BRASÍLIA - A Intelis, associação dos servidores da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), cobrou do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o afastamento de pessoas acusadas de obstrução de justiça no inquérito que investiga a chamada ‘Abin paralela’

A Polícia Federal indiciou na terça-feira (17) 36 pessoas no inquérito que apura o suposto uso ilegal de ferramentas na Abin para investigar autoridades. A estrutura montada incluiu a compra de um sistema espião pela agência para monitorar a localização de alvos pré-determinados em todo o país.   

“É inadmissível que indivíduos sobre quem pesam acusações graves de obstrução de justiça continuem ocupando cargos de comando na Abin. O próprio Diretor-Geral afastou de cargos servidores orgânicos que eram apenas citados nas investigações. Pela mesma lógica, não pode ele próprio se manter no cargo máximo da Agência, com poderes para seguir incorrendo nos alegados crimes”, diz trecho da nota divulgada pela Intelis. 

A PF identificou indícios de que o atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Côrrea, sabia das operações de espionagem ilegal e agiu para atrapalhar a investigação. A informação consta no inquérito, cujo sigilo caiu na quarta-feira (18) por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.  

Côrrea é enquadrado pelos crimes de prevaricação, impedir ou embaraçar investigação sobre organização criminosa e coação. Também foram indiciados Luiz Carlos Nóbrega, chefe de gabinete de Corrêa, e o corregedor-geral José Fernando Chuy.  

Todos eles são delegados de carreira da Polícia Federal nomeados ao cargo no governo Lula. Até o momento, a Abin não comentou. Procurado, o Palácio do Planalto também não se manifestou sobre o assunto.  

“É absurdo sequer cogitar a permanência da atual direção e a continuidade do processo de definhamento e desmonte da Inteligência de Estado”, destacam os servidores da Abin. 

Entre os indiciados pela PF, ainda estão o ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem, atual deputado federal, e o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL).  

A Polícia Federal apontou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) era o principal beneficiário das ações realizadas pela chamada "Abin Paralela". De acordo com o relatório divulgado nesta quarta-feira (18), Bolsonaro era integrante do "núcleo político" da organização, ao lado de seu filho Carlos Bolsonaro. 

Abin x Polícia Federal 

O relatório final da Polícia Federal sobre a “Abin paralela” colocou em evidência a disputa interna entre as cúpulas da Agência Brasileira de Inteligência e a própria PF.  

Na nota divulgada, a Intelis acusa o governo de “impor mais uma gestão de delegados da Polícia Federal à frente da Abin, após escândalos protagonizados por gestões anteriores”, além de descaso com a área de inteligência do país. 

“Vale lembrar que o delegado Ramagem foi impedido de assumir o cargo de Diretor-Geral da Polícia Federal no governo anterior, mas pôde retornar para reassumir a Direção-Geral da Abin, em mais um grave descaso com a agência de inteligência do país”, afirma o documento. 

“É ainda pior que membros de outro órgão do Poder Executivo queiram opinar na mídia sobre os rumos de uma atividade que desconhecem e que não deveriam possuir ingerência”, continua o texto.