De olho nas eleições municipais deste ano, o partido Unidade Popular (UP), sigla mais jovem do país e que teve o seu registro aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em dezembro do ano passado, pretende lançar candidatos aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador em dezenas de cidades de Minas Gerais e de outros 20 Estados brasileiros em que a legenda possui comissões provisórias.
“Nós temos a perspectiva de lançar candidaturas em todos os lugares em que a UP está presente. Nós estamos fazendo um debate junto ao povo e às comunidades, realizando assembleias e reuniões. O resultado dessas discussões se torna a nossa plataforma eleitoral e também é de onde surgem os nossos candidatos”, explicou o presidente do partido, Leonardo Péricles, que lançou na sexta-feira passada sua pré-candidatura à Prefeitura de Belo Horizonte.
Trigésima terceira legenda em atividade no país, a UP utiliza o número 80 e tem o lema “Pelo socialismo”. Ela começou a ser criada em junho de 2013, quando uma onda de manifestações tomou várias cidades brasileiras, mobilizando milhares de pessoas no que se tornaria, naquela época, a maior série de protestos de rua desde o movimento pelo impeachment do então presidente Fernando Collor, em 1992.
“Ali, a gente chegou à conclusão de que havia um esgotamento dos partidos existentes, tanto no campo da direita quanto no da esquerda. Não existia nenhuma organização que se propunha aos compromissos que nós assumimos, que são de conectar com a periferia, com o povo pobre e com a classe trabalhadora do Brasil”, lembra Péricles, que é morador da ocupação Eliana Silva, no Barreiro, em Belo Horizonte, e dirigente do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).
Passadas as manifestações, a UP foi formalmente criada em 2016. Durante dois anos, seus militantes, que são principalmente estudantes voluntários, coletaram 1,2 milhão de assinaturas em 17 Estados, sendo que 497 mil delas foram reconhecidas pelo TSE. A quantidade superou o mínimo necessário de 491 mil assinaturas para a validação de um partido em 2019.
Recursos
Questionado sobre quanto foi investido pela UP no processo de coleta de assinaturas, Péricles disse que todo o trabalho foi realizado por voluntários. “Foi investida força humana (para a coleta de assinaturas). Nós fizemos uma campanha com trabalho voluntário, uma coisa que precisamos resgatar no campo da esquerda. Um dos nossos princípios é que o nosso trabalho não pode ser pautado no poder do dinheiro, tanto que a gente não aceitou nenhuma doação de grande empresário”.
Apesar de dinheiro não ter sido um problema para a criação do partido, a situação financeira da legenda deve melhorar nos próximos meses. A UP terá direito neste ano aos fundos Eleitoral e Partidário, cuja distribuição é feita pelo TSE. “Nós vamos vencer os processos eleitorais e as grandes disputas políticas na sociedade com trabalho voluntário, com as pessoas fazendo porque acreditam, e não porque recebem dinheiro”, garantiu.
Propostas
De acordo com o estatuto do Unidade Popular, a sigla tem o objetivo de “apoiar a luta pelo socialismo no Brasil e promover a unidade das forças populares para intervir no processo político do país”.
Orientada pelos “princípios e pela teoria do socialismo científico”, a legenda tem o nome inspirado na Unidade Popular chilena, que foi uma coalizão de partidos de esquerda formada, em 1970, para apoiar Salvador Allende na disputa presidencial. A coalizão chilena governou o país sul-americano até 1973, quando foi derrubada por um golpe militar.
O programa possui 25 pontos e tem como mote a “luta pelo socialismo, o combate ao capitalismo e a planificação da economia como meio de acabar com as desigualdades regionais e sociais”.
Eles propõem a reestatização das estatais privatizadas, o fim dos leilões do petróleo, a revisão das concessões dos portos, aeroportos e estradas brasileiras.
A UP defende a garantia de emprego e trabalho obrigatórios para todas as pessoas adultas capazes de trabalhar e a proibição do trabalho infantil.
Para o meio rural, o partido quer executar uma “reforma agrária popular”.
Outra pauta é o “fim do vestibular ou qualquer processo seletivo”. Ainda na educação, os socialistas querem a “garantia de livre acesso do povo à universidade e cursos técnicos profissionalizantes” e educação pública e gratuita para todos os níveis do ensino.
Estão no manifesto a preservação do meio ambiente e a demarcação imediata das terras indígenas, assim como seguir as “recomendações do Conselho de Direitos Humanos da ONU referentes à desmilitarização da polícia no Brasil”.
Também são citados o aumento dos salários dos trabalhadores, a diminuição da jornada de trabalho, o posicionamento contrário à discriminação racial, social e de gênero, além do combate à corrupção.