BRASÍLIA - Insatisfeito com as críticas de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou nesta terça-feira (23), sem apresentar provas, que as eleições no Brasil não são auditadas. Ele sugeriu ainda que o petista tome um “chá de camomila”. O ditador não citou nominalmente Lula, mas fez referências às declarações dadas pelo brasileiro no início da semana

“Eu não disse mentiras. Apenas fiz uma reflexão. Quem se assustou que tome um chá de camomila. (...) Na Venezuela vai triunfar a paz, o poder popular, a união cívico-militar-policial perfeita”, disse Maduro. Ainda durante o comício partidário no estado de Aragua, ele questionou o sistema eleitoral brasileiro.

Ignorando as acusações de falta de transparência nas eleições da Venezuela, o ditador afirmou que o país conta com o melhor sistema eleitoral do mundo, com 16 auditorias e uma em tempo real. "Em que outra parte do mundo fazem isso? Nos Estados Unidos? O sistema eleitoral é auditável? No Brasil? Não auditam nenhuma ata. Na Colômbia? Não auditam nenhuma ata”. 

Em entrevista a agências internacionais, na última segunda-feira (22), o presidente Lula afirmou que ficou assustado com a declaração de Maduro de que a nação poderia enfrentar um "banho de sangue" e uma "guerra civil" caso não fosse reeleito.

"Eu fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto. O Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica; quando você perde, você vai embora", afirmou.

Lula completou que para o país voltar a ser respeitado pela comunidade internacional, é importante que essas condições de transparência sejam atendidas.

"Eu já falei para o Maduro duas vezes, e ele sabe, que a única chance da Venezuela voltar à normalidade é ter um processo eleitoral que seja respeitado por todo o mundo. Se o Maduro quiser contribuir para a volta do crescimento na Venezuela, para a volta das pessoas que saíram do país e estabelecer um Estado de crescimento econômico, ele tem que respeitar o processo democrático", disse.

Ao se referir ao “banho de sangue”, Maduro fez uma referência ao "Caracazo", revolta ocorrida em fevereiro de 1989 que, conforme denúncias, resultou em milhares de mortes, embora o número oficial de vítimas seja de aproximadamente 300. Hugo Chávez, antecessor e padrinho político de Maduro, usou o evento para justificar uma tentativa fracassada de golpe em fevereiro de 1992.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela convidou organizações sociais brasileiras e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para observarem o pleito no país, que ocorre em 28 de agosto. Após recusar o convite em um primeiro momento, na última semana o tribunal decidiu enviar dois técnicos

Por sua vez, o presidente brasileiro disse que o assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, estará na Venezuela para acompanhar as eleições presidenciais. O principal concorrente de Maduro é o ex-diplomata Edmundo González, escolhido por uma coalizão de partidos opositores.