Investigação

E-mail de militar registra que Bolsonaro recebeu saco de pedras preciosas em MG

Mensagens de militares da Presidência sugerem que ex-presidente e Michelle receberam envelope e caixa com pedras preciosas em Teófilo Otoni (MG), no ano passado

Por O Tempo Brasília
Publicado em 03 de agosto de 2023 | 14:28
 
 
 

Mensagens trocadas por militares vinculados à Presidência da República sugerem que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) receberam um envelope e uma caixa com supostas pedras preciosas em Teófilo Otoni (MG), no ano passado. A troca de e-mails indica também que os presentes não teriam sido cadastrados oficialmente.

Bolsonaro esteve em Teófilo Otoni em 26 de outubro do ano passado, durante o segundo turno da campanha eleitoral vencida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Naquela data, o então presidente discursou em um comício, ao lado do pastor Silas Malafaia e do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).

Reportagem publicada pelo Estadão nesta quinta-feira (3) mostra cópia de dois e-mails trocados pelos primeiros-tenentes do Exército Adriano Alves Teperino e Osmar Crivelatti e pelo segundo-tenente da Força Cleiton Henrique Holzschuk. Os três foram ajudantes de ordem da Presidência no governo Bolsonaro. 

Crivelatti era braço direito do tenente-coronel Mauro Cid, preso desde maio por inserção de dados falsos de vacinação da Covid-19 no sistema do Ministério da Saúde. Atualmente, Crivelatti é um dos assessores pessoais de Bolsonaro. O militar entregou à Polícia Federal as armas que o ex-presidente recebeu dos Emirados Árabes Unidos com o advogado Paulo Cunha, que representa Bolsonaro. As mensagens foram obtidas pela CPMI do 8 de Janeiro na caixa de e-mails deletados do militar, que não havia apagado os itens deste canal.

Orientação para entregar pedras preciosas na mão de Mauro Cid

Uma mensagem de e-mail enviada em 27 de outubro de 2022 por Holzschuk, que era coordenador administrativo da Ajudância de Ordens da Presidência da República, mostra a orientação dada a um ex-funcionário do Palácio do Planalto para que pedras preciosas presenteadas a Jair Bolsonaro fossem “entregues em mão” ao então ajudante de ordens Mauro Cid. 

“Em 27/10/2022, foi guardado no cofre grande, 01(um) envelope contendo pedras preciosas para o PR (presidente da República) e 01 9 (uma) caixa de pedras preciosas para a PD (primeira-dama), recebidas em Teófilo Otoni em 26/10/2022. A pedido do TC Cid, as pedras não devem ser cadastradas e devem ser entregues em mão para ele. Demais dúvidas, Sgt Furriel está ciente do assunto”, indica o e-mail.

Já um e-mail enviado às 18h58 de 31 de outubro é assinado por Osmar Crivelatti. Nesta mensagem, as “pedras preciosas” são tratadas no item 24 da “passagem de serviço”, o que indica que outros afazeres que constavam da lista já haviam sido finalizados.

A existência de um dos e-mails foi revelada pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), durante sessão da CPMI do 8 de janeiro na última terça-feira (1º). A parlamentar declarou que que havia obtido a informação sobre as “pedras preciosas” após análise de “mil e-mails” que haviam chegado à comissão. “Essas pedras nunca foram registradas nem como presente ao presidente da República e à primeira-dama nem em lugar nenhum”, afirmou Feghali.

A deputada requereu a convocação de Osmar Crivelatti e de Cleiton Holzschuk, que assinam as mensagens. Feghali disse que vai denunciar o caso ao Tribunal de Contas da União (TCU), ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Polícia Federal.

Bolsonaro recebeu mais de 19 mil itens quando era presidente

Bolsonaro recebeu mais de 19 mil itens enquanto esteve na Presidência da República. A lista oficial de presentes recebidos por ele indica que, em Teófilo Otoni, o então presidente ganhou uma placa do Sindicato Rural da cidade, um quadro e o livro “Cinco minutos com Jesus”, de apoiadores, e um item de consumo da Indústria e Comércio Mate Cola LTDA.

O procedimento de praxe para presentes recebidos por qualquer presidente da República começa com um cadastro. Os bens ficam sob responsabilidade da Diretoria de Documentação Histórica, que faz parte do gabinete da Presidência. O órgão analisa o que vai para o acervo pessoal do presidente e o que deve ser incorporado ao patrimônio da União – e só o que vai para esse segundo grupo tem seu valor avaliado. A listagem não tem o valor dos bens.

Ex-presidente entregou joias após reportagem revelar existência delas

Como o Estadão revelou em março, o governo Bolsonaro tentou entrar ilegalmente no Brasil, em 2021, com um conjunto de colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes da marca Chopard, de valor milionário. Segundo declarações iniciais, tratava-se supostamente de um presente do governo da Arábia Saudita para o então presidente e para a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

O tenente da Marinha Marcos André Soeiro, ex-assessor de Bento Albuquerque, almirante de esquadra da Marinha que atuava como ministro de Minas e Energia, foi o responsável por tentar entrar com as joias no País, apreendidas no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. (Com Estadão Conteúdo)

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