BRASÍLIA. O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, se reuniu com o chanceler da Vanezuela, Yván Gil, para tratar das eleições no país vizinho que acontecem neste domingo (28). O encontro foi na noite de sexta-feira (26).
Amorim foi enviado à capital Caracas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um momento em que a relação diplomática entre Brasil e Venezuela está estremecida por conta da reação do petista a falas do atual presidente Nicolás Maduro.
A reunião foi registrada por Gil no X (antigo Twitter): "Durante um encontro cordial, discutimos a relevância destas eleições e o clima de paz que existe na Venezuela, a impecável organização do processo por parte do nosso Poder Eleitoral; um dos mais transparentes e seguros do mundo”.
“Aproveitamos a oportunidade para discutir os grandes desafios de transmitir informações verdadeiras baseadas no respeito absoluto à legislação venezuelana”, concluiu o chanceler venezuelano.
Amorim chegou a Caracas na sexta-feira. Interlocutores informaram à reportagem de O TEMPO Brasília que o assessor especial pretende se encontrar com Maduro e com o candidato de oposição, Edmundo González, que tem vantagem segundo as pesquisas de intenção de voto.
O objetivo é reforçar o posicionamento do Brasil a favor da democracia e de eleições transparentes. Neste sábado (27), Amorim deve se reunir com representantes da oposição.
Em meio a um pleito polarizado, Nicolás Maduro, no poder há 11 anos, busca a sua terceira reeleição. Do lado da oposição, Edmundo González disputa as eleições presidenciais pela primeira vez. Diplomata, González foi escolhido após María Yoris e Corina Yoris, líderes da oposição, serem impedidas de se candidatar por conta de indícios de perseguição política e fraudes pela Justiça venezuelana.
Em um comício em 17de julho, Maduro declarou que pode haver um "banho de sangue" e uma "guerra civil fraticida" caso ele não vença as eleições. “O destino da Venezuela no século 21 depende de nossa vitória em 28 de julho. Se não quiserem que a Venezuela caia em um banho de sangue, em uma guerra civil fratricida, produto dos fascistas, garantamos o maior êxito, a maior vitória da história eleitoral do nosso povo", afirmou.
A fala não repercutiu bem e Lula, que mantinha relação com Maduro, reagiu. Em entrevista a agências internacionais, o presidente brasileiro disse que se “assustou” com a declaração.
“Eu fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto. O Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica; quando você perde, você vai embora”, disse.
Sem citar o petista, Maduro respondeu que quem tiver se assustado com as declarações dele “que tome um chá de camomila”. “Quem se assustou, que tome uma camomila, porque este povo da Venezuela já passou por muita coisa e sabe o que eu estou dizendo”, sugeriu.
O presidente venezuelano ainda declarou que o sistema eleitoral brasileiro não é auditável, o que já foi desmentido por diversas vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Temos 16 auditorias. Em que outra parte do mundo fazem isso? Nos Estados Unidos, é inauditável o sistema eleitoral. No Brasil não auditam um registro. Na Colômbia não auditam nenhum registro”, disse Maduro. Depois, o TSE desistiu de enviar observadores que acompanhariam a eleição venezuelana.