BRASÍLIA - O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai enviar a embaixadora do Brasil em Caracas, Glivânia de Oliveira, para a cerimônia de posse do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, nesta sexta-feira (10). Este vai ser o terceiro mandato do ditador, após uma eleição com uma série de indícios de fraude.

A decisão do governo brasileiro acontece após o país não ter reconhecido formalmente o resultado das eleições venezuelanas, ocorridas em julho de 2024. O presidente Lula cobrava junto a outros países, do conselho eleitoral da Venezuela, a apresentação das atas de votação que comprovasse a lisura do processo, o que não aconteceu.

Ainda assim, o Itamaraty manteve a presença da embaixadora no evento. O argumento do governo é que o Brasil busca manter um papel de mediador da crise venezuelana junto à comunidade internacional, já que países como Argentina, Uruguai, Peru e Chile romperam suas relações diplomáticas rompidas com o governo Maduro. 

Na avaliação de diplomatas brasileiros, deixar de enviar representantes seria queimar uma ponte já deteriorada e se distanciar ainda mais de uma solução para o impasse da Venezuela, onde a oposição também clama ter vencido as eleições.

Por outro lado, ao enviar a embaixadora à cerimônia, o governo Lula tem sido alvo de críticas dentro e fora do Brasil. A atitude é vista como uma forma de legitimar o resultado de uma eleição cercada de suspeitas e um governo que é alvo de diversas denúncias de violações de direitos humanos ao prender seus principais opositores.

Prisão de opositora fez Brasil reavaliar postura

O Itamaraty chegou a reavaliar se enviaria a embaixadora Gilvânia de Oliveira à Venezuela após um incidente com María Corina Machado, principal porta-voz da oposição ao governo Maduro, na noite desta quinta-feira (9). Após passar os últimos meses reclusa, ela apareceu em uma manifestação da oposição e foi presa após fazer um discurso.

Corina relata ter sido sequestrada, levada a um local desconhecido e solta somente após gravar um vídeo a pedido de seus sequestradores. O governo Maduro nega envolvimento e diz que o fato foi uma armação. Após a soltura da opositora e em meio ao impasse sobre a autoria do sequestro, o governo brasileiro decidiu manter a presença de uma representante na posse de Nicolás Maduro.

Relação estremecida

O ano de 2024 foi marcado por um distanciamento entre Lula e Maduro, após o presidente brasileiro ter recebido o venezuelano em Brasília em 2023. Declarações do presidente do país vizinho, como a de que haveria um “banho de sangue” caso ele perdesse as eleições, deixaram o petista “assustado”, conforme ele mesmo afirmou.

Em outro momento, Maduro lançou dúvidas sobre as urnas eletrônicas usadas no Brasil. Já em outubro, o Brasil atuou para evitar a entrada da Venezuela no Brics, fato que gerou insatisfação no governo do país vizinho. Representantes do governo brasileiro, como Celso Amorim, assessor da Presidência da República para assuntos internacionais, consideraram a reação de Maduro “desproporcional”.