BRASÍLIA - Em meio à tensão entre os Estados Unidos e a Venezuela, com a presença de embarcações de guerra e o envio de caças aéreos norte-americanos na região do Caribe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o Brasil não tomará lado no embate entre Donald Trump e Nicolás Maduro.

“O Brasil entende que a guerra não leva a nada, a não ser à matança e ao empobrecimento. Se tem divergência entre duas nações, não tem coisa melhor, mais barata, para se resolver do que sentar numa mesa de negociação e conversar”, afirmou Lula, em entrevista ao SBT. 

“O Brasil vai ficar do lado em que sempre esteve: do lado da paz. O Brasil é um país que não tem contencioso internacional, e nem queremos contencioso internacional”, continuou.

De acordo com fontes dos EUA, o governo Trump ordenou o envio de 10 jatos F-35 para o Caribe para realizar operações contra cartéis de drogas, revelou a agência de notícias Reuters nesta sexta-feira (5/9). Os caças irão à base aérea em Porto Rico, próximo à região onde navios de guerra americanos estão mobilizados.

Em outra ocasião, o presidente Lula já declarou que países ricos usam a luta contra o desmatamento como "justificativa para medidas protecionistas" e usam o combate ao crime organizado como "pretexto para violar soberania" de países menos desenvolvidos. 

O desmatamento foi uma das justificativas usadas por Trump ao impor as tarifas de importação de 50% aos produtos brasileiros e o combate ao crime organizado, para o envio de embarcações dos EUA para o mar do Caribe.

Relação com Trump

Durante a entrevista, o presidente Lula comentou ainda sobre a dificuldade de diálogo do Brasil com os Estados Unidos sobre as tarifas de 50% impostas aos produtos brasileiros.

"A surpresa dos nossos empresários é que quando foram tentar discutir comercialmente, ele disse que não, a taxação era política, dito pelo vice-secretário de estado dos EUA, se intromete na soberania brasileira, na legislação brasileira. Cada um dá palpite em seu quintal, em seu galinheiro", destacou.

"O que não dá é pra gente deixar de ser verdadeiro, o presidente Trump contou três inverdades com relação ao Brasil (...). A gente só está julgando porque aqui tem democracia, segundo ele diz que não pode o Brasil ficar regulando as big techs. Aqui no Brasil a gente regula todas empresas, terceiro dizer que está multando por déficit, é uma mentira hilariante (...)", continuou. 

Julgamento de Bolsonaro

Sobre o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) por suposta tentativa de golpe de Estado, o presidente Lula afirmou que o fato de o ex-presidente estar "pedindo anistia antes de ser julgado” é a prova de que ele é culpado. Para o petista, Bolsonaro “deveria estar tentando provar sua inocência”. 

"O que está acontecendo nesse caso, o cidadão cometeu essas barbáries e pede anistia antes de ser julgado, o fato de pedir anistia antes de ser julgado significa que é culpado, o papel dele agora é estar provando a inocência dele. Sabe que não tem defesa, o que eles fizeram foi muito grave contra a democracia. Quem tenta agredir precisa ser punido em qualquer lugar do mundo".

Bolsonaro é julgado no STF pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

"Não é uma denúncia da oposição, o processo está acontecendo porque pessoas que faziam parte do governo anterior denunciaram uma tentativa de golpe, invadiram a Suprema Corte, o Palácio do Planalto e a Câmara dos Deputados e o Senado. Havia uma tentativa de assinar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. Além da bomba no aeroporto, além da invasão da PF", disse.

"É um processo jurídico que tem uma conotação política muito forte porque é um presidente da República", ressaltou Lula.

Fraudes no INSS 

O presidente Lula afirmou também que todas as vítimas de fraudes nos descontos associativos de aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Serviço Social (INSS) serão ressarcidas. E defendeu que foi o governo federal que investigou a fraude, por meio da Controladoria Geral da União (CGU) e da Polícia Federal. 

“Nós já devolvemos uma parte do dinheiro, muito rápido, e vamos devolver, todas as pessoas que foram prejudicadas serão ressarcidas”, disse. 

“Roubar já é grave, agora roubar aposentado e utilizar o nome do aposentado, falsificando diretamente do computador, não. Qual é o problema que nós carregamos? Quando nós resolvemos investigar a gente não pode investigar e fazer pirotecnia. Fizemos investigação pela Controladoria Geral da União e pela PF, quando descobrimos já tinha passado quase dois anos. Não pegou antes porque estávamos investigando com seriedade, se a gente faz uma pirotecnia, os ladrões se escondem”, acrescentou.