BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), não escondeu a irritação com a pressão das redes sociais e o uso de inteligência artificial em ataques dirigidos a ele durante reunião com o colégio de líderes nesta terça-feira (8).

A ofensiva do Palácio do Planalto e a aplicação das narrativas do 'nós contra eles' e 'ricos contra pobres' também têm gerado insatisfação no presidente. Ainda que ele não tenha expressado o incômodo com declarações, os relatos de quem participou da reunião explicitam o aborrecimento de Hugo.

A batalha digital entre o Congresso Nacional e a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhou corpo com a operação dos parlamentares para derrubar o decreto que ajustava as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

O Planalto dobrou a aposta recorrendo à proposta que amplia a isenção do Imposto de Renda (IR) e amplificando as críticas à matéria do Congresso para aumentar o número de deputados — projeto, aliás, que não deverá receber sanção do presidente Lula.

O clima ruim reforçou as posições divergentes de oposição e base. Governistas propuseram que Hugo Motta retomasse o debate de regulação das redes e da inteligência artificial no âmbito da Câmara dos Deputados.

Ainda que a IA seja tratada em uma comissão especial, a regulação é uma discussão morta. O antigo presidente, Arthur Lira (PP-AL), chegou a despachá-la para um grupo de trabalho que elaboraria uma versão final do texto e o submeteria à votação no plenário. Os deputados indicados para o grupo nunca se encontraram.

Um dos patrocinadores da ideia de retomar a discussão é o líder do PDT, deputado Mário Heringer (MG). Após a reunião, o líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), rejeitou as acusações de que o Planalto teria patrocinado ataques digitais contra o presidente da Câmara.

"Quem fez escola nesse país e montou a maior rede de ilegalidades contra a democracia foi a direita liderada pelo ex-presidente [Jair Bolsonaro, do PL]. Portanto, dissemos para eles que eles têm pouca autoridade para se sentirem vítimas", afirmou.

"Em segundo lugar, o governo não patrocinou e não encaminhou qualquer gasto oficial sobre essas mentiras", completou. Guimarães disse também que não há guerra contra o Congresso e que manifestou solidariedade a Hugo Motta. "Deixo claro que tanto eu quanto a ministra Gleisi somos contrários a qualquer estratégia de responsabilizar o Congresso", acrescentou.

A oposição, entretanto, adotou uma postura combativa em relação ao Planalto e mirou diretamente no ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira.

O líder da oposição, deputado Zucco (PL-RS), protocolou requerimentos de informação contra Sidônio e ainda dirigidos ao ministro das Comunicações, Frederico Siqueira. Ele quer explicações sobre o suposto uso de verbas públicas para ataques dirigidos ao Congresso e para promoção pessoal do presidente Lula.

"Queremos saber sobre essa multidão de gastos públicos em torno do ataque à democracia e à Câmara, inclusive na pessoa do presidente Hugo Motta. Fica aqui nosso desagravo. Queremos respostas e falaremos com o ministro mais importante do governo, Sidônio Palmeira, para explicar os possíveis gastos públicos nesse ataque contra a Câmara", declarou Zucco.

O líder disse que o Congresso tem sofrido ataques "covardes" nas redes sociais, mas, rejeitou a possibilidade de retomar a discussão sobre regulação das redes.

O incômodo com uso de inteligência artificial e ataques em série nas redes também acomete figuras do governo. A campanha contra o ajuste das alíquotas do IOF gerou irritação no ministro Fernando Haddad, que, nesta terça-feira, disse ao portal Metrópoles que não era "razoável" o "inferno" feito contra o IOF.

"Não é razoável que 1% da população faça esse inferno na internet dizendo que estamos colocando o 'nós contra eles'. Nós quem? 99% contra 1%", disparou.