Os funcionários da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) sinalizaram ontem que vão votar, no próximo dia 23, a favor de uma greve para cobrar diálogo com representantes do governo de Minas. A categoria quer debater ações que poderão prejudicar a saúde no Estado. O estopim para o alerta de paralisação foi um estudo realizado pela Secretaria de Estado de Planejamento (Seplag) para cortar uma ajuda de custo a título de vale-alimentação, que chega a R$ 1.300 por mês. Os funcionários recebem esse benefício desde 2017.
A insatisfação cresceu também após a declaração do secretário da Saúde, Carlos Eduardo Amaral Pereira da Silva, anteontem, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Durante questionamentos de deputados, no evento Assembleia Fiscaliza, Silva defendeu a terceirização para serviços nos hospitais, medida que o funcionalismo é contrário.
A reportagem de O TEMPO apurou que funcionários foram ouvidos em diversos hospitais sobre como votarão na assembleia marcada para o dia 23 deste mês. A resposta em favor da greve foi quase unânime. “Muitos se reuniram ontem (anteontem) e colocaram esse quadro (favorável à greve) para a gente. A tendência dos funcionários é aderir à greve”, disse uma pessoa próxima do movimento dos servidores.
A assembleia está prevista para ocorrer no Med Center, no bairro Santa Efigênia, na região Leste de Belo Horizonte, a partir das 14h. Na reunião a Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais (Asthemg) levará cinco assuntos para os servidores debaterem. São eles: corte na ajuda de custo, demissão de duplos vínculos, sucateamento dos serviços, terceirização e aumento de carga horária. Eles cobrarão também aumento salarial.
No dia 3 deste mês, O TEMPO mostrou que havia possibilidade de greve na área da saúde no Estado. Um dos pontos de insatisfação dos servidores era um estudo do governo para aumentar um plantão por mês. Em um ano, seriam 12 plantões a mais. O problema, segundo funcionários, é que o Estado não fez a indicação de reajustar os vencimentos. “Um dos pontos mais graves é a terceirização. E o governo ainda não sinalizou nada sobre a nossa pauta”, disse o presidente da Asthemg, Carlos Augusto Martins.
Processo
Caso os funcionários decida-se pela greve, a data também será definida na assembleia. De acordo com Martins, para a paralisação não cair na ilegalidade – com possibilidade de a Justiça determinar o retorno dos servidores –, o movimento pode começar em novembro. “Deliberando pela greve, a assembleia define qual é a data de início. Normalmente o prazo é de 15 a 20 dias, para mobilizar os comandos e fazer escalas”, disse Martins.
Piora
Servidores da saúde vão usar a terceirização na saúde de São Paulo para pedir que não ocorra em Minas. Para eles, o serviço ficou mais precário no Estado vizinho.
Reunião
O Sindicato dos Servidores da Saúde de Minas Gerais (Sind-Saúde-MG) também vai realizar uma assembleia com servidores estaduais da saúde no dia 21 deste mês.
Reajustes
Em uma reunião ontem com o governo, representantes do sindicato informaram que os servidores estão sem reajuste desde 2011. A categoria quer um parecer do governo sobre como e quando as perdas salariais serão repostas.
Isonomia
A categoria de servidores da saúde quer uma resposta imediata do governo e usa como exemplo o tratamento dado por Romeu Zema ao setor da segurança pública. No mês passado, o Estado reconheceu mais de 28% de perdas salariais aos funcionários da segurança pública. Após um protesto na Cidade Administrativa, o governo abriu negociação no mesmo dia para atender bombeiros, policiais e agentes penitenciários.
Posicionamento
A reportagem procurou a Fundação Hospital do Estado de Minas Gerais (Fhemig), que afirmou ter participado de uma reunião ontem, na Cidade Administrativa, para tratar do assunto, com o setor responsável pelas relações sindicais. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Fhemig afirmou que não pode avaliar a possível greve e que a fundação fará uma assembleia para ouvir as demandas dos servidores da área da saúde.
“Os informes serão repassados pelo sindicato em uma assembleia. Apenas após essa reunião teremos informações sobre as deliberações do sindicato e se algumas demandas podem ser acatadas pela Fhemig”, diz a nota.
A fundação também afirmou na resposta que mantém diálogo com representantes de sindicatos, sem se negar a atender nenhum líder da categoria. “A Fhemig tem recebido sempre os representantes dos sindicatos e associações para ouvir as reivindicações e manter o diálogo aberto”, afirmou.
A assessoria de imprensa da fundação disse também estar tratando da pauta do funcionalismo com o Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde (Sind-Saúde-MG) e com o governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag), mas não citou a Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais (Asthemg), que faz movimentação pela greve dos servidores.
Na justificativa da Fhemig, o diálogo entre Sind-Saúde-MG e governo ocorreu “por se tratar de reivindicações de todos os servidores da saúde, ou seja, não somente os funcionários da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais”.