BRASÍLIA - A queda do sigilo do inquérito da Polícia Federal (PF) que indicia Jair Bolsonaro (PL) e 36 aliados dele por uma trama golpista revela a participação de cada personagem na articulação elaborada para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a partir de um golpe contra a democracia.
O centro da quadrilha golpista, segundo a investigação, é Jair Bolsonaro. Ele e seus aliados cometeram os crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.
O inquérito chegou às mãos do procurador-geral da República, Paulo Gonet Branco, nesta terça-feira (26) e ele decidirá o futuro do grupo indiciado — se essas pessoas serão denunciadas ao Supremo Tribunal Federal (STF), se o inquérito será arquivado ou se serão necessárias mais investigações.
A Polícia Federal constatou que as ações da quadrilha eram distribuídas em seis núcleos de atuação. As frentes miravam estratégias para fragilizar a democracia brasileira e facilitar o golpe; eram elas:
- Núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral.
- Núcleo responsável por incitar militar a aderirem ao golpe de Estado.
- Núcleo jurídico.
- Núcleo operacional de apoio às ações golpistas.
- Núcleo de inteligência paralela.
- Núcleo operacional para cumprimento de medidas coercitivas.
Confira a seguir quem são os principais personagens da trama golpista, segundo indica a investigação da Polícia Federal.
Jair Bolsonaro é a ligação entre os núcleos e os outros indiciados, segundo identificou a Polícia Federal. Investigadores concluíram que ele sabia de toda a articulação para dar o golpe de Estado: da operação para matar o recém-eleito Lula e o ministro Alexandre de Moraes à "minuta do golpe", um decreto que previa a ruptura institucional.
O inquérito constatou que Bolsonaro se reuniu com os comandantes das Forças Armadas e os pressionou a aderir ao decreto. A proposta não encontrou aprovação dos comandantes do Exército e da Força Aérea Brasileira, apenas do almirante da Marinha.
O segundo elemento nessa trama é Walter Braga Netto. Ele concorreu à eleição presidencial como vice na chapa de Bolsonaro que tentava a reeleição. Antes, foi ministro da Defesa e da Casa Civil na gestão bolsonarista. Braga Netto é uma das peças-centrais na dita operação Punhal Verde e Amarelo — ação para matar Lula, Alexandre de Moraes e o vice eleito Geraldo Alckmin. As ações criminosas foram planejadas em novembro, após a derrota eleitoral, no apartamento funcional ocupado por Braga Netto.
O general também ordenou ataques pessoais ao comandante do Exército, Freire Gomes, e o brigadeiro Baptista Júnior — que não aderiram à intentona golpista de Bolsonaro.
Outra figura neste quebra-cabeça é Alexandre Ramagem. Ele era diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo Bolsonaro; hoje é deputado federal do PL eleito pelo Rio de Janeiro. Ramagem era o líder de um grupo paralelo à Abin e que usava os instrumentos da agência de forma ilegal nessa articulação do golpe. Trata-se da "Abin Paralela". A equipe chefiada por Alexandre Ramagem disseminou informações falsas sobre as eleições e sobre ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e também monitorou o ministro Alexandre de Moraes para prendê-lo e matá-lo se o golpe acontecesse.
A investigação não para aí, e houve a constatação de que os investigados e o núcleo da Abin Paralela atuaram de forma coordenada com os responsáveis pela tentativa de explosão de um caminhão-tanque perto do Aeroporto de Brasília. Eles também participaram da tentativa de invasão do edifício da PF em dezembro, após as eleições.
O presidente do partido de Bolsonaro, Valdemar Costa Neto, é ainda um ponto de concentração da investigação. Ele sabia que eram mentirosas as informações repassadas por Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas. O intuito de distribuir esses dados era incentivar a população a reagir contra o resultado das eleições. "Valdemar da Costa Neto não apenas tinha ciência da elaboração do relatório com dados falsos sobre as urnas eletrônicas, mas também foi um dos responsáveis, juntamente com Jair Bolsonaro, por tomar a decisão de divulgar o conteúdo falso", afirma o relatório.
As participações de Mauro Cid e Mário Fernandes também são indispensáveis nessa trama golpista, conforme avaliou a Polícia Federal. O ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, é uma figura que aparece desde o início da investigação. Ele atuou como o braço-direito de Bolsonaro, o elo entre ele e oficiais do Exército e com todos os núcleos que participaram ativamente dessa articulação.
A atuação de Mário Fernandes veio a público mais recentemente, na última terça-feira (19), quando a Polícia Federal o prendeu durante a operação Contragolpe. O general do Exército era o líder do núcleo que articulou a prisão de Moraes e os assassinatos de Lula e Alckmin.