BRASÍLIA - Ao iniciar o ano de 2025, uma das principais apostas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para recuperar a popularidade do governo era na mudança de comando na Secretaria de Comunicação (Secom), com a saída do ex-ministro Paulo Pimenta para a entrada de Sidônio Palmeira, o marqueteiro da campanha vitoriosa do petista em 2022.
Ao trocar um político tradicional - “petista raiz”, como se autodenomina Pimenta - por um publicitário, a intenção era modernizar aspectos importantes da comunicação governista, como as ações nas redes sociais e o diálogo entre o presidente Lula e a população. Houve, inclusive, mudanças na equipe da Secom, com a chegada de profissionais que trabalhavam com o prefeito de Recife, João Campos (PSB).
Uma das promessas feitas, inclusive, aos jornalistas foi a de ampliar a presença de Lula na imprensa, com mais entrevistas em que o petista abordasse diferentes assuntos, sem grandes limitações de tempo, da forma como se sente mais à vontade.
De lá para cá, foram apenas duas coletivas no Palácio do Planalto: uma em janeiro e outra em junho. Integrantes da Secom seguem afirmando que a intenção é aumentar a frequência desse tipo de agenda e torná-las mensais.
Outra estratégia adotada é intensificar a agenda de viagens de Lula pelo país. Em maio, o próprio petista afirmou que vai “fazer política” e andar pelo país para combater as “fake news”.
“No mês que vem, vou fazer política nesse país. No mês que vem, vou começar a andar esse país porque acho que chegou a hora de a gente assumir a responsabilidade de não permitir que a mentira, a canalhice, a fake news, ganhe espaço e que a verdade seja soterrada nesse país”, disse, durante evento no Mato Grosso.
Governo Lula busca ofensiva digital contra a oposição
Outro desafio apontado por Sidônio assim que tomou posse foi inserir, de maneira mais intensiva, a comunicação do governo no ambiente digital, sobretudo para combater a desinformação nas redes sociais. O ministro considerava este um fator relevante para que as realizações do governo não chegassem a parte da população.
O caráter “analógico” atribuído ao governo reflete, ainda, uma característica do presidente da República, que não possui um telefone celular. O acesso de Lula a conteúdos publicados nas plataformas digitais vem de intermediários, como a primeira-dama, Janja da Silva.
Uma das apostas era concluir uma licitação para contratar empresas de comunicação digital. A leitura era de que a Secom não tem funcionários, recursos e estrutura suficientes para equilibrar a disputa com a direita nas redes sociais.
Ao assumir o cargo, Sidônio anunciou que pretendia recomeçar do zero a licitação para contratar serviços de comunicação digital e gerenciamento de redes sociais do governo.
“Pretendo fazer uma nova licitação. Aquela licitação não vale mais, não nos interessa. E vamos encaminhar o mais rápido possível. Trabalhar imediatamente nisso”, afirmou, em coletiva de imprensa após a cerimônia de posse.
De acordo com ele, a intenção era que a licitação fosse realizada ainda no primeiro semestre. Mas só nesta semana deverá ser lançado o edital de licitação para a comunicação digital do governo.
Governo ainda corre atrás da oposição
Apesar das tentativas de mudanças, o governo Lula continua sofrendo para ter o controle sobre a narrativa em temas sensíveis, desencadeando em crises para o Planalto administrar.
Ao assumir a Secom, Sidônio apresentou, em reunião ministerial, um plano de recuperação da popularidade do presidente, baseado no alinhamento de três vértices: comunicação, gestão e política. No entanto, desde então, tem agido mais para conter crises.
Logo após a posse do ministro, um ato normativo da Receita Federal para intensificar a fiscalização sobre transações bancárias gerou uma reação em cadeia da oposição, que levantou suspeitas de que o órgão começaria a taxar transferências feitas por Pix. Com isso, o governo decidiu revogar o ato.
Já o escândalo do INSS ainda não foi contornado pelo governo dois meses após ter sido revelado pela Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União. O discurso do Palácio do Planalto era de que as fraudes nos descontos indevidos começaram em 2019, na gestão de Jair Bolsonaro (PL), e que as investigações foram feitas pelo atual governo.
A estratégia, no entanto, não deu certo. Pesquisa divulgada no último dia 4 pela Quaest aponta que, para 31% dos entrevistados, o governo Lula é o principal responsável pelo esquema de desvios nas mensalidades de aposentados e pensionistas do INSS.