BRASÍLIA - O esquema da “Abin Paralela”, que motivou o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta terça-feira (17), teve como foco a espionagem ilegal de autoridades, servidores e jornalistas. Isso, por meio do uso de uma ferramenta de geolocalização, que monitorava celular e computadores de alvos sem autorização judicial.

Além de Bolsonaro, a Polícia Federal (PF) indiciou cerca de 30 pessoas. Entre elas, um dos filhos do ex-presidente, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), e o ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem, que hoje é deputado federal pelo PL do Rio. 

Estão na lista de espionagem desafetos do governo Bolsonaro, como o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, além de outros integrantes da Corte, como os ministros Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Gilmar Mendes. 

As investigações apontaram que houve, inclusive, uma tentativa de estabelecer conexões de Moraes e Gilmar com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). A estratégia foi encontrada em um relatório de inteligência apreendido pela PF na Abin em 2023. 

Autoridades da Câmara também foram monitoradas, como os ex-presidentes da Casa Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Maia (RJ) e os hoje ex-deputados Joice Hasselmann (PSDB-SP), Jean Wyllys (PSOL-RJ) e David Miranda (PDT-RJ), que morreu em maio de 2023. Do Senado, foram espionados Alessandro Vieira (MDB-SE), Omar Aziz (PSD-AM), Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (PT-AP). 

O ex-governador de São Paulo João Dória foi outra autoridade monitorada, assim como o ministro da Educação, Camilo Santana, que na época era governador do Ceará. Segundo a PF, um drone foi utilizado para monitorar a residência de Camilo em Fortaleza, em 2021. Os equipamentos teriam sido operados por integrantes da Abin. 

No rol de servidores, estão os nomes de Hugo Ferreira Netto Loss e Roberto Cabral Borges, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); e de José Pereira de Barros Neto, Christiano José Paes Leme Botelho e Cleber Homen da Silva, auditores da Receita Federal.  

Entre os jornalistas que foram espionados, estão Vera Magalhães, Monica Bergamo, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar Batista. 

A PF diz que, ao todo, a Abin fez 33 mil monitoramentos ilegais durante o governo Bolsonaro a partir da ferramenta FirstMile, contra 1,8 mil alvos. O esquema era feito por meio de ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis, como celulares e computadores, sem autorização judicial.