CRISE HUMANITÁRIA

Lula chama situação dos Yanomamis de 'crime premeditado'

Comitiva presidencial formada por oito ministros visitou hospital indígena e a Casa de Apoio à Saúde Indígena, em Boa Vista (RR)

Por Manuel Marçal
Publicado em 22 de janeiro de 2023 | 10:46
 
 
 
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou neste domingo (22) que a situação dos povos Yanomamis, em Roraima, está para além de uma crise humanitária. O petista acusou o governo de Jair Bolsonaro de cometer “genocídio” e de “crime premeditado” ao incentivar a invasão de garimpeiros na região e de tratorar as políticas de assistência aos povos indígenas.  

“Mais que uma crise humanitária, o que vi em Roraima foi um genocídio. Um crime premeditado contra os Yanomami, cometido por um governo insensível ao sofrimento do povo brasileiro”, escreveu em uma rede social.  

Uma comitiva presidencial formada por oito ministros visitou o hospital indígena e a Casa de Apoio à Saúde Indígena, em Boa Vista (RR), que fica a 270km de distância do território Yanomani. A visita ao local ocorreu um dia após o Ministério da Sáude declarar emergência em saúde pública no território indígena.   

“Adultos com peso de crianças, crianças morrendo por desnutrição, malária, diarreia e outras doenças. Os poucos dados disponíveis apontam que ao menos 570 crianças menores de 5 anos perderam a vida no território Yanomami nos últimos 4 anos, com doenças que poderiam ser evitadas”, narrou aquilo que viu o presidente.  

Maior reserva indígena do Brasil, o território registrou invasão e avanço do garimpo ilegal nos últimos quatro anos. A região tem mais de 30 mil habitantes e vive uma crise sanitária que já resultou na morte de 570 crianças por desnutrição nos últimos anos.    

O presidente da República acusou que a invasão dos territórios indígenas foi incentiva por Jair Bolsonaro. “Além do descaso e do abandono por parte do governo anterior, a principal causa do genocídio é a invasão de 20 mil garimpeiros ilegais, cuja presença foi incentivada pelo ex-presidente". 

De acordo com o Ministério dos Povos Indígenas, 99 crianças de um a quatro anos do povo Yanomami morreram devido ao avanço do garimpo ilegal na região em 2022. Os casos envolvem doenças evitáveis, como desnutrição, pneumonia e diarreia. Segundo o órgão, 570 crianças foram mortas por contaminação por mercúrio, fome e desnutrição. Além disso, houve 11.530 casos de malária na região no ano passado. 

O petista endossou que em seu governo os indígenas serão tratados com dignidade. “Não haverá mais genocídios. Povos indígenas serão tratados com dignidade. A humanidade tem uma dívida histórica com os povos indígenas, que preservam o meio ambiente e ajudam a conter os efeitos das mudanças climáticas. Essa dívida será paga, em nome da sobrevivência do planeta”. 

Durante a agenda, os Yanomamis reportaram ao presidente que a precariedade do meio de transporte e das estradas são um grande dificultador para a população indígena acessar os serviços de assistência na capital de Roraima.  

Diante disso, Lula anunciou, também neste domingo, que o governo vai aumentar o número de voos e melhorar as pistas de pouso nas comunidades para que aviões de grande porte consigam pousar no local. “E quero mudar a lógica atual: em vez das pessoas saírem de suas comunidades para buscar tratamento em Boa Vista, vamos levar equipes médicas permanentes”.  

Cestas Básicas e Hospital de Campanha

O Hospital de Campanha da Aeronáutica, no Rio de Janeiro, começará a ser transferido para Boa Vista. A expectativa é que ele seja montado na próxima sexta (27). Outra medida é o início do transporte de retorno para as aldeias dos Yanomami sem problemas de saúde e que se encontram no CASAI de Boa Vista. 

Outra medida anunciada pelo governo é que a Aeronáutica iniciará, em caráter de urgência, o transporte de cesta básicas para a terra indígena Yanomami. São mais de oito mil. 

PF apurar crimes ambientais e de genocídio contra Yanomami 

O Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou a abertura de um inquérito policial para apurar supostos crimes ambientais e de genocídio na região do povo Yanomami, em Roraima. A Polícia Federal fará a investigação a partir de segunda-feira (23). 

Pelas redes sociais, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, pediu a responsabilização da gestão anterior. “Precisamos responsabilizar o governo anterior por ter permitido que essa situação se agravasse com o povo Yanomami ao ponto da gente chegar aqui e encontrar adultos com peso de criança, e crianças em uma situação de pele e osso”.  

 
Segundo apuração do portal The Intercep Brasil, até agosto do ano passado, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro ignorou 21 ofícios com pedidos de ajuda para os povos Yanomamis. Funai, Exército, Polícia Federal e Ministério Público Federal receberam relatos de invasão dos territórios.  

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