A corrida pela Prefeitura de Juiz de Fora, na Zona da Mata, perdeu um pré-candidato nesta semana, com a desistência do atual prefeito, Antônio Almas (PSDB), mas segue movimentada – com pelo menos nove concorrentes – e agora com indefinição sobre a posição dos tucanos na disputa. 

Na quarta-feira, o prefeito Antônio Almas (PSDB) anunciou que desistiu de concorrer à reeleição. Ele foi eleito vice-prefeito em 2016 e assumiu a gestão em 2018, quando o então prefeito Bruno Siqueira, do MDB, deixou o cargo para se candidatar a deputado. 

“Estamos enfrentando o vírus da Covid-19, o que é muito grave do ponto de vista sanitário, e temos desafio enorme do ponto de vista econômico para a cidade. Nada disso me tiraria da discussão política e do compromisso com a cidade. Porém, a virulência das redes sociais me levou ao limite”, relatou.

A saída de Almas já no período de pré-campanha altera o cenário. Não tanto pela sua competitividade já que, segundo pesquisa realizada no município no mês passado, o prefeito aparecia com apenas 5,75% das intenções de votos. Mas, porque revela uma mudança de paradigma na disputa.

“Raramente, em uma eleição de Juiz de Fora, o PMDB ou o PSDB não têm uma candidatura competitiva”, destacou o cientista político Paulo Roberto Figueira Leal. 
Nas últimas quatro eleições, ou o MDB ou o PSDB chegaram ao segundo turno na cidade, sendo nos últimos três pleitos (2016, 2012 e 2008) contra o PT.

No entanto, atualmente, o pré-candidato do MDB, Juiz José Armando, tem menos de 1% das intenções de votos e o PSDB ainda não tem definição se terá ou não candidato.

Um dos nomes mais fortes que aparecem na corrida, conforme já apontado em pesquisas anteriores, é o da deputada estadual delegada Sheila (PSL). Ela foi a vereadora mais votada em Juiz de Fora em 2016, com 9.921 votos, e dois anos depois, foi eleita deputada estadual, onde figurou entre os 15 candidatos mais bem votados da eleição.

A deputada, porém, ainda não confirma a possível candidatura e não respondeu às perguntas sobre a campanha juizforense. “Não me coloquei como pré candidata ainda. Vou definir até a data da das convenções”, informou por meio de uma mensagem.

Outros dois nomes que aparecem tecnicamente empatados nas pesquisas e que também foram candidatos a prefeito em 2016 são do empresário Wilson da Rezato (PSB) e da deputada federal Margarida Salomão (PT).

Na eleição passada, Margarida teve 22,3% dos votos no primeiro turno, e disputou o segundo turno com Bruno Siqueira, onde perdeu com 42,13%. Já Rezato recebeu 16,82% dos votos no primeiro turno e ficou em quarto lugar.

Margarida está em seu terceiro mandato na Câmara dos Deputados e, antes disso, foi secretária municipal de administração e governo da prefeitura de Juiz de Fora e reitora da Universidade Federal da cidade. “Juiz de Fora está precisando de uma forte sacudida. Nós estamos com muitos problemas”, destacou.

Já Rezato será candidato em uma coligação com o Democratas, o PL e outros dois partidos que, segundo ele, já estão definidos, mas cujo anúncio ainda deve ser feito nos próximos dias. O vice em sua chapa será o ex-comandante da PM em Juiz de Fora, coronel Alexandre Nocelli (DEM). 

Entre as “diretrizes do plano de ações” de Rezato para Juiz de Fora estão melhorias na área da segurança e, principalmente, a reconstrução da “administração pública da cidade”.

“É a maior missão inicial porque infelizmente os últimos anos foram muito ruins”, disse o socialista, que também é dono de uma construtora na cidade.

Também constam como pré-candidatos à prefeitura de Delegada Ione Barbosa (Republicanos), Pastor Aloísio (PTC), Renato Loures da Santa Casa (Progressista), Delegado Cláudio Nogueira (PSC) e Eduardo Lucas (DC).

Bolsonaristas podem dividir votos

Além da Delegada Sheila (PSL), que se elegeu deputada pelo mesmo partido que Jair Bolsonaro, outro pré-candidato pode disputar com ela os votos bolsonaristas no município: o ex-presidente da Santa Casa de Juiz de Fora, Renato Loures (PP). Ele se licenciou do cargo no dia 4 de junho para sair candidato à prefeitura da cidade. 

Loures se tornou amigo pessoal do presidente da República, após ter sido um dos responsáveis por salvar a vida de Bolsonaro no episódio da facada durante a campanha eleitoral de 2018.

Nas últimas pesquisas, ele apareceu com menos de 2% das intenções de voto, mas atribui o resultado ao desconhecimento sobre sua pré-candidatura. “Sou bem avaliado como gestor, e bem avaliado como médico, mas a população ainda não tem conhecimento dessa candidatura à prefeito. Por isso, um número ainda baixo nas pesquisas”, disse. 

Questionado sobre um possível apoio do presidente, Loures afirmou que espera isso, uma vez que sua candidatura foi estimulada pelo próprio Bolsonaro.

“Desde 2019, Bolsonaro nos colocou e nos incentivou a ser candidatos. Então, acreditamos no apoio do governo à nossa candidatura. Por esse motivo, e também pelo fato de o presidente ter rompido com o PSL, Loures não acredita que dispute votos bolsonaristas com Delegada Sheila. 

Loures também se disse muito próximo do mandatário e, após a facada, afirma ter estado com ele em outras duas ocasiões, uma antes de Bolsonaro assumir e outra após a posse.

“Temos um bom relacionamento”, disse. Perguntado se mantém conversas frequentes com o presidente, Loures afirma que ultimamente mantém mais contato com os filhos. “Tenho conversado mais com os filhos dele, esse ano inclusive já estive com Eduardo Bolsonaro”.

O ex-presidente da Santa Casa seria candidato a prefeito de Juiz de Fora pelo Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tenta criar desde o ano passado. No entanto, como a legenda não se viabilizou a tempo das eleições municipais, ele se filiou ao Progressistas (PP). “É um partido hoje que faz parte da base do governo [do presidente]”. A legenda ainda costura alianças para a disputa na cidade, mas Loures não quis adiantar.

Apesar da proximidade do pré-candidato com o presidente, em entrevista anterior ao jornal O Tempo, a deputada Delegada Sheila disse que isso não a preocupava.

“Eu não tenho essa preocupação de estar ou não disputando votos com o pré-candidato Renato Loures, ex-presidente da Santa Casa. O Renato é muito sério, fez um bom trabalho na Santa Casa e eu tenho admiração pela pessoa dele. E, apesar de ter sido eleita pelo mesmo partido do presidente Jair Bolsonaro em 2018, meu público é muito diversificado”.