Administração

Municípios não têm controle eficaz para prevenir corrupção

Apenas um quarto das cidades com até 20 mil habitantes possui estrutura adequada de fiscalização

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 18 de novembro de 2019 | 03:00
 
 
 
normal

Os municípios brasileiros apresentam deficiências em suas estruturas de controle interno para prevenir a corrupção e o mau uso do dinheiro público, aponta uma pesquisa realizada pelo projeto Controla Brasil, iniciativa do Instituto Não Aceito Corrupção.

Segundo o estudo, só uma de cada quatro cidades com mais de 20 mil habitantes que responderam ao levantamento tem um sistema completo de controle, com ouvidoria, auditoria, corregedoria e controladoria. 

A situação, porém, pode ser pior ainda: dos 1.037 municípios nessa faixa populacional e com canais para envio de pedido de informação, apenas 337 responderam à pesquisa – mesmo estruturadas, as prefeituras não dão o devido andamento às solicitações.

Segundo as diretrizes do Conselho Nacional de Controle Interno (Conaci), a ouvidoria é o órgão que recebe as denúncias e as reclamações; a auditoria verifica a aplicação dos recursos públicos e as denúncias recebidas pela ouvidoria; a corregedoria apura eventuais irregularidades e responsabiliza os envolvidos; e a controladoria acompanha a execução das políticas públicas.

"A falta de qualquer uma dessas estruturas gera impunidade. Internacionalmente, não há qualquer dúvida – quer no plano público ou no privado – de que as fraudes e a corrupção diminuem quando os mecanismos de controle interno funcionam bem. Você evita que isso aconteça utilizando estruturas dentro da própria organização", disse o presidente do instituto e procurador de Justiça em São Paulo, Roberto Livianu.

Em Minas Gerais, metade dos 45 municípios que responderam à pesquisa possui alguma das quatro estruturas. Assim como na média nacional, apenas um a cada quatro municípios conta com o sistema de controle completo.

De acordo com o presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, o objetivo do projeto Controla Brasil é acelerar a implantação dos sistemas de controles internos no país. O próximo passo do projeto é iniciar conversas com prefeituras para dar treinamentos e apresentar o kit controladoria, de forma que os municípios avancem no controle interno.

Transparência

O levantamento feito pelo Instituto Não Aceito Corrupção aponta também para a falta de transparência, mesmo após sete anos de vigência da Lei de Acesso à Informação (LAI): das 1.651 cidades com mais de 20 mil habitantes, 1.037 tinham um canal ativo para o envio de pedidos de informação; destas, 700 – 67,5% – não responderam às solicitações, mesmo sendo obrigadas por lei. Nenhuma cidade de Roraima e do Piauí respondeu, nem mesmo as capitais.

Para o diretor executivo da Transparência Brasil, Manoel Galdino, isso acontece porque em muitos municípios de menor porte a LAI ainda não foi regulamentada, já que não há sociedade civil organizada ou órgãos de imprensa locais para fiscalizar as prefeituras. Porém, de acordo com ele, o problema é mais amplo. “Mandamos pedidos para todos os Ministérios Públicos estaduais. Não foram todos que responderam ou responderam no prazo. O próprio órgão fiscalizador não cumpre a lei”, disse.

Fusão de cidades melhora a prevenção

A proposta do governo Jair Bolsonaro de fundir municípios que tenham menos de 5.000 habitantes e receita própria equivalente a menos de 10% da receita total, se aprovada, pode aumentar o controle interno nas prefeituras e também aumentar a transparência dos dados das gestões municipais, afirma Roberto Livianu.

“A tendência é que os municípios menores tenham menos condições de ter controle interno porque isso gera gastos. Ou seja, aumenta o ambiente propício para práticas de desvios e corrupção. Com a fusão, você reúne melhores condições para ter o controle interno e aumenta a prevenção à prática de desvios”, disse Livianu.

A fusão de municípios também pode aumentar a transparência dos atos das prefeituras em todo o país. A Lei de Acesso à Informação dispensa municípios com até 10 mil habitantes da obrigação de disponibilizar, nos sites das prefeituras, informações sobre licitações, despesas, respostas para as perguntas mais frequentes da sociedade e dados para o acompanhamento de projetos e ações de governo.

“Com a fusão, aumenta as chances de esses municípios, ao serem integrados a municípios maiores, que cumprem mais exigências, terem uma transparência maior nas informações”, afirma o diretor executivo da Transparência Brasil, Manoel Galdino.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!