Operação

‘Abin paralela’: entenda ponto a ponto da investigação da PF

De acordo com a PF, sistema de software FirstMile, usado pela agência de inteligência, teria servido para espionar autoridades sob o comando do deputado federal

Por Hédio Júnior
Publicado em 25 de janeiro de 2024 | 19:53
 
 
 
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A Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã desta quinta-feira (25), a operação Vigilância Aproximada para investigar uma suposta “organização criminosa que se instalou" na Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O objetivo é apurar as denúncias de monitoramento ilegal de autoridades públicas e outras pessoas, utilizando ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis, como celulares, sem autorização judicial.

O software utilizado para isso foi o FirstMile, adquirido e administrado durante a gestão do ex-delegado da PF e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). Na ocasião, o parlamentar estava cedido para a Abin, onde ocupou o cargo de diretor-geral durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

Outros policiais exerciam a função subordinada cumprindo as determinações de monitoramento de alvo e produzindo relatórios. Havia ainda outros responsáveis por diligências que resultaram na tentativa de vinculação de parlamentares e ministros do Supremo à organização criminosa.

De acordo com a Polícia Federal, “após aprofundamento das investigações”, foi identificada uma organização criminosa que tinha como intuito monitorar ilegalmente pessoas, entre elas autoridades públicas, invadindo aparelhos celulares e computadores. Entenda os principais pontos do relatório, quem estava sendo monitorado e quem seria beneficiado. 

Drone na casa de Camilo Santana 

A Polícia Federal destaca episódios em que um dos gestores do sistema FirstMile teria sido flagrado pilotando um drone nas proximidades da residência do então governador do Ceará e atual ministro da Educação, Camilo Santana, comprovando a total ilicitude das condutas, sem razão determinada. 

Jair Renan e tráfico de influência

Sob a direção de Ramagem, os policiais utilizaram ferramentas para serviços e contrainteligência ilícitos em investigações da PF para fazer prova a favor de Jair Renan. Investigado sob suspeita de tráfico de influência com um sócio, o homem se viu sendo filmado e registrou um boletim de ocorrência por ameaça

Flávio Bolsonaro e o esquema de rachadinhas

A utilização da Abin para fins ilícitos é novamente apontada pela Polícia Federal e confirmada na investigação quando demonstra a preparação de relatórios para defesa do senador Flávio Bolsonaro, sob responsabilidade de Marcelo Bormevet, que ocupava o posto de chefe do Centro de Inteligência Nacional – CIN, como bem destacado pela Procuradoria-Geral da República. Trata-se das denúncias de prática de rachadinha. O senador nega

Operação Portaria 157

Foram identificadas anotações cujo conteúdo remete à tentativa de associação de deputados federais e ministros do Supremo Tribunal Federal ao Primeiro Comando da Capital, o PCC. A ação transparece, dessa forma, o desvio da finalidade das operações de inteligência do campo técnico para o campo político servindo para interesse não republicano, diverso da produção de inteligência de Estado.

A questionável motivação inicial estampada nos instrumentos preliminares não é convergente com o real intento das diligências realizadas na Operação “PORTARIA 157”. Ao contrário, as ações apresentaram viés político de grave ordem representando mais um evento de instrumentalização da Agência Brasileira de Inteligência – Abin.

Acobertando demissões

A alta gestão da Abin, especificamente Alexandre Ramagem e Carlos Afonso, interferiu nas apurações disciplinares para que não fosse divulgada a demissão de dois servidores. 

Caso Marielle Franco

De acordo com a Polícia Federal, ficou patente a instrumentalização da Abin, para monitoramento da Promotora de Justiça do Rio de Janeiro e coordenadora da força-tarefa sobre as mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018.

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