belo horizonte

'No meu gabinete não existe 'rachadinha', diz vereador Flávio dos Santos

Parlamentar, investigado pelo Ministério Público, afirmou que ex-funcionários querem prejudicá-lo

Por Carolina Caetano
Publicado em 22 de agosto de 2019 | 18:00
 
 
 
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O vereador Flávio dos Santos (Podemos), investigado pelo Ministério Público por suposta prática de "rachadinha", em que teria se apropriado de parte do salário dos funcionários do gabinete dele, negou que tenha realizado qualquer tipo de ato ilícito. Em entrevista à reportagem de O TEMPO, na tarde desta quinta-feira (22), no escritório do advogado, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, o político afirmou que as denúncias foram inventadas por dois ex-funcionários após serem demitidos.

"No meu gabinete não existe rachadinhas. As denúncias foram feitas por pessoas que eu demiti porque trabalharam mal, e eles ficaram nervosos e começaram a inventar coisas do meu mandato. Cada vereador pode colocar, no máximo, 18 assessores em seu gabinete. As denúncias foram veiculadas por dois, e os outros 16 assessores não iriam participar?", disse.

Durante a entrevista, ele falou de uma das funcionárias, que teve uma conversa por telefone gravada em que, supostamente, falaria do esquema. Na versão dele, o valor que a idosa deu seria referente à compra de um carro. 

"Ela tem 67 anos, é surda, eu vendi para ela um veículo Uno pela importância de R$ 5 mil para ela me pagar parceladamente. Tão logo eu vendi, ela transferiu para o filho dela. Tinha mês que ela pagava R$ 500, tinha mês que dava R$ 1 mil e tinha mês que não dava nada justificando que estava apertada com problemas familiares. Ao invés de pagar em cinco pagamentos demorou mais de dez. Ela continua trabalhando normalmente, acabou de pagar o carro e finalizou a entrega do dinheiro", detalhou o parlamentar.

Sobre a mulher que conversa com a funcionária dele na gravação, Santos afirmou que é uma ex-assessora que ajudou nas eleições. "Eu dei um cargo para ela, mas fiquei sabendo depois, pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral), que ela era candidata na minha região. Ela ia nas minhas reuniões para colher alguma meia dúzia de eleitores", afirmou.

O vereador também diz que um dos funcionários demitido não teria se conformado após não conseguir uma vaga para a companheira no gabinete dele. Nas palavras do político, o homem teria começado a fazer "falcatruas" para derrubá-lo.  "A primeira falcatrua dele foi penetrar na minha casa, na minha ausência, arrebentar o lacre da energia elétrica e ligar para a Cemig. A Cemig foi lá e trocou o meu relógio. Felizmente, a troca foi boa para mim, minha conta abaixou R$ 35. Mas a intenção dele não era me ajudar, nunca existiu 'gato' na minha casa", detalhou.

Um outro ponto destacado pelo vereador foi em relação ao segundo funcionário demitido, que, de acordo com ele, teria entrado na casa da família. Ainda conforme o parlamentar, teria sumido do imóvel a quantia de R$ 7 mil.

"Ele apoderou- se da chave da minha casa, que ficava no carro, enquanto eu estava na Câmara Municipal e não tinha ninguém lá. Pelas câmeras de monitoramento vi que, durante o período que guardei o dinheiro e a quantia sumiu, ele foi a única pessoa que entrou lá, ficou por oito minutos e depois retornou para a Câmara", disse Santos.

Questionado pela reportagem se não registrou nenhum boletim de ocorrência em relação aos dois casos, o vereador afirmou que vai  tomar as providências cabíveis quando estiver "amparado e documentado".

Vereador rebate outras acusações:

Suplente

Segundo o parlamentar, após as demissões, os ex-funcionários teriam se "aliado" ao suplente dele. "O meu suplente é da minha região. Eles (ex-assessores) se reuniam com o meu suplente para me derrubarem, o meu suplente prometendo vantagens para eles somava para fazer as denúncias contra a minha pessoa, mas, graças a Deus, eu não devo nada", disse. 

Fraternidade

Fundador de uma fraternidade espírita na região Leste de Belo Horizonte, o vereador afirmou que se afastou do cargo da presidência. Ele e mais uma outra pessoa que arcam com todas as despesas, sem cobrar nenhum valor dos frequentadores. 

"Essa instituição recebeu uma emenda parlamentar da deputada Arlete Magalhães. Lamentavelmente, por erro do presidente, do tesoureiro, da instituição, o governo fez com que essa devolução de R$ 180 mil fosse devolvido aos cofres do governo. Como eu sou fundador dessa instituição e ela é na minha casa, eu não quis deixar que o nome da instituição rolasse. Assumi a dívida, paguei R$ 197 mil, sendo R$ 16 mil só de juros. Eu mostrei para todos os funcionários o meu extrato do imposto de renda um ano antes de ser vereador e os dois anos de vereador eram compatíveis para que eu pudesse sanar a dívida com o Estado. Eu não pedi para que eles fizessem 'vaquinha'", disse.

Sobre o carro usado pelo vereador, ele afirma que o veículo, uma Montana, foi ganhada através da mesma emenda e é usada para buscar doações que a fraternidade recebe e, posteriormente, entrega para quem necessita. Na versão dele, não teria nenhum tipo de ilegalidade.

Ameaças e imagens de câmeras

Na entrevista, o vereador, acompanhado de um assessor, afirmou que o parlamentar e a família já receberam ameaças através de mensagens. A reportagem pediu para ter acesso ao conteúdo dos textos e também as imagens das câmeras de monitoramento que teria flagrado o ex-funcionário na residência, mas, por orientação do advogado que acompanhava a conversa, Flávio dos Santos informou que em outro momento vai divulgar o teor das ameaças e as imagens.

Os citados

O ex-assessor Edilson Sena, de 42 anos, rebateu as acusações do vereador. "Eu trabalhava em frente à casa dele, e no dia que a Cemig foi lá, cheguei perto para saber o que estava acontecendo. Não mexi em nenhum lacre. A minha companheira trabalhou na campanha e ele tinha prometido um cargo para todos que ajudaram. E isso não aconteceu. Já em relação ao suplente dele, eu nem o conheço pessoalmente", afirmou. 

A reportagem de O TEMPO ainda não conseguiu contato com as outras as pessoas que foram citadas pelo vereador. A matéria será atualizada assim que os citados se posicionarem.


Ministério Público 

Por meio de nota, o Ministério Público do Estado de Minas Gerais afirmou que "as apurações referentes ao vereador Flávio dos Santos estão em fase inicial e correm em sigilo. Portanto, não há detalhes a serem informados". 
 

 

Atualizada às 20h07

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