Saúde

Maioria dos PLs na Câmara dos Deputados querem restringir aborto

De 2021 até agosto de 2022, são 15 de 19 os projetos que são contrários ao procedimento

Por Gabriela Oliva
Publicado em 15 de agosto de 2022 | 18:00
 
 
 
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Dos 19 projetos de lei (PLs) sobre aborto que tiveram alguma movimentação na Câmara dos Deputados entre janeiro de 2021 e agosto de 2022, apenas 4 defendem o direito à interrupção da gravidez. O levantamento foi feito pelo portal O TEMPO. Outras 15 buscam ampliar as restrições à prática.

Ao contrário de países da América Latina, como Colômbia e Chile, que descriminalizaram a prática, atualmente, no Brasil, o procedimento é autorizado em 3 casos: gestação decorrente de estupro, caso de anencefalia do feto e quando a gravidez pode apresentar um risco à vida materna. 

A pesquisadora de gênero e política e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Hannah Marucci, doutoranda em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) analisa que o tema do aborto no ambiente legislativo é “espinhoso”, mas necessário para falar dos direitos reprodutivos das mulheres. 

“Parece que quando a gente fala de direito reprodutivo, de sexualidade, a gente está falando só de aborto como se o procedimento fosse uma coisa que toda mulher quisesse fazer. Ignoramos que ele é um direito corporal, mas não necessariamente um desejo.São situações extremas, mas que existem e precisam ser consideradas. Ignorar  não vai fazer elas não existirem”, disse. 

A deputada federal Chris Tonietto (PL-RJ), condenada no último mês pela 24ª Vara Federal do Rio de Janeiro por postagem discriminatória contra pessoas LGBTQIANP+ no Facebook, é uma das porta-vozes anti-aborto no Congresso Nacional. Ela é contrária ao procedimento em todos casos.

Tonietto é uma das defensoras do Projeto de Lei 478/2007, que cria o Estatuto do Nascituro. O PL, após passar pela Comissão dos Direitos da Mulher (CMULHER), será objeto de deliberação pelo plenário da Câmara, e posteriormente será remetido ao Senado Federal para apreciação.

“É uma proposta importante, pois, por meio desse projeto, restarão reafirmados os direitos fundamentais à vida e à proteção integral ao nascituro, definido como indivíduo já concebido, mas ainda não nascido”, declarou.

Ainda segundo análise da deputada, o Poder Legislativo e Executivo tem refletido a bandeira anti-aborto. Avalia de forma contrária o Judiciário, afirmando que existe “crescente ativismo judicial com o fito de avançar pautas” favoráveis ao procedimento.

“A nossa luta não se resume a aprovar pautas prioritárias, mas engloba também o ato de frear e rejeitar propostas nocivas à sociedade”, declarou.

De forma contrária, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL) se manifesta favorável ao aborto. Ela é uma das 4 autoral do PL 4297/2020, trata da criação de zona de proteção no entorno dos estabelecimentos de saúde que prestam o serviço de aborto legal l e serviços que prestam atendimento especializado a mulheres vítimas de violência sexual.

“Acredito que haja mais projetos no sentido de endurecer a atual criminalização do aborto do que de avançar nesse direito. Infelizmente isso tem a ver com a atual composição Câmara, que é muito conservadora”, disse à reportagem.

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