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Prédio do P7 Criativo tem destino incerto após obras de R$ 56 milhões

Reforma da sede do antigo Bemge abrigaria projeto de fomento da economia criativa em BH

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 11 de maio de 2021 | 03:00
 
 
 
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Após o governo de Minas gastar cerca de R$ 56 milhões na reforma e revitalização do prédio do antigo banco Bemge para sediar o P7 Criativo, a administração de Romeu Zema (Novo) sinalizou que vai cancelar o projeto.

A construção, localizada na praça Sete, no centro de Belo Horizonte, receberia o projeto que é um misto de coworking e agência de desenvolvimento da economia criativa em Minas Gerais.

Agora, após a obra iniciada em maio de 2018 na gestão de Fernando Pimentel (PT) ficar pronta, o governo sinalizou às empresas que fazem parte do projeto que o P7 Criativo vai ser descontinuado. O comunicado foi feito em uma reunião na última quinta-feira. O destino do prédio ainda não está claro.

Atualmente, nove empresas integram o projeto. São empreendimentos de tecnologia da informação, gestão de eventos, internet das coisas e um escritório de advocacia especializado em startups, entre outras. Elas estão sediadas em um endereço provisório na Avenida Afonso Pena, 4.000. A ideia original era de que, quando a reforma ficasse pronta, elas se transferissem para o prédio do antigo Bemge.

Segundo representantes das empresas ouvidos por O TEMPO, eles visitaram o prédio reformado há mais de um ano, antes da pandemia, quando a reforma ficou pronta. Mesmo assim, a mudança não ocorreu.

Faltava apenas um laudo de vistoria do Corpo de Bombeiros para que a mudança fosse efetivada. O problema seria nas escadas de incêndio: os bombeiros têm que atestar se a altura dos degraus é segura.

O prédio, projetado pelo famoso arquiteto Oscar Niemeyer em 1953, é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais.

Além das empresas, os 25 andares do prédio receberiam um memorial para resgatar a história do edifício e da praça Sete, além de uma biblioteca pública. No último andar seria construído um restaurante panorâmico.

Composição

O P7 Criativo é uma associação sem fins lucrativos criada a partir de uma parceria entre o governo de Minas, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, a Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge) e a Fundação João Pinheiro (FJP), com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) – o Sebrae Minas deixou o projeto após o fim do convênio, em dezembro de 2019.

Inicialmente, a projeção era de que a obra custasse R$ 45 milhões, sendo R$ 28 milhões da Codemge e R$ 17 milhões do BNDES. Porém, segundo uma fonte, a Codemge desembolsou R$ 49 milhões e foram usados apenas R$ 7 milhões do BNDES, totalizando R$ 56 milhões na revitalização. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico não confirmou os valores.

Na reunião de quinta-feira, o governo, por meio dos assentos que têm no conselho da associação, encomendou um estudo sobre os impactos econômicos, financeiros e jurídicos do encerramento do projeto, que deverá ser apresentado no prazo de 30 dias.

Existem dúvidas em relação a dois pontos principais: o dinheiro do BNDES e o destino do prédio reformado.

No caso do empréstimo, os questionamentos vão desde se será necessário devolver todo o dinheiro recebido ou apenas os R$ 10 milhões que não foram utilizados, até quem vai arcar com essa despesa.

Procurado, o banco disse que o contrato permanece ativo, em fase de acompanhamento, e que não foi informado sobre a eventual decisão de encerrá-lo. Na terça-feira (11), após a publicação desta matéria, o BNDES informou também que, dos R$ 17 milhões previstos, desembolsou apenas R$ 7 milhões e que, por isso, não há o que se falar sobre a devolução dos R$ 10 milhões que não foram utilizados, já que eles sequer foram repassados para o P7.

O outro ponto é em relação ao destino do prédio projetado por Oscar Niemeyer. A Fundação João Pinheiro cedeu o edifício para a Codemge em 2017, já com o objetivo de destiná-lo ao P7 Criativo. “Agora, com sua desocupação, a FJP vai discutir com o governo a destinação”, informou a fundação.

Outro lado

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico está avaliando as alternativas para o projeto. A expectativa é de que outra destinação para o edifício possa gerar retorno de caixa, de modo a recuperar em parte ou em sua totalidade os recursos investidos até o momento”.

Estudo é crucial para fechamento

Será a partir da conclusão do estudo de impacto que a decisão por encerrar o projeto será tomada.

O clima entre as empresas é de que todo o contexto aponta para o fim do projeto. “Eu diria que (a opção pelo possível fechamento) está alinhado à política do governo de desinvestimento tanto na Codemge quanto na Cemig, que é o que a gente está vendo”, disse o diretor científico da Liase, Fernando Silva Parreiras. A empresa é uma das que participam do projeto.

A Fiemg confirmou que foi solicitado ao Conselho da Associação do P7 Criativo uma avaliação dos impactos, mas ressaltou que as equipes das instituições ainda estão estudando o assunto.

O Estado detém, por meio da Codemge, 51% da Codemig. O governador Romeu Zema já manifestou a intenção de privatizar esta última. Um projeto de lei pedindo autorização para vendê-la tramita na Assembleia desde o fim de 2019.

Previsão era de criar 9.600 empregos

Quando o P7 Criativo foi lançado, o governo de Fernando Pimentel (PT) apresentou um estudo de viabilidade. O texto previa que, quando o projeto estivesse em pleno funcionamento, seriam criados 1.600 empregos diretos e 8.000 indiretos. Era esperada movimentação anual de R$ 113 milhões.

A capacidade máxima seria atender 112 empresas de pequeno porte, 25 empresas de médio porte e dez empresas de grande porte.

“A ousadia dessa gestão é criar um projeto para atingir um nicho de mercado dos profissionais criativos que não tinham um guarda-chuva com o qual eles pudessem se identificar”, explicou a então diretora de Fomento à Indústria Criativa da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), Fernanda Medeiros Machado, em julho de 2018.

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