Eleições 2022

Leia na íntegra a entrevista de Cleitinho à Rádio Super

Pré-candidato ao Senado, o deputado estadual foi sabatinado, nesta terça (2), pelo Café com Política, no programa Super N 1ª Edição, na Rádio Super 91,7 FM

Por O TEMPO
Publicado em 02 de agosto de 2022 | 16:20
 
 
 
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O deputado estadual Cleitinho Azevedo (PSC) foi o entrevistado, nesta terça-feira (2), no Café com Política, do Super N 1ª Edição, da Rádio Super 91,7 FM. Pré-candidato ao Senado, Cleitinho está atrás na corrida atrás apenas do deputado federal Aécio Neves (PSDB), conforme a pesquisa DATATEMPO realizada entre 15 e 20 de julho. Leia abaixo a entrevista na íntegra do pré-candidato.

Rádio Super 91,7 FM: O senhor disse na última segunda-feira (1º) que não será candidato ao Senado só se estiver morto. Isso porque houve uma especulação de que o senhor estaria sendo jogado para escanteio pelo PSC em uma negociação política. O que o senhor tem a dizer a respeito?

Cleitinho: “Eu recebi as notícias pela imprensa mesmo. (...) Aí eu fiz questão de fazer um vídeo dizendo que eu não tenho preço, mas tenho valores. Eu queria saber muito quem está por trás disso, quem está querendo me leiloar com o partido. Mas aí, ontem mesmo, parece que conseguiram falar com o presidente nacional do PSC (Pastor Everaldo) e ele disse que quem vai decidir essa situação da candidatura ao Senado, majoritária, Executiva, de governador, apoio é, no caso, as (Executivas) estaduais do Brasil. No caso de Minas Gerais, é o presidente estadual, que hoje é o (deputado federal) Euclydes Pettersen”

Como foi a conversa com o presidente Euclydes Pettersen? Imagino que, depois de ter visto o cenário, o presidente tenha conversado com o senhor para explicar o que está acontecendo. Qual a palavra o presidente te deu a respeito da possibilidade?

“A palavra que ele me deu foi a mesma de quando eu entrei no partido: eu sou candidato a senador.”

Você acha que vem de onde a informação de que o PSC estaria disposto a rifá-lo ou a leiloá-lo?

“Eu acho que vocês poderiam falar pra mim, porque foram vocês que fizeram a matéria (risos).”

Mas não tem nenhuma suspeita?

“Não, não tem como… essa parte minha - que às vezes é até uma falha -, eu nunca fui muito de articular, porque eu nunca me preocupei com o poder. Os caras que ficam por conta de articular 24 horas… eu estava até vendo a entrevista do Eduardo Costa (ao Café com Política, logo antes da de Cleitinho). A gente perde um cara sensacional para a política mineira para um cara (Aécio Neves) que quando eu não era nem nascido, já era deputado, que é o Aécio Neves. Ele está pensando para daqui a quatro anos, não está nem pensando agora, pelo o que eu vi aqui. Ele já está pensando em ser candidato a governador daqui a quatro. Então, assim, essa parte da política, a parte podre, eu não participo. Não tem como eu virar para vocês e dizer ‘é esse, é esse, é esse’ (que está tentando derrubá-lo). Eu não tenho essa maldade, eu não fico por conta de articulação. Eu sempre fui muito sozinho. Eu estou participando de uma campanha agora em que estou tendo, e eu vou precisar, o apoio do presidente estadual, Euclydes. Então, assim, é o cara com quem vou ter mais contato agora e eu tenho que falar dele, porque é um cara ponta firme. A gente acha que na política só tem cara que não tem palavra, que é desonesto. Não, eu estou vendo palavra nele, eu estou vendo sinceridade nele, e eu sei que ele vai comprar essa briga comigo até o dia 5 de agosto, que é o dia da minha convenção.”

O senhor se preocupa com o resultado final da convenção?

“Maldito do homem que confia no homem. A minha convenção é até o dia 5 de agosto. Mas eu espero que o Partido Social Cristão, um partido que é conservador, que veio da bancada evangélica, porque quem criou foram evangélicos, tementes a Deus - o próprio Pastor Everaldo (presidente nacional do PSC) é um pastor, cristão - pratique o que Jesus ensinou.”

O senhor já falou no deputado federal Aécio Neves (PSDB). Aécio Neves, o deputado federal Marcelo Aro (PP), o senador Alexandre Silveira (PSD), qual deles ou quem está por trás da tentativa de te jogar para escanteio? Qual deles é o seu maior rival?

“Não, eu não tenho rival. Jamais vou ter rival na minha vida. Desejo boa sorte para todos. Não faço esse tipo de política de rivalidade, de inimigo. Até oro para eles. Só não vou torcer por eles porque eu sou candidato, não tem jeito de eu torcer para eles. Mas jamais vou desejar mal para eles, jamais vou fazer mal para alguém. Eu acho que é muito feio um candidato que fica por conta de só oferecer maldade. Mostra que ele não tem competência nenhuma, mostra que ele não tem nada para oferecer. Então, não espere de mim, em pré-campanha e em campanha, atacar algum candidato, falar mal de algum candidato, porque se eu estou perdendo com eles eu estou deixando de mostrar o que tenho para oferecer. E eu tenho muito para mostrar para vocês sobre o que eu tenho para oferecer. Eu tenho muito para mostrar, quais são as minhas propostas, quais são as minhas ideias. Quando um cara começa a falar mal do outro, ele está desesperado. É porque ele está literalmente lá embaixo nas pesquisas mesmo.”

Até em função dos resultados das pesquisas, o senhor acha que incomoda essa turma?

“Incomoda, incomoda demais. Eu estou falando do conjunto da obra, tá, gente? Além dos candidatos ao Senado, pode incomodar outras pessoas também. Pode ser gente que está lá no Senado que não me quer lá. Então, pode envolver muita coisa nisso aí ainda que não tem como eu saber, porque, como eu estou falando para vocês, eu nunca participei de um grupo político. Eu nunca tive um grupo político não. Eu sempre fui muito sozinho. Na campanha para vereador, deputado e agora novamente. Hoje, quem estou tendo do meu lado é o Euclydes Pettersen, que é um cara sensacional. É um cara que está comprando essa briga comigo aí. Eu acredito que vai dar tudo certo sexta-feira. Agora, citar nomes para vocês aqui seria leviano da minha parte, porque eu não tenho prova, então não vou fazer isso. O que eu estou recebendo aqui é da imprensa. Então, acho que é a imprensa mesmo que poderia… acho que é uma coisa de ética da imprensa também não poder (falar) de onde vem a fonte. Então, assim, a gente respeita isso. Mas eu não posso receber isso e ficar calado. Eu não posso ver toda hora matéria falando em tapetão, que eu vou ser leiloado e abaixar a cabeça e ficar calado, não. Por isso eu fiz o vídeo, para mostrar que eu não tenho preço e não vou ser vendido não. (...) Eu quero só a vaga (de candidato ao Senado), gente. Quando eu fui para o partido, você pode perguntar para o Euclydes e com o próprio Noraldino - que foi um convite dele também - se eu pedi alguma coisa. Não pedi nada. Só virei para eles e falei assim: ‘a única coisa que quero de vocês é a vaga’. E o meu pai me ensinou uma coisa: ‘não precisa assinar nada, não. Pegou na mão? Peguei. Vão te dar a vaga? Vão, está feito’. Então, está feito.”

O senhor disse que não tem nenhum rival, mas, logo ao entrar na sua rede social, está lá: “Faço um desafio para o deputado Aécio Neves. Se ele está na frente na disputa, vem para disputa comigo.” Tem um adversário direto que o senhor está mirando na campanha, né?

“Eu estou doido para ele vir candidato, louco. Até para fazer justiça agora. Até para poder mostrar para o próprio Eduardo Costa, que estava aqui, que, pelo o que me passou, foi o próprio Aécio que não deixou ele vir vice por causa de negociação, por causa de poder. O que me chama atenção desses caras que são antigos na política é que o projeto nunca é para o povo. O projeto sempre é projeto pessoal e de poder. Nunca é para o povo. Já que ele está liderando a pesquisa com 20 e tantos por cento, eu queria muito… saiu uma pesquisa com dois. Se eu estou com dois, que medo é esse de eu disputar uma eleição, gente? Deixa eu disputar, uai. Deixa eu ir para a disputa democrática. Então, se ele está liderando as pesquisas, eu faço uma convenção para o Aécio: já que Vossa Excelência, experiente, senador, governador, candidato a presidente, esse humilde verdureiro do Varejão Azevedo, que trabalhou lá e tem um mandato de deputado, venha para o pau comigo. Venha disputar a eleição do Senado comigo. Eu queria muito disputar com o senhor. E com respeito. Só com as verdades. É o que canso de falar: se vier para o ataque comigo, eu não vou com mentiras, não. Vou com verdades. Isso eu falo para qualquer concorrente.”

E o que o senhor fala de outros concorrentes, como o atual senador Alexandre Silveira, candidato à reeleição, o deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PL), que, até agora, a gente não sabe se vai ter ou não a candidatura efetivada…

“Vou dar o exemplo do Marcelo Álvaro Antônio: a turma deles vem me atacando com trem de fake news, tem que já votei e já justifiquei o porquê eu sou contra… eu sei que é a turma dele que está fazendo isso comigo, mas eu não tenho que falar mal dele. Eu tenho que falar bem dele. Na época em que ele era ministro do Turismo, a gente precisava de um recurso em uma cidade, eu fui atrás dele e ele mandou o recurso. Eu não faço política para o mal, gente. Não me esperem fazer política para o mal que eu não vou. O Alexandre Silveira virou senador agora, está fazendo um trabalho lá de ajudar os municípios. Eu vi uma reportagem em que ele falou que mandou recursos para quase todos os municípios de Minas Gerais. O Marcelo Aro é um cara que sabe articular, está aí para ser vice do governador em uma situação… estava até desenhando uma chapa em que ele fosse vice e eu fosse candidato ao Senado, mas, infelizmente, a questão do Novo lá em cima não deixa essas coisas acontecerem. Parece que tem todo um ritual deles. O Novo, parece que só eles são bons, são puros, são anjos. Só eles são perfeitos. Eu gosto do partido. Eu acho que o partido tem essa questão de cortar privilégios, etc., eu me identifico com isso. Mas essa parte de eles quererem entrar na política e não fazer política, não tem jeito de você entrar na política e não fazer política, não.”

O senhor foi levado algumas vezes a Brasília para conversar com o presidente Jair Bolsonaro (PL) e, em várias dessas vezes, o senhor estava com o deputado Bruno Engler (PL), que tem uma relação muito próxima com o presidente da República. Uma informação que foi trazida para a gente por integrantes da campanha do PL é que as suas visitas criaram uma insatisfação com o ex-ministro Marcelo Álvaro Antônio, porque a ideia era que o senhor parecia que queria passar na frente na preferência do presidente como uma candidatura. O que tem de verdade nisso?

“Jamais. Eu quero falar do mundo do meu coração, pelos meus dois filhos: quem me fez o convite para ir lá conhecer foi o próprio presidente Bolsonaro. Eu jamais vou passar por cima de alguém. Eu deixo isso para eles resolverem, para eles resolverem. Se o presidente achar que eu tenho que ser o candidato que tem que ser apoiado, eu vou deixar de ter um convite de um presidente da República, gente?”

Mesmo que seja alguém que o senhor criticou?

“Não, não tem problema, não. Ninguém é perfeito. Eu prefiro ser Pedro, porque Pedro questiona e quer o bem. Eu não sou igual a uma turma que usa… eu nunca usei o presidente, gente. Aí é que é a minha vantagem. Eu tenho a minha identidade própria. Eu estou liderando pesquisas sem o apoio de ninguém. Sozinho. Então, alguns precisam encostar em outros candidatos para poder ter alguma relevância. Eu estou falando isso porque é verdade. Eu não estou falando mal de ninguém, não. É fato. Eu já apareci em pesquisa com 19% sozinho. Eu não preciso encostar em alguém e falar ‘vem cá’. Então, assim, eu sei o tamanho que eu tenho em Minas Gerais, hoje as pessoas têm que me respeitar. Eu criei isso aqui sozinho. Então, eu já questionei o presidente, sim, mas por querer o bem do país e querer o bem dele. Eu não uso a imagem dele para me promover, não. Tem muitos que já fizeram isso que são Judas. Beijam e depois traem. Eu não. Eu já questionei porque acho ‘isso aqui precisa melhorar’. Quando a gente vota nas pessoas… igual eu com o governador Romeu Zema. Eu votei nele, eu apoiei ele, eu vesti a camisa dele quando nenhum político conhecia o governador e desdenhava dele lá atrás. Eu vesti a camisa dele, porque eu acreditei. ‘Gente, aqui tem uma terceira via para a gente tirar esse tal de Pimentel e o Anastasia’. A não ser do Novo - o Guilherme da Cunha, a Laura e o Bartô -, fui um dos poucos políticos de Minas Gerais que apoiou ele na campanha. E aí eu apoiei ele, votei nele e quando eu precisar questionar e cobrar não vou fazer isso? Eu mesmo faço isso todos os dias. Eu falo para o pessoal que votou em mim: ‘Me cobrem. Eu estou aqui para ser cobrado. Não estou aqui para ser bajulado. Eu sou empregado do povo. Eu tenho que ser cobrado.’ Quando mais me cobram, mais eu tento trazer resultados. Eu mesmo me cobro todos os dias. Eu acho que, durante esses três anos, eu tive alguns equívocos. Eu errei. Eu fui lá e consertei o meu erro. Então, por que um governador e um presidente não podem ser questionados, não podem ser cobrados para tentar melhorar? Não é perseguição, não. Eu nunca fiz perseguição. Eu já cobrei e já critiquei sim quando achei que precisava ser cobrado e criticado, como eu também já fui criticado e cobrado.”

Uma coisa que o senhor sempre fala nas entrevistas e que me chama atenção é está na política para servir, não ser servido. Não te incomoda o fato de os dois irmãos do senhor estarem na política?

“Eles entraram pela eleição, pelo voto democrático. Eu não coloquei eles em lugar nenhum. Eu podia ter a influência de colocar eles na Assembleia, no Congresso, em Prefeituras, mas eles entraram pelas portas da frente. Só com o meu voto eles não entrariam como prefeito e como vereador, não. Eles quiseram entrar. Foram os próprios partidos que chamaram eles. Em vez de eu apoiar outros em quem não acreditava, eu estou apoiando irmão meu. Tenho um que nasceu junto comigo. Conheço tudo dele, do coração dele, então eu não sei que ele não vai fazer nada de errado. Então, assim, acho que foi democrático isso. Eles estão lá servindo a população, tanto que lá em Divinópolis, quem quiser ir lá ver como está a cidade e como estava antes, vocês vão ver que eu tomei a decisão certa. E, novamente, eu poderia utilizar a minha influência colocando, pedindo, porque eu sei que muitos fazem isso, ‘coloca lá no governo, coloca lá na estatal, coloca em uma Câmara, coloca em uma Assembleia’. Não, eles entraram pela porta da frente, através do voto.”

No que o senhor difere dos outros candidatos que estão colocados para o Senado?

“Não tenho rabo preso. Nenhum. E uma das propostas que eu tenho é fiscalizar o STF, o que é o poder do Senado. Essa é uma das propostas que eu tenho. Eu sou adepto da reforma política também. Acho que o nosso país passou por várias reformas que falaram que eram necessárias, como a reforma da Previdência, a reforma tributária, e a reforma política, em que tem que cortar 12 políticos, ainda não foi feita. Reforma tributária também. Eu sempre questionei isso dentro da Assembleia, mas eu não tinha prerrogativa e competência para fazer isso dentro da Assembleia, que é uma esfera estadual. Quando a gente vai para a esfera federal, tem como a gente propor essas propostas.” 

O que o senhor propõe para fiscalizar o STF. O que não existe hoje que o senhor propõe que tenha?

“Eu acho que tem muita ideologia, virou muita militância. Acho que acaba sendo perseguição. Eu acho que o STF faz uma parte hoje em que acaba que tudo tem que ser o STF.”

Perseguição com quem?

“Contra o próprio presidente, contra o próprio presidente.”

Em quais pautas?

“Várias. Essa do voto agora que tem. Várias pautas. Está aí para todo mundo ver. Você sabe. E eu vou questionar. O presidente, se ele ganhar, novamente, vai ter um aliado para questionar e cobrar isso. Por que na época em que o Kajuru estava pedindo a CPI da Lava-Toga, isso foi engavetado? O Kajuru estava igual a um leão. De repente, ele virou um gatinho. Não teve mais. Qual é o problema dos poderes Legislativo e Executivo serem questionados, fiscalizados, terem CPI e o Poder Judiciário também não ter? A gente vive em uma democracia. Qual é o problema disso? Quem não deve não teme. Eu estou achando que virou uma militância. O que o presidente hoje propõe não pode. Tem que ser avalizado, tem que ser… teve uma época, até para reduzir a gasolina, teve que mandar para o STF para o STF saber… crime para mim é uma gasolina de R$ 9. Agora, reduzir a gasolina é crime eleitoral porque está em época de campanha?”

Mas precisa existir compensação financeira baseada na Constituição. 

“Não teve?”

Mas não foi paga para ninguém até hoje.

“Vai pagar.”

O senhor está acreditando na palavra do presidente da República então?

“Uai, se eu não acreditar nele, vou acreditar em quem? Ele é o presidente da República. Tenho que acreditar.”

Quando o senhor fala que o STF virou militância e persegue as pessoas, o senhor defende, na prática, o quê? Que se mude o formato de escolha? Que haja mandato para os ministros? Como seria o STF na maneira Cleitinho de pensar?

“Eu vou dar um exemplo para vocês: meritocracia, independência. Tem que ser por concurso. Não tinha que ser por indicação política, não. Isso é péssimo. Isso é horrível. (...) Imagine só, sou eleito agora senador, depois presidente e começo a indicar os ministros. Depois, volto a ser presidente ou vou preso e aí, depois, quem vai julgar é quem eu indiquei lá dentro do STF. Pensa para vocês verem se está certo. Então, tem que ter independência mesmo. (...) O problema da política é salvar preso.”

Caso a ideia de meritocracia para a Justiça fosse aplicada para o Poder Legislativo, ou seja, pudesse ser candidato apenas quem tivesse curso superior - o que, vez ou outra, surge -, o senhor acharia válido?   

“Não, não acho. Eu não tenho e eu estou aqui. Agora, eu acho que eu sou um representante do povo. Não tem problema nenhum.”

Mas para o Supremo deveria ter?

“Deveria ter. Agora, aqui não. Eu defendo o povo. O poder maior que defende o povo é o Legislativo.”

E para o Poder Executivo?

“Eu também acho que para o Poder Executivo não. Sabe por quê? Eu vi muitos com curso superior roubando, fazendo um monte de coisa errada. Então, assim, eu acho que a maior virtude para mim de um político é caráter e honestidade. Curso superior é importante? É, muito importante, mas na prática, durante os últimos 30 anos, a política mostrou que não, porque muitos tinham curso superior e ficaram até presos, estavam na cadeia. E tem uns aí que roubaram, desviaram dinheiro, e o país está aí para todo mundo ver.”

O deputado Cleitinho sendo eleito senador e tendo, eventualmente, o presidente Jair Bolsonaro (PL) em um segundo mandato seria base de apoio ao presidente da República? E, além disso, o deputado Cleitinho é, hoje, um bolsonarista?

“Não, eu sou Jesus Cristo. Agora, se ele ganhar, ele vai ter o meu apoio.”

Por quê?

“Ele foi para a reeleição e, naturalmente, se eu ganhar para o Senado, estarei lá. Por que eu vou ser contra ele se acabou de ganhar a reeleição? Tem que torcer para dar certo. Eu não vou ser contra ele, não. Agora, quando eu precisar questionar e cobrar, vou fazer isso, como eu fiz com o governador Romeu Zema aqui. Mas reconheço que o trabalho do governador Romeu Zema é muito bom. O governador Romeu Zema conseguiu colocar as contas em dia. Alguém pode falar assim: ‘Cleitinho, colocar as contas em dia não é mais do que a obrigação.’ Não é mais do que a obrigação, mas os que passaram nem a obrigação fizeram. Então, já é um ponto positivo deste governo, sim. Por mais que ele não vá me apoiar e vai apoiar o Marcelo Aro, eu vou tentar sempre ser equilibrado e justo. Tanto que o Eduardo Costa, respeitado em Minas Gerais inteira, estava falando dele aqui. Eu não tenho isso comigo, essa questão de politicagem. ‘Ah, não, agora que ele não vai me apoiar eu vou só ficar falando mal dele e vou destilar ódio’. Não, o governo dele está sendo bom, sim. Pode melhorar? Pode, mas é toda uma máquina que foi feita para não funcionar que quem chegou agora igual a mim como deputado e a ele como governador já pega uma coisa que não é feita para funcionar enraizada. Então, não tem como em três, quatro anos resolver o problema do país, não. É a mesma coisa do presidente Bolsonaro. Se ele for reeleito… eu oro por ele, gente. Eu oro pelo governador para que as coisas deem certo. Eu sou patriota, quero o bem do meu país. Agora, quando eu precisar achar que precisa melhorar, eu vou questionar. Não vejo problemas nisso. O problema do nosso país foi justamente isso. Você  não pode questionar porque você é burro, petista, etc. Eu não vejo problemas quando a gente acha que tem que questionar, não. Até para melhorar.”

Se hipoteticamente o ex-presidente Lula (PT) fosse eleito e o ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD) também fosse, o senhor oraria por eles?

“Eu vou estar em oração, mas estaria cobrando. Tenho problemas de falar isso não. Agora, a questão do ex-presidente e do próprio Kalil, eu tenho as minhas colocações, com quem não concordo. Igual ao ex-presidente, que já foi preso. Então, assim, se ele ganhar, (...) eu já vou torcer para dar errado? Não, eu quero que o meu país dê certo. E, no caso do ex-presidente Lula e do Kalil, eu sei que tem pessoas que votam neles e gostam de mim. Eu respeito essas pessoas que votam neles e votam em mim. Não é porque eu não concordo com eles que eu acho que essas pessoas não prestam. É isso o que a gente precisa melhorar. Achar um equilíbrio, amadurecer. ‘Ah, não, o Cleitinho não vai apoiar o Lula, então para mim não serve’. Existe isso não. É uma questão de escolha. Cada um de vocês tem uma escolha para votar para presidente. Mesmo assim a gente tem que ser inimigo? Você é pior do que eu? Eu sou melhor do que você? Não existe isso não.”

O senhor traz para a gente o que talvez seria o cenário político ideal, inclusive do ponto de vista do cidadão, em que uma pessoa respeita a outra e em que existe de fato democracia, mas a gente sabe que realmente não é assim que funciona. Quando o senhor fala que se garante na corrida sozinho, sem precisar do apoio de outras pessoas, não seria perigoso do ponto de vista político?

“Não sei, porque foi uma coisa até natural minha trabalhar sozinho desse jeito e chegar aonde eu cheguei. Eu não vejo como perigo não. Se eu quiser me aproximar das pessoas que querem o bem do país, eu vou me aproximar. Quem quiser o bem do país também e quiser se aproximar de mim, eu estou à disposição. Eu só não vou entrar para fazer negociata. Eu só não vou entrar para projeto de poder. Eu só não vou entrar para fazer em benefício próprio. Isso eu nunca vou fazer. Eu tenho a consciência que, desde que eu fui eleito e sou político, empregado da população, eu vou trabalhar pelo povo. Então, tudo o que eu negociar sentado em uma mesa, não é para mim, é para o povo.”

O Senado seria o topo na política ou o senhor tem planos mais para frente?

“Não tenho plano nenhum (mais para frente). O meu plano agora é ser candidato a senador. Eu acho que é muita hipocrisia, loucura… igual a entrevista do Eduardo Costa a respeito do Aécio Neves. O cara (Aécio) estava conversando já pensando daqui a quatro anos. Que loucura é essa, gente? O que estou pensando aqui agora é ganhar para o Senado e deixar as coisas acontecerem. Tanto que eu ganhei para deputado e nem pensei no que ia acontecer. E agora está acontecendo de eu ser pré-candidato a senador. Então, (vou) deixar as coisas acontecerem, porque, se você trabalha, o povo vai te aclamar.”

O que o senhor pensa do orçamento secreto, que é algo muito utilizado pelos senadores?

“É o que falei: errado. Não acho isso legal não.”

Esse é um mecanismo utilizado pela grande maioria dos vereadores que virou uma moeda de troca do governo federal.

“Sempre foi assim e precisa mudar. Se eu estiver lá, vou tentar mudar.”

Como?

“Uai, questionando, cobrando. Se precisar fazer projeto de lei, a gente faz também. Que não seja secreto, que seja transparente. A política para mim tem que ser 100% transparente.”

O senhor é a favor das emendas?

“Não vou ser hipócrita. Para mim, se fizer uma lei e acabar com as emendas, eu estou a favor. Se chegar um projeto desses para eu votar, eu voto, porque o Poder Executivo tem a competência de executar. O Poder Legislativo é fiscalizar e legislar. Então, as emendas, quando eu mando, eu não fico nem glorificando que eu mandei, não, porque é verba pública. Qualquer um de vocês aqui se virar deputado ou senador terá emendas para indicar. Isso qualquer um faz. Qualquer um. É um dinheiro que está ali e você fala assim: ‘indica para a cidade aqui, indica para a cidade ali, indica para um hospital’. Isso qualquer um faz. Então, para mim, na minha humilde opinião, tinha que acabar com isso. Agora, se não acabar, eu não vou ser hipócrita. Se eu tenho para indicar, qual é o problema de eu pegar e indicar para uma cidade que está precisando? Eu vou indicar. Está ali para eu indicar. Vou falar ‘não vou querer não’?”

Até porque no cargo atual, o senhor busca emendas também, não é?.

“Claro. Agora, se quiser acabar com elas também, eu continuo o meu mandato da mesma… eu acho que é isso que acomoda um legislador (sic). Eu acho que ele pega e faz um curral de apoio em uma cidade, uma associação, uma instituição, vai mandando as emendas e deixa de fazer o principal de um deputado ou senador - o que eu fiz, está aí para todo mundo ver - que é a fiscalização e a legislação. Aí, eu saí do conforto, do ar condicionado, e, às vezes, as pessoas me julgam e falam ‘ah, esse cara gosta demais de aparecer, toda hora ele está fazendo um vídeo, toda hora está fiscalizando’, mas é a minha função. Eu fiz o que a minha função me mandou fazer, fiscalizar e legislar. Eu tenho mais de 300 propostas na Assembleia. Foram aprovados nos últimos dois meses dois projetos que viraram lei, um da Taxa de Renovação e Licenciamento (de Veículos, TRLV), em que, a partir do ano que vem, vai se cobrar R$ 20 e era R$ 135 e vai tirar R$ 2 bilhões do Estado para devolver para o bolso da população, e outro projeto para acabar com essa patifaria de abrir licitação de lagostas, caviar, essas coisas que são desnecessárias. Acho que se eu quero fazer isso, pago do meu bolso, não é? E tem outro que votou em 1º turno que é a cobrança de taxa indevida de tratamento de esgoto em que a Copasa atua. Em cidades que não tiver o efetivo tratamento e for comprovado, tem que dar desconto na tarifa de água.”

Quando o senhor fala do Estado de Minas Gerais "inchado", onde o senhor vê o Estado "inchado"? 

“Várias estatais para mim não funcionam, a própria Copasa é uma. Tem outros exemplos que vão para a parte do judiciário, do legislativo. Eu fiz um projeto há três anos. Como você quer cobrar do povo se a política, os poderes, não dão um bom exemplo? Não cortam da própria carne? Eu fiz um projeto para tirar o auxílio moradia e o auxílio moradia e o auxílio paletó e o projeto está engavetado. Mas aí o regime precisa ser para o servidor? O servidor que prestou um concurso, que não tem culpa nenhuma, é um patrimônio da máquina pública, aí ele tem que pagar a conta das incompetências passadas? Eu não vou julgar o governador, porque eu sei que ele entrou agora, mas aí tem que colocar tudo no 'lombo' do servidor? Tem que ter um equilíbrio nisso aí. O problema da política é que ela não dá o bom exemplo, nunca corta dela, mas quando a corda aperta, corta é do povo, no caso agora está sendo do servidor. Pode ser meu irmão como prefeito, ele virar governador, o meu pai virar presidente, mas se for alguma coisa contra o povo eu voto contra, isso é um legado meu.” 

Se fosse o senhor governador quando houve toda a polêmica que se iniciou com as forças de segurança e depois foi se espalhando para outras áreas, o que o senhor faria?

“Eu me virava, dava um jeito, eu não estou lá ainda. Se eu estivesse lá eu daria um jeito. Em 2019, se ele prometeu um reajuste, ele deve ter estudado uma forma de pagar. Ele que deveria estar aqui, explicando para a gente por qual motivo ele prometeu e não deu (o reajuste)? Eu, no meu gabinete, eu sei o que eu posso prometer para os meus assessores. Se ele estava lá, viu as contas do Estado, por quê ele não deu o reajuste? Essa pergunta deveria ter sido feita para ele, não para mim. Eleito senador, o que o senhor pensa sobre a proposta de dar mais recursos aos municípios? A gente tem que passar o orçamento maior aos municípios, são eles que possuem a demanda maior, eles que pegam o "rabo". Se eu puder como Senador propor isso, eu acho importante. Eu sou municipalista. Eu tenho um irmão que é prefeito, eu vejo a situação. Às vezes, quer fazer tudo e não tem receita para fazer. Muitas vezes os impostos ficam na esfera federal, sobra um pouco para o Estado e muito pouco para o município, que tem que fazer e tomar conta de tudo. “

Os críticos a essa proposta costumam dizer que isso daria margem para aumentar a corrupção. Como o senhor avalia que deveria ser o controle para onde vai o dinheiro?

"Tem vereador e deputados para fiscalizar. Para que serve o Legislativo então? Os que criticam são os mesmos que deveriam fiscalizar. Para mim a maior função do Legislativo é a fiscalização. Um dos maiores projetos que a gente tem para combater a corrupção é a fiscalização."

Esse é um cenário ideal, mas a gente sabe de vereadores de diversas cidades, de municípios grandes, que o acesso aos senadores e aos deputados federais é difícil. Como conseguir então para que esses vereadores consigam fiscalizar essa situação?

“Uma das propostas que eu tenho é fazer o Senado ficar mais próximo do povo. As pessoas muitas vezes perguntam no dia da votação em que vão votar para senador. O senador parece que é um faraó,  deus, ninguém sabe quem é. Eu quero ser um senador presente. O erro da situação é que como são oito anos (de mandato), alguns se acomodam, trabalham só quatro anos. Eu quero ser um cara presente nos municípios, com os prefeitos. Eu sei que eu não tenho apoio nenhum, só do meu irmão, porque é meu irmão, mas se eu ganhar os 853 municípios me terá para poder servir e ajudar junto com os vereadores. Serei presente, não o salvador, porque não existe salvador.” 

O cenário do Senado prevê que, uma vez que você esteja lá, o senhor vá defender os direitos de Minas Gerais. No caso mais recente da redução do preço dos combustíveis, da alíquota de ICMS, que impactam o caixa de Minas Gerais. Como o senhor vê a possibilidade como Senador articular perdas para o Estado e defender a pauta no ponto de vista da inflação?

“O governador está falando em perdas para o Estado, mas o Estado é do povo. Esse dinheiro que está perdendo é do povo, quem paga é o povo, nós que pagamos. Se reduzir, nós vamos pagar menos imposto.” 

. Mas tem que pagar a folha dos integrantes do Estado? 

“Mas não está pagando? Está atrasado? Está pagando do mesmo jeito.”

Mas não é porque hoje não paga as dívidas com a União em função de liminares?

“Precisa segurar isso aí, porque se cair o Estado está ferrado.”

O senhor é favorável a esse Regime de Recuperação Fiscal (RRF)?

“Essa situação precisa se equilibrar, porque prejudicar um servidor que se planejou ser servidor, fez todo um plano para a sua vida, eu acho errado. Tinha que valer para os servidores que virão. Para os que já estão eu acho injusto, porque na hora que eu me propor fazer um concurso eu já vou saber que será assim. Mas aquele que já fez um concurso e está tendo prejuízo agora? Eu acho errado.” 

Se o Cleitinho desistisse da candidatura ao Senado, desistiria em troca de quê? O senhor desistiria do Senado para disputar um outro cargo?

“Eu não pensei em nada se não for candidato a senador. Se chegar dia 5 de agosto e se Deus me livre e guarde me falarem que não serei candidato, eu não sei o que eu vou fazer. Quando eu conversei com o PSC, eu deixei bem claro que eu queria ser candidato a senador. Eu estou me preparando e trabalhando para ser candidato a senador há três meses. Então, se vier, será um banho de água fria no dia 5, lembrando que nessa data estaremos há dez dias da campanha. Eu não sei o que eu vou fazer, estou falando de coração.”

Se o partido do senhor em alguma composição pedir para você seja suplente em alguma chapa, seja do governador Romeu Zema, seja do ex-prefeito Alexandre Kalil... Qual é a chance do Cleitinho Azevedo aceitar?

“É de zero, negativo. Com toda humildade, nada contra, não estou sendo prepotente, mas eu estou liderando pesquisa, por qual motivo teria que ser suplente?” 

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