Segredos de Brasília

Senado e Câmara oferecem visitas gratuitas e guiadas até em línguas estrangeiras

Em tour onde os visitantes recebem informações sobre a história do prédios, suas obras de arte, guias também dão noções básicas sobre como são feitas as leis brasileiras

Por Renato Alves
Publicado em 21 de abril de 2024 | 07:00
 
 
 
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Acompanhados de uma tia, os irmãos Marcos Lopes de Souza, de 25 anos, e Amanda Lopes de Souza, 31, não escondiam o deslumbramento a cada espaço que adentravam no Congresso Nacional, na tranquila manhã de quinta-feira sem sessões e solenidades solenes. Faziam questão de tirar uma foto pelo celular em frente aos imensos painéis e quadros dos salões. Obras de Athos Bulcão, Alfredo Ceschiatti, Di Cavalcanti, Burle Marx, entre outros.

“Não imaginava que era tão bonito e acessível”, comentou Marcos, paulista que mora em Londres, onde dá aulas de jiu-jitsu. “É isso mesmo: a maioria das pessoas acha que aqui é tudo muito fechado, restrito. Mas não é”, emendou Amanda, que, após se formar em medicina na Ucrânia, pouco antes da invasão russa, se mudou para Brasília com o intuito de iniciar a vida profissional.

Fora aqueles que vão a convite de um parlamentar ou servidor, ou para uma solenidade, mais de 50 mil pessoas fazem visitas guiadas à Câmara e ao Senado anualmente, em um serviço gratuito oferecido de forma conjunta pelas duas casas. A maioria em fins de semana e feriados, quando grupos saem a cada meia hora, com no máximo 50 pessoas.

Turistas recebem explicação de guia em frente a galeria de bandeiras de todos os Estados brasileiros em corredor do Senado

Durante o tour, os visitantes recebem informações sobre a história do Congresso e sobre as esculturas, os quadros e os painéis espalhados pelos espaços do prédio principal. Também recebem noções básicas sobre como são feitas as leis brasileiras. Estrangeiros podem fazer tudo em língua espanhola ou inglesa, marcando a visita antecipadamente.

A explicação para as conchas invertidas do Congresso

O edifício que abriga o Legislativo federal foi batizado de Palácio do Congresso, inaugurado em 21 de abril de 1960, junto com Brasília. Concebido pelo arquiteto Oscar Niemeyer, com projeto estrutural do engenheiro Joaquim Cardozo, é um dos três edifícios monumentais que definem a Praça dos Três Poderes, sendo os demais o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF), também de autoria de Niemeyer e Cardozo. 

As cúpulas abrigam os plenários da Câmara dos Deputados (côncava) e do Senado Federal (convexa), enquanto que nas duas torres - as mais altas de Brasília - funcionam as áreas administrativas e técnicas que dão suporte ao trabalho legislativo diário das duas instituições

O Palácio do Congresso é considerado o maior símbolo da capital, além de ser referido frequentemente como o ícone da arquitetura do país no exterior. Sobre o imenso bloco-plataforma horizontal ficam uma semiesfera à esquerda (sobre o plenário do Senado), e um hemisfério à direita (sobre o plenário da Câmara). As cúpulas são chamadas de “conchas” por muita gente. Tem que enxergue “bacias”. E são muitas as teorias para as formas invertidas.

“A concha voltada para baixo, implica nos intentos dos entes federativos representados pelos senadores. Já a concha voltada para cima, materializa o sentimento de clamor popular representado pelos deputados federais”, é uma das supostas explicações. “O plenário da Câmara é voltado para cima, como um recipiente, por ser onde o povo deposita suas demandas; a do Senado, para baixo, como uma tampa, expressa o ‘poder que vem de cima’, pois a Casa representa os Estados da Federação”, diz outra.

  • A cúpula do Senado tem aproximadamente 10m de altura e 38m de diâmetro, com uma espessura de 10cm no topo e 35 cm na base. Tem um vão de 16 metros para o plenário do Senado – na parte interna, o artista Athos Bulcão adicionou um forro com 135 mil placas metálicas.
  • Já a cúpula convexa, acima da Câmara dos Deputados, é maior e mais aberta. Tem os mesmos 10m de altura da cúpula do Senado, mas com 62m de diâmetro. É um elipsóide de revolução e seu vão para a Câmara de 22m torna a estrutura apenas pousada nas bordas do vão. O teto foi feito com uma casca esférica rebaixada.

Segundo Niemeyer, o pai da obra, as cúpulas não têm qualquer simbolismo. Elas estão ali apenas para compor a arquitetura do edifício. Aliás, antes de decidir pelas conchas invertidas, Niemeyer teve outras ideias, inclusive um prédio com três conchas e outra com nenhuma. Achou melhor a dupla invertida por mera questão estética. 

O restante do Palácio do Congresso é dividido da seguinte forma:

  • O prédio principal tem 3 pavimentos: semi enterrado, térreo e esplanada. É formado por pilares elípticos de concreto armado, espaçados numa malha de 10m por 15m. 
  • O prédio é revestido, externamente, por mármore branco. Os plenários são dois volumes independentes estruturalmente. 
  • O plenário da Câmara tem 396 assentos, menos do que o número de deputados federais. Já o Plenário do Senado tem 81 assentos, mesmo número de senadores. 
  • Os dois andares têm salas administrativas. A parte superior, onde estão as cúpulas, deveriam ser uma praça aberta, mas ficam fechadas por questões de segurança.

Ainda sob o imenso bloco-plataforma horizontal, que suporta as duas cúpulas, ficam os plenários e os grandes salões, conforme descritos abaixo: 

  • Salão Negro: com 1.100m², é o acesso comum aos dois plenários, sendo acessado pela rampa de acesso principal. Recebe também exposições, cultos ecumênicos e manifestações políticas ou culturais. Seu piso de mármore negro dá o nome ao local.
  • Salão Branco ou Chapelaria: entrada de trabalho do Senado e da Câmara dos Deputados, pelo subsolo, que permaneceu com o apelido mesmo após o desuso dos chapéus. Assim como o Salão Negro, seu nome vem do piso de mármore, que aqui é branco.
  • Salão Nobre: há um para cada Casa, onde os presidentes da Câmara e do Senado recepcionam chefes de Estado ou de governo que estejam visitando o prédio. Também são usados esporadicamente em outros eventos de grande importância.
  • Salão Verde: com cerca de 2.000 m², é voltado para a Câmara. Onde os jornalistas costumam entrevistar os parlamentares. Permite acessar o Plenário Ulysses Guimarães e o gabinete do presidente da Câmara. Tem um jardim interno e exposições de obras de artistas plásticos. Seu piso fica sob um tapete verde, de onde vem o nome do salão.
  • Salão Azul: equivalente do Senado para o Salão Verde, sendo também o local onde os profissionais da imprensa abordam os senadores e também dando acesso ao plenário e ao gabinete do presidente do Senado. Tem um local onde ficam uma bandeira de cada estado. Também tem seu nome vindo do tapete, que nele é azul.

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