BRASÍLIA - O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou ao pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que eles não teriam mais “ajuda” do governo dos Estados Unidos caso não fosse aprovada uma anistia ampla e irrestrita, como reivindica a oposição no Congresso Nacional.

O diálogo faz parte das conversas por mensagens, entre pai e filho, utilizadas pela Polícia Federal (PF) para embasar o relatório que indicia ambos por suspeitas de tentar obstruir o inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) da suposta trama golpista.

"Se a anistia light passar, a última ajuda vinda dos EUA terá sido o post do Trump. Eles não irão mais ajudar. [...] Temos que decidir entre ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia OU enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num semiaberto", escreveu Eduardo a Jair.

A “anistia light” citada pelo deputado é um projeto alternativo à anistia irrestrita ao 8 de janeiro e que é defendido por diferentes setores do Congresso, com o aval dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Essa versão do texto se resume a reduzir penas de pessoas que não tiveram um papel central nos atos. A proposta é rejeitada por bolsonaristas.

Eduardo e Jair indiciados

Na quarta-feira, os dois foram indiciados por suspeita de coação e obstrução do julgamento da suposta trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF). Em nota, Eduardo Bolsonaro criticou a PF por "vazamentos de conversas pessoais".

Caberá agora ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, avaliar o relatório da PF para decidir se denunciará ou não Bolsonaro e Eduardo. Por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, os autos já foram encaminhados à Procuradoria-Geral da República (PGR), responsável por pedir a instauração do inquérito.

Parte do relatório da PF é amparada em diálogos entre o ex-presidente e Eduardo por WhatsApp. Em um deles, ocorrido em julho, o deputado chegou a afirmar que ambos teriam que decidir entre “ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia ou enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num [regime] semiaberto”.

De acordo com a PF, a conversa, dias antes de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar a sobretaxa de 50% às exportações brasileiras, evidenciaria que “a real intenção dos investigados não seria uma anistia para os condenados pelos atos golpistas realizados no dia 8 de janeiro de 2023, mas, sim, interesses pessoais” do ex-presidente atrás de “impunidade”. 

Para a PF, o deputado, assim, teria confirmado “sua ação consciente e voluntária” junto à Casa Branca por medidas contra o Brasil com a “finalidade de coagir autoridades brasileiras, em especial ministros do STF que atuam nas ações penais que apuram a tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de direito”.

A PF ainda citou que, no dia seguinte ao anúncio da sobretaxa de 50%, após duas chamadas de vídeo, Eduardo cobrou o pai para agradecer Trump em um “tweet vaselina”. “E, novamente, [Eduardo] ratifica a sua atuação criminosa para coagir autoridades brasileiras”, defendeu a instituição, acrescentando que o filho ainda se autointitulou como o responsável pela tarifa ao dizer “fizemos a nossa parte”.

Após cobrar o aceno a Trump, Eduardo criticou o pai, que, segundo ele, seria o “maior empecilho” para ajudá-lo. “Você não vai ter tempo de reverter se o cara daqui virar as costas para você. Aqui é tudo muito melindroso. [...] Na situação de hoje, você nem precisa se preocupar com cadeia, você não será preso, mas tenho receio que por aqui as coisas mudem”, disse o deputado federal.

Logo depois, Bolsonaro encaminhou uma nota a Eduardo para que fosse publicada nas redes sociais do ex-presidente. Nela, Bolsonaro frisou o “respeito” e a “admiração” pelo governo dos EUA. “Conheço a firmeza e a coragem de Donald Trump na defesa desses princípios (liberdade de expressão, de imprensa, de consciência e de participação política)”, acrescentou.