Mobilização

Inicialmente contra o STF, atos deste domingo têm como alvo o centrão

Em duas semanas, objetivos das manifestações em defesa do governo ganharam novos contornos


Publicado em 26 de maio de 2019 | 03:00
 
 
 
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São Paulo. No dia 12 de abril, movimentos de direita reunidos em São Paulo anunciavam, em transmissão ao vivo pelas redes sociais, a convocação para as manifestações previstas para este domingo (26) pelo país. Ao chegar ao dia dos atos, as reivindicações são aprovação da reforma da Previdência, o combate à corrupção e o apoio a Jair Bolsonaro.

Na época, porém, as pautas não eram exatamente essas – elas sofreram uma reviravolta em meio ao racha de grupos de direita e à divisão dentro do partido do próprio presidente da República sobre a pertinência de ir às ruas. Em Belo Horizonte o ato acontece às 10h na praça da Liberdade.

Quando foram gestados, os atos foram apresentados como uma mobilização contrária ao Supremo Tribunal Federal (STF) – embora a defesa da Previdência e do pacote anticrime do ministro Sergio Moro (Justiça) também estivesse colocada.

Depois, as manifestações pró-governo ganharam impulso como uma tentativa de resposta aos protestos do último dia 15 de maio, contrários ao bloqueio de recursos da educação e que levaram milhares de pessoas às ruas em mais de 170 cidades.

De lá pra cá, na esteira dos embates entre Bolsonaro e o Congresso, ganhou força o descontentamento com o centrão (grupo informal com cerca de 200 deputados de partidos como PP, DEM, PRB, MDB e Solidariedade). E o lema “Brasil contra o centrão” ganhou corpo – é nome do principal ato marcado para este domingo em São Paulo.

Na live de abril, que começou com o Hino Nacional e terminou com um pai-nosso, os representantes dos movimentos falam em “manifestação contra Gilmar Mendes e Toffoli”, em “ditadura do Judiciário”, que as ruas darão “resposta imediata ao STF”, que o STF é uma “vergonha nacional” e até em “derrubar o STF, que só tem canalha, vagabundo”.

Willian Bull, do Movimento Avança Brasil, um dos principais envolvidos nos atos, diz no vídeo que “os movimentos estão baseados na Constituição, mas estão baseados principalmente naquilo que rege a população, que é um negócio chamado vergonha na cara e que está faltando muito em várias instituições que representam o Estado brasileiro, mas não estão representando a população”.

O pano de fundo, em abril, era o inquérito aberto por Toffoli para apurar fake news e ofensas ao STF, visto pelos movimentos como uma mordaça. “Quando a gente percebeu que o centrão estava tomando esse protagonismo no sentido de criar obstáculos para manter esse patrimonialismo, esse toma lá, dá cá, até suplantou essa indignação com o inquérito”, diz Bull.

A derrota de Moro para o centrão, que retirou o Coaf do Ministério da Justiça, foi a gota-d’água para que a revolta se concentrasse nos parlamentares.

Para Bull, a sociedade está vigilante e cansou de ver a agenda de 58 milhões de eleitores de Bolsonaro emparedada pela barganha. “Se o Congresso não está fazendo seu papel, será que estamos vivendo numa democracia?”, questiona.

Em vídeo de sexta (24) no seu Facebook, um banner diz que a manifestação é pela reforma da Previdência, porém, em seguida, há trecho de um discurso em que ela prega “fora todos os ministros”.

Também em vídeos de maio, o canal Giro de Notícias, que endossa as convocações, fala em intervenção. Já o Direita São Paulo mantém na sua lista de reivindicações da manifestação a CPI da Lava Toga, para investigar abusos do Judiciário.

Pacífico

Procurados pela reportagem, os movimentos rechaçaram as pautas radicais. Conforme publicou o jornal Folha de S.Paulo, os grupos passaram a adaptar o discurso para ampliar adesão.

“Todo mundo está dizendo que não aderiu no início porque os atos eram antirrepublicanos, mas nós nunca tivemos essa pauta de fechamento do Congresso e do STF, é um absurdo total”, diz Bull.

“Isso é informação plantada para desmoralizar o ato. Pode ter cartazes nesse sentido, é a manifestação da liberdade de expressão, mas os organizadores não falam essa língua”, diz Ana Cláudia Graf, dos Ativistas Independentes.

Vem pra Rua, MBL e parte do PSL não apoiam os protestos

A retórica agressiva usada por alguns apoiadores das manifestações em redes sociais, afastou os movimentos que tradicionalmente mobilizaram atos de direita, como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua.

Mesmo o PSL, partido de Bolsonaro, decidiu não dar apoio formal à convocação, mas liberou seus filiados a participarem. Quase todos os parlamentares da legenda em Minas vão participar. O presidente da sigla, Luciano Bivar, porém, disse não ver sentido nas manifestações.

Para incentivar a ideia de que se trata de um ato espontâneo, Bolsonaro também desistiu de participar e aconselhou ministros a fazerem o mesmo, embora apoie as manifestações. Seus filhos endossaram o ato nas redes.

Assim como os movimentos de direita, os parlamentares do PSL se dividiram. A líder de governo, Joice Hasselmann (SP), e a deputada estadual Janaina Paschoal (SP) criticam os atos.

“Pelo amor de Deus, parem as convocações! Essas pessoas precisam de um choque de realidade. Não tem sentido quem está com o poder convocar manifestações!”, tuitou Janaina.

Outros nomes, como Major Olímpio (SP) e Douglas Garcia (SP), que é membro do Direita São Paulo, estarão nas ruas. A deputada federal Carla Zambelli (SP), por exemplo, reclama que a manifestação foi difamada e volta à carga contra o STF, que formou maioria para definir homofobia como crime. “Segundo as ‘mentes brilhantes’ da esquerda, eleitor de Bolsonaro indo às ruas é ‘ameaça à democracia’, mas ministro do STF usurpando a competência legislativa do Congresso, não”, tuitou.

Monarquistas e militares vão comparecer

A manifestação ganhou apoio de monarquistas, do Clube Militar (com cerca de 38 mil sócios, entre militares da ativa, da reserva e civis) e do Brasil 200, movimento de empresários que reúne nomes como Luciano Hang (Havan) e João Appolinário (Polishop).

Entre os caminhoneiros, há divisão: muitos defendem o presidente contra o Congresso e o STF, mas outros dizem que não irão às manifestações e criticam a situação da categoria. Parte deles é defensora de intervenção militar.

O apoio aos atos é tímido entre evangélicos. O deputado federal Silas Câmara (PRB-AM), presidente da frente evangélica, diz ser a favor de que o povo se manifeste, mas não fez convocações nas redes. Ele disse que não vai por estar de licença médica. O deputado pastor Marco Feliciano defende os atos, mas também não sabe se poderá ir.

Doria critica

Inútil. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que é contra a manifestação deste domingo. Para ele, o ato é “inútil, inadequado” e gera “potencial de confronto” fora de hora.

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