O ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro afirmou em entrevista ao canal GloboNews que deve trabalhar na iniciativa privada, mas não rechaçou uma candidatura à Presidência da República em 2022. Na conversa, ele disse ainda que se incomodava com a postura que chamou de "negacionista" do governo em relação à pandemia e comparou a ausência de autocrítica de Jair Bolsonaro e com postura semelhante do PT.
"É muito difícil avançar se não olhar para trás e corrigir seus erros. O presidente também tem esse lado que erra ao negar a pandemia. Não que não tenha feito coisas positivas. O PT tem esse lado que acha que não aconteceu o mensalão, que não houve crimes na Petrobras, que a culpa disso é minha... Uma forma de recuperar a confiança é reconhecer o que fez de errado no passado", declarou Moro na entrevista.
"Entrei no governo e, quando percebei que não tinha condições de cumprir a agenda que defendo, não ia ficar lá de enfeite. Tenho que ser fiel aos meus princípios. Pode ter coisas que até me arrependo. Se o PT quiser ser competitivo, tem que reconhecer os erros do passado", completou o ex-ministro.
Ao falar de 2022, Sergio afirmou que não é o momento para esse debate, e criticou a postura do governo diante da pandemia do novo coronavírus.
"Embora não fosse um tema afeto à minha área, eu me sentia desconforável com essa postura negacionista do governo, que dificultava o combate à pandemia. Mas acho que ninguém em sã consciência hoje deve ficar pensando em 2022", afirmou, completando com uma análise da disputa das próximas eleições.
"Acho que o foco deve ser 2020 e não 2022 agora. Seja por mim, seja por qualquer agente político. E vão ter vários candidatos lá em 2022. Tem bons nomes. O próprio presidente vai, pelo jeito, tentar a reeleição. Mas tem lá outras pessoas que podem ser o versus ele, e que podem desempenhar esse papel. Tem o Luciano Huck, tem o governador de São Paulo João Doria, tem o ministro (Luiz Henrique) Mandetta. Eu sinceramente acho que o ministro Mandetta fez um trabalho no ministério da Saúde, dentro da pandemia, fenomenal. Eu não o conhecia antes, mas é um dos personagens que se vê que cresceu na crise. Tem aqueles personagens que diminuem diante de uma crise. E ele cresceu, passava tranquilidade ao país, colocando aquelas questões de maneira muito clara. Então, não faltam candidatos. E eu não estou falando que eles vão concorrer, não vai nebnuma crítica aqui a eles, embora o foco tenha que ser agora 2020", disse Moro.
Indagado novamente se ele descartava a candidatura, Moro não respondeu. Apenas afirmou que quer continuar no debate.
"Veja, eu tava na magistratura por 22 anos. Então, tinha um cenário na minha vida. Aí fui para o Ministério da Justiça. Meu plano, como eu disse, era ficar até 2022 e fazer um bom trabalho ali. Aí tinha aquela especulação: 'Ah, vai pro Supremo, não vai pro Supremo'. Mas, na verdade, meu foco sempre foi fazer trabalho no ministério. Infelizmente tive aquele percalço, o presidente nao me deu condições para continuar no governo e tive que abandonar. Fiz com muito pesar, e agora preciso me reinserir no mundo. E eu estou precisando encontrar essa forma ainda. Eu vou provavelmente trabalhar no setor privado de alguma forma. Estou num período de quarentena jurídica. O que eu tenhoo e posso lhe assegurar é que gostaria e quero continuar participando do debate público. E para tanto não preciso ter um cargo. Eu posso continuar falando. Eu acho que tem essa história da Lava Jato, dentro do próprio governo, que me habilita a ser uma voz a ser ouvida no debate. Essas questões são perenes: combate à corrupção, estado de direito, diminuição dos índices de violência... Vão permanecer necessários por muito tempo e pretendo continuar participando do debate público", completou.