BRASÍLIA - Uma auditoria realizada pela Controladoria-Geral da União (CGU) identificou distorções contábeis que somam R$ 4,3 bilhões nas demonstrações do Ministério da Educação (MEC) referentes ao exercício de 2024. A informação foi divulgada pelo portal Metrópoles.
A equipe de O TEMPO Brasília teve acesso ao relatório da CGU, que aponta que uma das principais divergências está na diferença de R$ 3,3 bilhões entre a conta de bens móveis registrada no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) e os controles patrimoniais internos das universidades e institutos vinculados.
Segundo o documento, “os valores registrados nos sistemas próprios de 53 entidades avaliadas são inferiores aos informados no SIAFI, demonstrando uma superavaliação do ativo do Ministério”.
A CGU destacou falhas na apuração da depreciação de bens móveis, estimando distorção adicional de R$ 1 bilhão. Os auditores também chamam a atenção para o fato de que essa diferença limita a "transparência pública".
"As diferenças entre os controles contábeis e administrativos no ativo das entidades que compõem o Ministério da Educação (administração direta e indireta) ocasionam reflexo no seu balanço patrimonial, limitando a transparência pública e o uso dos demonstrativos acerca da sua situação patrimonial", diz o texto.
De acordo com o documento, das 32 unidades que apresentam superavaliação do ativo, quatro diferenças são superiores a 80% nos sistemas de registros patrimoniais em relação aos registros na conta de depreciação no SIAFI. São elas:
- Universidade Federal da Bahia (UFBA);
- Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ);
- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE); e
- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG).
Já em relação às 17 unidades que apresentam subavaliação do ativo, destaca-se a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que apresenta uma diferença de 153,22% no sistema de controle patrimonial em relação aos registros na conta de depreciação no Siafi.
O relatório afirma ainda que as divergências apontadas decorrem da falta de atualização do Siafi quanto aos valores apurados pelos sistemas patrimoniais e pela demora na implementação definitiva do Sistema Integrado de Administração de Serviços (Siads).
Além disso, a CGU apontou o crescimento expressivo das provisões de longo prazo, que saltaram de R$ 1,2 bilhão para R$ 109 bilhões em um ano. Segundo a auditoria, a Nota Explicativa sobre as provisões “não atende aos requisitos da Estrutura de Relatório Financeiro exigidos pela legislação”, deixando de informar valores usados, reversões e prazos para a saída de recursos.
Outro ponto destacado é o conjunto de pendências na gestão dos Termos de Execução Descentralizada (TEDs). Até janeiro de 2025, havia 2.190 TEDs com prestação de contas pendentes, equivalentes a R$ 3,8 bilhões. “A priorização nas análises das prestações de contas necessita ser implementada e/ou continuada”, diz o relatório.
O documento recomenda ajustes nos registros contábeis, melhorias na gestão patrimonial, correções na divulgação de provisões e avanços no controle de recursos transferidos por TED. O relatório foi encaminhado ao Tribunal de Contas da União (TCU) para julgamento das contas dos gestores responsáveis.
Financiamento estudantil sob risco
Além disso, a auditoria constata que as novas regras para o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) geram riscos por possíveis restrições ao oferecimento de novas garantias, devido à falta de um fluxo de pagamentos adequado.
A CGU aponta também que o modelo atual de execução de honras tem se mostrado incompatível com o novo sistema de pagamento vinculado à renda, ainda sem implementação.
De acordo com o relatório, o limite de alavancagem do FG-Fies “já foi atingido” e a alta inadimplência pode afetar a sustentabilidade do programa.
Governo nega "rombo"
Em nota, o Ministério da Educação afirmou que o relatório da CGU "é fruto de procedimentos recorrentes de controle interno e contou com apoio irrestrito da pasta para sua produção".
Já a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) negou que as distorções identificadas pela CGU sejam "rombos".
Segundo nota, o MEC é composto pelas unidades da administração direta e por 116 entidades vinculadas na administração indireta, sendo 69 universidades; 40 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia ou Centros Federais de Educação Tecnológica; o Colégio Pedro II; as empresas públicas Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh); a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj); o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep); e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
De acordo com explicação da Secom, sobre a reavaliação dos bens imóveis, o relatório anterior da CGU recomendava a adoção de medidas mais eficientes e "houve a reavaliação de 718 imóveis durante o ano passado, aumentando a conformidade dos registros".
"Apesar de desafios operacionais, já que a implementação de ações depende da articulação entre a administração direta e indireta – incluindo universidades e institutos federais –, instituições que possuem autonomia administrativa e financeira, o relatório aponta que o processo foi aprimorado ao longo do último exercício: foi constatado que houve um avanço significativo na regularização dos registros de bens imóveis”, diz o texto.
Sobre a revisão da execução das honras do FG-Fies, o órgão também destacou que não há previsão de descontinuidade ou suspensão dos contratos em vigência, e destaca que a continuidade do programa não será comprometida.
Além disso, a Secom informou que o aumento expressivo nas provisões de longo prazo se deve à regra que estabelece a inscrição na contabilidade do MEC das demandas judiciais conduzidas pela Advocacia Geral da União relativas ao antigo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef).
"Além disso, houve o reenquadramento de servidores do ex-território federal do Amapá no Plano Único de Classificação e Retribuição de Cargos e Empregos (PUCRCE). As duas situações ensejaram uma ampliação de R$ 107,8 bilhões nas provisões contábeis, de maneira a conferir segurança jurídica para os desembolsos que venham a ser realizados decorrentes dessas demandas", diz a nota.