BRASÍLIA - No primeiro dia eles assistiram a uma sessão de julgamento, circularam por áreas reservadas do Palácio do STF, falaram com Flávio Dino e tietaram Alexandre de Moraes em sessões de fotos improvisadas com celulares. 

No segundo, ouviram Edson Fachin, Cármen Lúcia e André Mendonça em rodas de conversa no Salão Nobre, onde questionaram a regulamentação da internet no Brasil e desafiaram o presidente Luís Roberto Barroso a explicar para o cidadão mais simples - ou um “camponês medieval”, nas palavras de um deles - o que aqueles 11 ministros estão fazendo ali. 

Foi assim, no evento chamado de Leis e Likes que o Supremo, em uma tentativa de furar a bolha da velha comunicação institucional, burocrática e distante da juventude, reuniu 25 influenciadores digitais, de diversas partes do país. Homens e mulheres populares no Tik Tok, X, Instagram e YouTube, dispostos a conhecer o Judiciário mais de perto - e replicar aos seus admiradores que hoje em dia só consomem notícias por esses canais - o que viram por lá. 

Teve de Atila Iamarino, biólogo que fala de ciência em seu canal Nerdologia para quase 4 milhões de seguidores em suas redes sociais, a Felipe Voigt, com popularidade semelhante por seus posts de comportamento e humor no Instagram e no Tik Tok. De Gis Corrêa, que ensina matemática de um jeito simples e divertido para 7,7 milhões de inscritos em seus canais ao Pastor Pedrão, um evangélico musculoso de barba branca e voz grossa que questionou a Fachin se não haviam injustiças nas prisões pelo 8 de janeiro.

Também participaram os influenciadores Afroragga; Aline de Assis; Estevão Lopes; Fábio Cruz, Flávia Paixão; João Carlos Amador; Kananda Eller; Laryssa Schneider; Matheus Silveira; Noslen Borges; Renan Quinalha; Rico Timm; Rodrigo França; Spartacus; Tawany Rocha; Tiele Miranda; e Vitória Mesquita. 

Ministros só conheciam Luiza Brunet 

Mas quem a velha guarda do Supremo já tinha mesmo visto e ouvido falar era Luiza Brunet, a modelo com carreira de sucesso nos anos 80 que virou ativista e palestrante em causas de defesa da mulher e de enfrentamento à violência doméstica, da qual foi vítima do ex-marido. 

Aos 62 anos, Brunet que, se misturava ao grupo com média de idade da sua filha Yasmin,  tirou foto com todos os ministros que passaram por ali (o feed dela está repleto desses registros). “Ao envelhecer, a vida só melhora, não é, Luiza?!”, comentou Luís Roberto Barroso sobre estar na “terceira fase da juventude” aos 66 anos - e buscando amparo na única influenciadora ali mais próxima da sua idade.

“Camponês medieval” 

Foi de Cainã Morellato que, junto com os irmãos capixabas Cauê e Ynaê falam a mais de 2,3 milhões de pessoas em seus perfis nas redes sociais, a pergunta que exigiu do presidente do Supremo derrubar o juridiquês e responder: “como explicar o STF a um camponês medieval?”. O grupo tem um quadro em seus canais onde tentam simplificar a explicação de coisas complexas da vida e tinha a intenção de forçá-lo a dizer para o cidadão mais simples para que serve o Supremo. 

“Eu diria para ele o seguinte: existe no mundo um conjunto de valores que fazem parte da vida civilizada. Fazer o bem, buscar a verdade possível e um desses valores é a Justiça” começou Barroso. 

“Porém, os homens em estado de natureza, sobretudo, têm vontade de fazer sobrevaler a sua vontade. E, portanto, há um risco na vida de prevalecer a vontade do mais forte, a lei do mais forte, e não é bom que seja assim porque isso não promove a justiça. Então existe uma instituição chamada Poder Judiciário cujo papel é fazer com que não prevaleça a lei do mais forte. [...] A Justiça que nós representamos é a alternativa que a humanidade concebeu contra a força bruta. Em vez de guerras, tiros, socos, a gente coloca argumentos na mesa e alguém imparcial diz qual argumento que deve prevalecer, quem é que tem razão”, concluiu.

Cármen Lúcia e os pedidos de fotos

No final do encontro, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia, fez uma passagem pelo Salão Nobre e lembrou que tudo ali havia sido destruído no domingo das invasões e depredações de 2023. Uma apresentação da urna eletrônica foi feita, mas o que os influenciadores queriam eram vídeos e fotos com ela. “Ainda espero chegar o dia em que serei lembrada em uma foto só pela rotina de alguém”, reclamou, entre sorrisos - e fotos.