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Pela manhã, os oito parlamentares estiveram reunidos com representantes da embaixada brasileira, e há uma preocupação em aliviar as tensões entre os países para facilitar uma negociação que, pelo menos, adie o início da cobrança das sobretaxas que serão aplicadas aos produtos brasileiros nos Estados Unidos.

"O intuito principal é distensionar essa relação entre Brasil e Estados Unidos com nossa contraparte parlamentar", afirmou Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado. "Se conquistarmos, a missão terá seu primeiro ponto no sentido de proporcionar ambiente e caminho para quem tem a prerrogativa de negociar, que não somos nós, e, sim, o governo federal", acrescentou.

Os oito senadores que compõem a delegação são de partidos diferentes e, entre eles, estão nomes da oposição, como o Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), e da base como o líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), e o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA). Fecham o grupo, a líder da missão, Tereza Cristina (PP-MS), e os senadores Carlos Viana (Podemos-MG), Fernando Farias (MDB-AL) e Esperidião Amin (PP-SC). 

A composição do grupo pretendia atribuir à delegação um caráter suprapartidário, e a participação de aliados diretos do Palácio do Planalto reforça o papel institucional da missão. Trad, aliás, insiste que o grupo não interferirá nas competências do governo Lula (PT) nesse ambiente de negociação.

A comitiva aposta em conversas com representantes da Câmara de Comércio dos Estados Unidos e parlamentares norte-americanos para melhorar o clima entre os países.

Nesta terça-feira (29/7), o grupo se reunirá com, pelo menos, seis políticos do Congresso dos Estados Unidos. "Essa reunião está marcada para amanhã. Temos seis parlamentares confirmados, e, com a proximidade da reunião, alguns outros estão entrando em contato conosco", explicou Trad na saída da embaixada brasileira.

A reunião pela manhã ocorreu na presença da embaixadora Maria Luiza Viotti e do diplomata Roberto Azêvedo, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Os compromissos seguem até quarta-feira (30/7), quando há previsão de um balanço da viagem oficial aos Estados Unidos. O tarifaço é o foco da missão.

A sobretaxa de 50% imposta por Donald Trump ao Brasil entrará em vigor na sexta-feira (1º/8), sem possibilidade de carência ou prorrogação, segundo o governo dos Estados Unidos. Trump justificou a sanção citando a ação por golpe de Estado que tem Jair Bolsonaro (PL) como réu no Supremo Tribunal Federal (STF).

Para autoridades brasileiras, há tentativa de interferência de Trump na Justiça brasileira. A sanção, porém, chegou a ser defendida por alas da oposição, inclusive alinhadas ao deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos EUA e declarou que o fim do tarifaço está condicionado à aprovação da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. 

Pelo menos 30 setores da economia brasileira que direcionam pelo menos 25% de suas exportações os EUA devem ser atingidos com a nova tarifa. É o caso de tratores e máquinas agrícolas (previsão de queda estimada de 23,6% nas exportações e retração de 1,86% na produção), aeronaves (recuo de 22,3% nas exportações e redução de 9,2% na produção) e carnes e aves (11,3% de queda nas exportações e impacto de 4,2% na produção nacional). 

Dados da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) estimam perdas de até R$ 175 bilhões nos próximos 10 anos pelas tarifas unilaterais dos Estados Unidos. A cifra representa uma redução a longo prazo de 1,49% do Produto Interno Bruto (PIB).