Há um ano, na véspera de Natal, Brasília amanheceu com a notícia de que haveria uma bomba escondida no aeroporto da capital federal, que estava lotado no dia, com pessoas chegando e partindo para passar a data com familiares. 

A notícia era de que o artefato teria sido acoplado em um caminhão tanque que transportava 60 mil litros de querosene de aviação. As investigações da Polícia Federal (PF) mostraram que o veículo iria entrar na área do terminal, o terceiro mais movimentado do país. 

A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) interceptou o caminhão após o motorista do veículo perceber que uma caixa com o explosivo havia sido colocada no interior do caminhão. No local, foi encontrada uma pequena dinamite com temporizador.

O explosivo foi retirado pelo esquadrão antibombas. Mas, a investigação mostrou que uma tragédia apenas não ocorreu porque o detonador falou. O motivo para tal ato era a insatisfação com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2023. 

A PF identificou que o plano foi arquitetado por Wellington Macedo de Souza, George Washington de Oliveira Souza e Alan Diego dos Santos Rodrigues. Para mudar o resultado das urnas, queriam instaurar um momento de caos para resultar em estado de sítio no país. 

Mais tarde foi descoberto ainda que o plano inicial era detonar uma bomba na Rodoviária do Plano Piloto, o terminal que recebe todos os ônibus urbanos da capital. O lugar mais movimentado da capital federal. 

Motivação

O primeiro a confessar o envolvimento na tentativa de atentado terrorista foi o empresário paraense George Washington, 54, foi preso e confessou  ser o responsável pela confecção do artefato explosivo. Ele teria vindo do Pará para participar dos atos contra o resultado da eleição na frente do QG do Exército.

Ele foi o primeiro preso e condenado pelo ato. E, em seus depoimentos, não demonstrou arrependimento. Disse que o objetivo era aguardar as Forças Armadas tomarem frente do país e “pegar em armas e derrubar o comunismo”. 

Segundo a ser preso, Alan Diego contou que o plano inicial de George era deixar a bomba na área de embarque do aeroporto: o check-in. No entanto, disse, aos investigadores, que não “achou correto”. Por isso, improvisou e colocou o artefato no paralama traseiro de um caminhão-tanque, entre 3h e 4h de 24 de dezembro de 2022.

Ele também confirmou que foi levado ao local do crime pelo blogueiro Wellington Macedo, que trabalhou no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos durante a gestão de Damares Alves (Republicanos) na pasta no governo de Jair Bolsonaro (PL).

Wellington já respondia pelo crime de incitar atos contra as instituições democráticas durante o 7 de setembro de 2022 e teve prisão decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Por isso ele usava tornozeleira eletrônica, o que não o impediu de continuar a usar as redes sociais para atacar instituições e até pedir intervenção militar.

E foi graças à tornozeleira eletrônica que a polícia pôde refazer os passos Wellington Macedo e de Alan Diego no dia da tentativa de atentado no aeroporto. Além disso, câmeras de vigilância do terminal aéreo capturaram a ação criminosa da dupla. Após ver seus comparsas presos, o blogueiro fugiu e foi detido em setembro no Paraguai.

Julgamentos

Os três suspeitos viraram réus ainda em 15 de janeiro. O juiz Osvaldo Tovani, da 8ª Vara Criminal de Brasília, aceitou denúncia contra os homens. Condenou George Washignton  a 9 anos e 4 meses de reclusão, em regime fechado, e Alan a 5 anos e 4 meses, também regime inicial fechado. Wellington, na época, estava foragido. 

A 3ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), em setembro, decidiu fazer alterações nas penas. Aumentou a condenação de George Wahshington para 9 anos e 8 meses e 7 dias, e reduziu a de Alan para 5 anos. Já Wellington recebeu pena de 6 anos. Eles estão presos no Complexo Penitenciário da Papuda. 

Durante julgamentos realizados em 2023, o trio foi condenado pela tentativa de explodir a bomba no aeroporto e outros crimes. Os três ainda podem ter que pagar R$ 15 milhões como indenização por colocar em risco a vida, a integridade física e o patrimônio de terceiros. O pedido foi feito pela Advocacia-Geral da União (AGU) à Justiça do DF. 

Mudanças na posse

O caso ocorreu em meio aos receios com a segurança da posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O evento, em 1º de janeiro, contaria com uma série de shows, desfile em carro aberto e uma multidão nos gramados da Esplanada dos Ministérios. 

A segurança de Lula foi alvo de debates no período de transição de governo, com receios de que o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), não realizasse trabalho efetivo nos cuidados ao petista. Diante do cenário, o PT decidiu retirar a segurança aproximada do presidente eleito dos militares do GSI e transferir a responsabilidade para a PF.

Os agentes até mesmo tentaram fazer com que o presidente desfilasse em carro fechado na Esplanada. Contudo, o petista não aceitou. Em 1º de janeiro, mesmo com a tensão, tudo ocorreu tranquilamente e com forte policiamento. Mas, o caos foi instalado dias depois, quando apoiadores do ex-presidente invadiram e depredaram os prédios dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro.