BRASÍLIA - O depoimento do ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi, na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS na segunda-feira (8/9) acentuará a tensão entre parlamentares de oposição e governistas.

Escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Lupi estava à frente do ministério quando o estourou o escândalo dos descontos irregulares nos pagamentos de aposentadorias e pensões pelo INSS.

O depoimento não será o primeiro confronto entre Lupi, que é presidente do PDT, e os deputados e senadores de oposição. Após a operação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) que mirou as fraudes, Lupi falou a comissões na Câmara dos Deputados e no Senado.

Ele não é o único ministro que a CPI mista pretende ouvir. Em sessões anteriores, o grupo também aprovou requerimentos para levar à comissão os ministros que atuaram nos governos Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL). Os exs-presidentes do INSS também vão depôr à CPMI.

Careca do INSS e Maurício Camisotti

A comissão marcou para 15 de setembro o depoimento de Antônio Carlos Camilo Antunes, o "Careca do INSS". A PF e a CGU o apontam como o principal operador das fraudes nos descontos ilegais nas folhas de pagamento dos aposentados e pensionistas. 

Três dias depois, em 18 de setembro, o empresário Maurício Camisotti também depõe à CPI mista. Ele é tratado como peça-chave na operação para lavar o dinheiro ilegalmente retirado das aposentadorias e pensões pagos pelo INSS. Pela investigação da PF, o grupo desviou cerca de R$ 6 bilhões.

A marcação dos depoimentos do Careca e de Camisotti, definida em sessão nessa quinta-feira (4/9), é mais um gesto da CPMI contra aqueles que são apontados como os principais operados das fraudes praticadas.

Na segunda-feira (1º), a comissão aprovou um pedido de prisão contra a dupla e mais 19 investigados pela PF; entre eles Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS. O ofício foi entregue ao ministro André Mendonça, relator no Supremo Tribunal Federal (STF) do inquérito sobre os descontos irregulares. Cabe a ele decidir sobre as prisões.

Também nessa quinta-feira, os membros da comissão aprovaram requerimentos que têm na mira o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi). A associação é investigada pelas fraudes, e o vice-presidente do grupo é José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os documentos solicitam dados da entidade.

CPMI do INSS

Os trabalhos da comissão começaram em agosto com uma reviravolta da oposição sobre a base. Inicialmente, a CPI mista seria presidida pelo senador Omar Aziz (PSD-AM), indicado pelo presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e o relator seria o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO), nome escolhido pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

A oposição, se valendo do regimento, conseguiu ter maioria presente na primeira sessão da CPMI, e, em votação, derrubou as indicações de Alcolumbre e Motta. A presidência coube a Viana, e o relator é o deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL). O vice-presidente, por acordo, é o deputado Duarte Jr. (PSB-MA), único governista na direção da CPMI.