As discussões acaloradas que tomam conta da Câmara de Belo Horizonte desde o dia 11 de setembro, em decorrência do projeto Escola sem Partido, devem culminar em mais um pedido cassação por quebra de decoro parlamentar. O vereador Jair di Gregório (PP) disse ontem que deve representar contra Bella Gonçalves (PSOL), após ela tê-lo questionado na sessão de anteontem ao ter a palavra interrompida enquanto ele presidia o colegiado.
“Ela extravasou de uma maneira raivosa, foi pra cima, todo mundo viu o vídeo. O vídeo, por si só, já mostra o destempero da vereadora do PSOL”, disse.
Di Gregório afirmou que houve um encontro da Mesa Diretora da Casa na tarde de ontem e que um dos assuntos discutidos foi a representação contra a vereadora. “Vamos apresentar ao corregedor um pedido de quebra de decoro, e essa Casa vai julgar se vai para frente ou não”, declarou.
Anteontem, enquanto discutia um dos vários requerimentos que obstruem o Escola sem Partido, Bella Gonçalves teve o microfone desligado por Di Gregório. Ela correu na direção do presidente da sessão e tentou falar ao microfone dele, alegando não ser regimental a atitude do parlamentar. O vídeo foi compartilhado nas redes sociais.
Em entrevista à reportagem de O TEMPO antes da sessão de ontem, Bella disse que o pedido a ser apresentado não a preocupa. “Não existe materialidade. A sessão teve um equívoco grotesco e pode, inclusive, ser impugnada na Justiça. Não fiz nada além de questionar a violação do regimento. Diante da atitude autoritária, eu fui questioná-lo, e ele disse que era um atitude descontrolada. Acho irônico, porque estou (na Câmara) há nove meses e já vi de tudo aqui: vereador se agredindo, usando gesto obsceno, ameaçando uns aos outros. Isso não ganha tanta repercussão quanto uma mulher, de forma aguerrida, fazer defesa das escolas contra um projeto antidemocrático e questionar, de forma legítima, a violação do regimento”, argumentou.
O corregedor da Câmara Municipal, Bim da Ambulância (PSDB), disse que, quando receber o pedido, vai ouvir as testemunhas a favor de Jair di Gregório, a própria vereadora e as possíveis testemunhas indicadas por ela. Na sequência, ele enviará o seu parecer para o plenário decidir se abre ou não o processo de cassação.
Escola sem Partido emperrado
Na sessão de ontem, a Câmara chegou à sexta reunião plenária com o Escola sem Partido em pauta, mas sem votação. A bancada da esquerda, que vem realizando obstruções desde quando a proposta foi colocada em discussão, afirma que só vai interromper a manobra quando o texto for retirado, o que a Frente Parlamentar Cristã rejeita de todas as formas.
O vereador Wesley Autoescola (PRP), presidente da bancada religiosa, prevê que o projeto só será apreciado na quinta-feira que vem, um dia antes do término das sessões de outubro. Ontem, Gilson Reis (PCdoB) disse que já há “mais de 50 horas de discussão” sobre o projeto.