BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarca nesta quarta-feira (2) para Buenos Aires, na Argentina, onde irá participar da 66ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul. O encontro de líderes está marcado para a próxima quinta-feira (3).
Esta é a primeira vez que o petista vai à Argentina desde a posse do presidente do país vizinho, Javier Milei, que é próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outras lideranças mundiais de ultradireita. Desde que Milei chegou ao poder, ele e Lula têm mantido uma relação distante, marcada por críticas mútuas.
Não há previsão de que Lula e Milei façam alguma reunião bilateral, contrariando uma tradição de quando o presidente brasileiro vai à Argentina e vice-versa. Por outro lado, o petista receberá do argentino a presidência temporária do Mercosul, função que o Brasil exercerá durante o segundo semestre.
Acordo com a União Europeia
O governo brasileiro já adiantou que, à frente do Mercosul, terá como prioridade concluir as tratativas do acordo com a União Europeia (UE), que é negociado há mais de duas décadas entre os dois blocos.
O acordo está em fase final de negociação, mas tem o avanço travado pela resistência de agricultores europeus, sobretudo na França, que temem perder espaço com a entrada facilitada de produtos sul-americanos em seus mercados. Em visita à França, no início de junho, Lula prometeu concluir o acordo e pediu para o presidente francês, Emmanuel Macron, “abrir o coração” para o tema.
Outro objetivo do Brasil enquanto estiver na presidência do Mercosul é incorporar mais setores, como o automotivo e o açucareiro, na Tarifa Externa Comum, que são taxas de importação padronizadas para os países-membros do bloco.
Encontro com Cristina Kirchner
Lula ainda não descarta fazer uma visita à ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que cumpre prisão domiciliar. Auxiliares do petista negociam a agenda, mas ainda não há previsão formal para que ela aconteça.
Cristina Kirchner é uma aliada histórica do PT e de outros setores da esquerda na América do Sul. Ela foi condenada a seis anos de prisão e inabilitação política perpétua por administração fraudulenta. A ex-presidente nega os crimes imputados e acusa promotores e juízes de parcialidade, e o governo argentino, de tentar deixá-la politicamente inabilitada.
O PT manifestou solidariedade à líder peronista. Em nota, o partido diz que Cristina é a “maior vítima de violência política e lawfare da Argentina desde o retorno da democracia ao país, em 1983”, afirma que a líder peronista sofre uma “campanha de ódio e perseguição” e classifica a ex-presidente como perseguida política.
Nos últimos dias, a residência de Cristina tem sido local de manifestações de apoiadores. A situação gera um receio, na defesa da ex-presidente, de que sua prisão preventiva seja revogada e ela tenha de retornar à cadeia. Uma eventual visita de Lula poderia agravar essa preocupação.