Às vésperas da Cúpula de Líderes do G20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lembrou o ativismo da ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (1979-2018) e criticou o déficit de financiamento urbano para conter a “urbanização desordenada” em cidades da Ásia, da África e da América Latina. As declarações foram dadas neste domingo (17), no Rio de Janeiro (RJ), durante a abertura do Urban20, fórum de prefeitos do G20.

Ao citar que ¼ da população global vive em assentamentos urbanos, Lula recordou que, a dez quilômetros do evento, está a favela da Maré, berço de Marielle, que, acrescenta ele, foi assassinada “por sua luta pelo direito à cidade e pelos direitos humanos”. “No Brasil, as mulheres negras são maioria nesses assentamentos. Seus filhos são as maiores vítimas da desigualdade e da violência urbana”, disse o presidente.

Lula, que atribuiu à violência urbana a perda de um número de vidas “semelhante ao das guerras mais violentas”, defendeu a proposta de Emenda à Constituição (PEC) para criar o Sistema Unificado da Segurança Pública, que é criticada por governadores. “Por essa razão, tenho defendido um novo pacto federativo, com o envolvimento de todos os poderes, para colocar a segurança pública como prioridade nacional e manter nossa juventude viva”, pontuou ele.

O presidente da República ainda pediu que o combate às ações climáticas seja utilizado como uma ferramenta para uma agenda urbana mais ampla de inclusão e injustiça. “Esses mesmos centros urbanos estão desproporcionalmente expostos às consequências das mudanças climáticas, à subida do nível dos oceanos, às ondas de calor, à insegurança hídrica e a enchentes avassaladoras, como as que vimos recentemente no Sul do Brasil, na Colômbia e na Espanha”, exemplificou.

Lula, então, alertou que as cidades do Sul Global não podem ser negligenciadas durante o financiamento da transição climática. “Apenas uma parcela dos recursos necessários chega aos países em desenvolvimento e uma parte ainda menor alcança nossas metrópoles. Existe um déficit no financiamento urbano, que não consegue acompanhar o ritmo da urbanização desordenada em muitas partes do mundo, como a África, a Ásia e a América Latina”, criticou.

Ao defender uma reforma da governança global, o presidente da República voltou a questionar Israel. “A Faixa de Gaza, um dos mais antigos assentamentos urbanos da humanidade, teve dois terços de seu território destruídos por bombardeios indiscriminados. Oitenta por cento de suas instalações de saúde já não existem mais. Sob seus escombros jazem mais de 40 mil vidas ceifadas. Não haverá paz nas cidades se não houver paz no mundo”, concluiu Lula.