As reuniões semanais entre o governador Romeu Zema (Novo) e os secretários de governo, usadas para tomadas de decisões e rumos para o Estado, têm contado com a presença de pessoas que não têm vínculo formal com o Executivo. Na última quarta-feira, por exemplo, o próprio governador postou um vídeo numa rede social onde aparecem, na reunião interna, o presidente da sigla em Minas, Bernardo Santos, e o deputado estadual Bartô (Novo). Outros parlamentares da legenda já participaram de encontros anteriores.
A iniciativa tem gerado conflitos internos e pode ter consequências ainda mais graves para Romeu Zema. Interlocutores ouvidos pela reportagem de O TEMPO relatam mal-estar entre secretários e deputados pelo fato de os “visitantes” participarem das reuniões opinando, sugerindo e até criticando decisões dos funcionários de primeiro escalão.
Além disso, para o professor de direito público e ex-controlador adjunto do município de São Paulo, Daniel Lamonier a prática pode ter consequências legais. “Existe um risco. A princípio não é uma irregularidade, mas se (os visitantes) passam a tomar parte de decisões estratégicas do governo, pode haver conflito de interesse. Isso é uma irregularidade séria, que pode ser entendida até como improbidade administrativa. Ele (Zema) está numa zona de risco”, disse.
Os correligionários do Novo não entendem dessa maneira. Tanto Bartô quanto Bernardo Santos, participantes do último encontro, não só confirmam a presença, como explicam os motivos. “Estamos como um time. Participamos para dar essa opinião filosófica, se pode agregar em alguma ideia dos secretários, e vamos para discutir, porque se o partido não tiver voz nesses momentos, as ações vão para o caminho errado. E já estiveram lá outros deputados (além dos do Novo), como o presidente da Casa (Agostinho Patrus, do PV) e o Luiz Humberto (do PSDB e líder do governo). Acredito que o governador está com vontade de levar outros”, disse Santos. “Acho que isso é forçar a barra (haver improbidade). Não vejo nada nesse sentido. Acredito que o governo é muito aberto ao diálogo com todos os deputados, e todo corpo de secretariado os recebe a todo momento”, resumiu Bartô.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o governo afirmou que a ideia é aproximar os Poderes, e que por isso abre “as reuniões de trabalho entre o governador e o secretariado para a participação de parlamentares da base”. “Já estiveram na reunião deputados de outras legendas. Eventualmente, representantes do partido do governador acompanham tais encontros no intuito de contribuir com sugestões”, diz trecho da nota.
De fora
Outros deputados procurados pela reportagem estranharam a informação. Cássio Soares (PSD) membro do bloco Liberdade e Progresso, mostrou descontentamento ao saber que são convidados os considerados aliados. “Dessa forma, eles estão considerando o bloco Liberdade e Progresso um não aliado do governo, o que não considero. Acho que o bloco é aliado do povo mineiro, e se o governador tem intenção de praticar boas políticas para a população mineira, ele deveria considerar o bloco como aliado”, resumiu. Ele ainda citou que esse tipo de privilégio pode gerar outros problemas, inclusive relacionados à aprovação de projetos futuros.
Já Alencar da Silveira Júnior (PDT) foi irônico ao comentar a situação. “Os deputados dele (do Novo) estão aprendendo com os secretários. Estão trocando ideia. De repente, tinha que convidar mais deputados para eles aprenderem direitinho como se faz desenvolvimento. Nos seis últimos meses, não aprenderam nada, vão começar a aprender agora”, disparou.