O presidente Jair Bolsonaro (PL) exaltou a presença do Exército em momentos de conflitos no Brasil caracterizados historicamente como golpes. Ele citou o início da ditadura militar, em 1964, quando militares destituíram o então presidente eleito João Goulart e assumiram o poder por 21 anos.
Bolsonaro também citou 1986, ano em que foi eleita a Assembleia Constituinte em um movimento de redemocratização, e disse que o evento não foi feito contra militares. O mandatário mencionou, ainda, marcos dos anos de 1922, quando houve a Revolução de 1922, e 1935, ano que marcou a Intentona Comunista.
“Quando se fala em Exército Brasileiro, vem à nossa mente que em todos os momentos difíceis que a nossa nação atravessou, as Forças Armadas e o nosso Exército sempre estiveram presentes. Assim foi em 22, em 35, em 64 e em 86, com a transição. A transição foi feita com os militares, e não contra os militares”, declarou, em evento sobre o Dia do Exército, nesta terça-feira (19).
Outro ano citado pelo presidente como marcante na atuação do Exército foi 2016. “Também agora em 2016, em mais outro momento difícil da nossa nação, a participação do então comandante do Exército [Eduardo] Villas Boas marcou a nossa história”, disse.
O presidente não fez referência explícita ao assunto comentado. Em entrevista à Veja, Villas Boas revelou que o Exército foi sondado e rechaçou a hipótese de apoiar a decretação de estado de defesa nos dias que antecederam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), destituída em 2016.
Ainda no discurso do evento, Bolsonaro destacou que os brasileiros estão investindo “na garantia do seu bem maior, a liberdade”, ao respeitarem e valorizarem os soldados.
“As Forças Armadas não dão recado, elas estão presentes, sabem como proceder, sabem o que é melhor para o seu povo, o que é melhor para o seu país. Elas têm participação ativa na garantia da lei e da ordem, da nossa soberania e do regime ao qual o povo quer viver. E nós sabemos que esse regime, acima de tudo, está a nossa liberdade. Todos sabem que um homem ou uma mulher, sem liberdade, não vivem”, frisou.
Bolsonaro volta a colocar dúvida sobre as eleições
Ainda no discurso sobre o Dia do Exército, o presidente da República voltou a apontar dúvidas sobre a lisura do processo eleitoral. Parte da fala foi direcionada aos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), presentes na cerimônia.
Em agosto de 2021, sob o comando de Lira, o plenário da Câmara rejeitou proposta que propunha o voto impresso em eleições, plebiscitos e referendos. A pauta era uma das mais defendidas por Bolsonaro, seus aliados e militância.
"Tenho dito que a nossa preocupação é com o cumprimento da Constituição, é com o bem-estar de todos, é com a paz e com a harmonia. E todos sabem, prezado deputado Arthur Lira, prezado senador Rodrigo Pacheco, que a alma da democracia repousa na tranquilidade e na transparência do sistema eleitoral. Sistema esse que deve ser cada vez mais zelado por todos nós", afirmou.
"Quem dá o norte para nós são as urnas. Ali fazem surgir não só o presidente da República, como a composição do Parlamento brasileiro", acrescentou, completando que "não podemos jamais ter eleições no Brasil que sobre elas paire o manto da suspeição".
Mas, em contraponto ao discurso de ataque e em direção ao ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, Bolsonaro falou em normalidade nas eleições.
"Eu tenho certeza que as eleições do corrente ano seguirão o seu ritmo normal, até porque, quero cumprimentar o ministro Luís Roberto Barroso que, enquanto presidente do Tribunal Superior Eleitoral, convidou as Forças Armadas, repito, convidou as Forças Armadas a participar de todo o processo eleitoral", destacou.
Na avaliação do mandatário, "o que o povo quer é paz, é tranquilidade, e trabalho, é poder viver em harmonia, e trabalhar para que o seu país, de verdade, seja uma grande nação".
"O meu sentimento transborda aquilo que eu penso e quero o melhor para o meu país. Nós todos, um dia, militares, juramos dar a vida para nossa pátria se preciso for. E todos nós, povo brasileiro, faremos mais do que isso para garantir a nossa liberdade e para garantir que todos, sem exceção, joguem dentro das quatro linhas da nossa Constituição", finalizou Bolsonaro.
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