BRASÍLIA - Presa na Itália nesta terça-feira (29/7), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) protagonizou discussões, acumulou processos e multas por desinformação e danos morais e rompeu com aliados — rachas que resultaram em seu isolamento nos meses que antecederam a fuga para Estados Unidos e Itália.

O elo com a direita e a posição antipetista alçaram Zambelli ao estrelato político na esteira das manifestações pró-impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).

Popular nas redes sociais, ela mergulhou em atos pelo fim da corrupção e em apoio à Operação Lava Jato — que também garantiu mandato, anos depois, ao hoje senador Sergio Moro (União Brasil-PR).

O estilo combativo, o potencial viral de seus conteúdos e sua presença marcante nas redes conduziram Zambelli para o núcleo duro de Jair Bolsonaro (PL) antes da eleição que o coroou com a presidência da República.

Foi ainda naquele 2018 que, munida de discurso ideológico, ela se tornou deputada federal por São Paulo. A reeleição veio mais fácil ainda — perto da marca de um milhão de votos, ela se tornou a segunda deputada mais votada do estado naquele pleito, perdendo apenas para Guilherme Boulos (PSOL-SP).

O primeiro mandato reforçou o protagonismo de Carla Zambelli entre os aliados do eleito Jair Bolsonaro. O primeiro grande racha de sua trajetória política aconteceu no início, quando ela rompeu com Joice Hasselmann (PSL-SP).

Forte no núcleo com seus mais de um milhão de votos recebidos em 2018, Hasselmann foi encarregada da articulação política de Bolsonaro na Câmara dos Deputados; mas, perdeu a posição ao tecer críticas às posições do então presidente. A derrocada de Joice foi publicamente festejada por Zambelli, e ali começaram ataques mútuos entre elas.

O auge deles ocorreu em sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que se debruçava sobre as fake news. Com olhos postos na adversária, Joice Hasselmann disse a ela, durante sessão pública, que Bolsonaro um dia a questionou se Zambelli trabalhou como "prostituta na Espanha".

O episódio rendeu à deputada Carla Zambelli o apelido jocoso de "espanhola". O rumor virou assunto corriqueiro e se tornou arma contra a parlamentar; após uma discussão, o senador Omar Aziz (PSD-AM) compartilhou a música "Espanhola" de Flávio Venturini em suas redes sociais com indiretas dirigidas à deputada.

Bate-bocas com petistas e outros parlamentares de esquerda também compuseram o cardápio da deputada em seus mandatos. Entre os mais recentes, consta uma briga com o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), hoje líder do partido na Câmara.

O petista a provocou citando o episódio em que Zambelli perseguiu um homem com arma em punho em São Paulo e a chamou de "terrorista"; a deputada devolveu, mencionando, ainda, o apelido de Lindbergh na lista do "departamento de propina" da Odebrecht — o deputado era o "Lindinho".

"Esse pessoal da esquerda não consegue honrar o que tem no meio das pernas", disparou Zambelli para o petista. 

A deputada brigou ainda com o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do partido e ministro-chefe da Casa Civil de Jair Bolsonaro. Chamada de "louca" por ele em publicação nas redes sociais, Zambelli disse que Ciro Nogueira era "duas caras" e o classificou como "o pior ministro do governo Bolsonaro".

Os processos também marcam a trajetória pública de Carla Zambelli. O primeiro deles resultou em uma multa de R$ 40 mil, aplicada em 2018, quando o grupo Brasil nas Ruas, presidido por ela, publicou mentiras que diziam que o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) era pedófilo.

A deputada Manuela D'Ávila (PCdoB-RS) também processou Zambelli por uma montagem. Consta ainda no rol de condenações da deputada do PL multas aplicadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por disseminar mentiras sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sobre a segurança do sistema eleitoral brasileiro.

As polêmicas também extrapolaram a atuação como deputada e alcançaram a esfera criminal. Uma delas rendeu a condenação a 10 anos de prisão determinada pelo Supremo Tribunal Federal. A Corte concluiu que Carla Zambelli e o hacker Walter Delgatti Neto invadiram os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inseriram documentos mentirosos — um deles era um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes assinado pelo próprio.

O episódio que selou o isolamento da deputada também implicou em processo no STF. Na véspera da última eleição presidencial, Carla Zambelli perseguiu um apoiador do então candidato Lula com arma em punho. A cena ocorreu no bairro Jardins, área nobre de São Paulo.

Hoje, a Corte tem maioria para condená-la — o processo está travado com o ministro Kássio Nunes Marques, que pediu vista e ainda não o devolveu para a pauta de julgamentos. Nos bastidores, aliados de Jair Bolsonaro sempre entenderam o ocorrido como determinante para a derrota para Lula naquele pleito. Aos microfones, Bolsonaro culpou Zambelli pelo fracasso.

Zambelli, antes tão cercada por aliados, começou a circular só pelos corredores da Câmara dos Deputados. Quando condenada à prisão em junho, nenhum deputado apareceu a seu lado na declaração à imprensa. O abandono público é, ainda, anterior. Ela chegou só com a perna imobilizada no púlpito do Salão Verde da Câmara para se manifestar sobre a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra ela, em abril de 2024, pela invasão do site do CNJ.