Tráfico internacional

PF conclui que militares se uniram para transportar drogas em aviões da FAB

A PF abriu inquérito após militar brasileiro ser preso em flagrante em 2019, em Sevilla, na Espanha, com 37kg de cocaína, quando viajava como parte da tripulação

Por O Tempo Brasília
Publicado em 31 de agosto de 2022 | 15:14
 
 
 
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A Polícia Federal concluiu que dois militares se uniram em uma associação criminosa para transportar cocaína em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). Em relatório enviado à Justiça Federal, são citados dois sargentos da aeronáutica, a mulher de um deles e um traficante de drogas que seria o dono da cocaína levada em avião da comitiva do presidente Jair Bolsonaro (PL) e que culminou na abertura da investigação. 

Mas o esquema era antigo e se desenvolveu dentro da FAB, graças em grande parte à falta de fiscalização nos voos presidenciais. As informações sobre o desfecho do inquérito são da GloboNews e foram revelados nesta quarta-feira (31).

A investigação começou após o sargento Manoel Silva Rodrigues ser preso em flagrante no aeroporto de Sevilha, ao transportar 37 quilos de cocaína em um avião da comitiva presidencial – a droga foi avaliada em R$ 6,4 milhões. O militar era tripulante no avião de apoio da comitiva de Bolsonaro, que estava indo à reunião do G20 – os 20 países mais ricos do mundo –, no Japão.

A Justiça espanhola condenou Rodrigues, em 2020, a seis anos de prisão. Em 15 de fevereiro último, ele foi sentenciado pela Justiça Militar brasileira a 14 anos e seis meses de reclusão por tráfico internacional de drogas. A pena já cumprida pelo militar na Espanha, onde está preso, será descontada da nova condenação. Em setembro de 2020, a Justiça da Espanha negou um pedido de transferência do militar. Com a decisão, ele precisa cumprir a pena integralmente no país europeu.

Rodrigues fez um acordo com a promotoria da Espanha e, às autoridades daquele país, contou que “se aproveitou da condição de militar” para cometer o crime. Disse ainda que deixaria a droga em um centro comercial de Sevilha. Também contou que era a primeira vez que transportava drogas, mas admitiu que costumava revender no Brasil produtos comprados nas viagens a trabalho, segundo ele, para complementar o salário. 

PF aponta que militares transportavam cocaína em aviões da FAB regularmente

No entanto, a Polícia Federal do Brasil apontou que o sargento cometeu o crime outras vezes, usando os mesmos artifícios, por meio de esquema que envolvia outro sargento da FAB e a mulher de Rodrigues. Segundo a investigação, houve tráfico de drogas em ao menos sete viagens oficiais feitas por ele. Em todas, o militar trocou mensagens cifradas com a mulher Wilkelane Nonato Rodrigues que indicam sucesso na empreitada criminosa. 

Foram quatro voos domésticos (São Paulo e Recife) e três internacionais com escalas na Espanha, onde a droga era entregue. Em uma dessas viagens, Manoel Rodrigues enviou a foto de um braço levantado com um terço enrolado no pulso a Wilkelane. Para o Ministério Público Militar, a postagem não representava ato de fé e sim um aviso: o sargento obteve êxito em traficar cocaína em um avião da FAB durante missão oficial diplomática ao Azerbaijão, com escala na Espanha, em abril de 2019.

Além da polícia espanhola, que fez o flagrante, o caso virou alvo de inquérito na Justiça Militar brasileira, que já condenou Rodrigues, e na PF, que instaurou o procedimento para apurar a origem da droga. 

A PF descobriu que não se tratava de um mero caso isolado e concluiu que o sargento Jorge Luís da Cruz Silva, da aeronáutica, era o responsável por recrutar pessoas dentro da FAB para transportar drogas nos aviões da corporação, as chamadas “mulas”.

Jorge e Wilkelane foram presos em operação da PF, em março do ano passado. Outros dois militares da aeronáutica tiveramas prisões decretadas pela Justiça Militar na ocasião.

Investigação da PF apontou destruição de provas e não citou oficiais

Os investigadores da PF apontaram destruição de provas, o que beneficiou outros possíveis suspeitos. A PF só apurou a atuação dos dois sargentos. Não incluiu nenhum oficial da FAB no inquérito. 

Durante a investigação, ficou claro que tripulantes dos aviões presidenciais não eram submetidos a vistorias rígidas por parte do governo brasileiro. 

Em depoimento, um militar da FAB contou que todos os procedimentos no embarque e desembarque das bagagens nos voos da comitiva presidencial eram feitos apenas na base da confiança. 

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