Entrevista

'Quem disse que os militares torturavam e assassinavam?'

General da reserva considera AI-5 um instrumento necessário para evitar o que ele chama de 'ditadura do proletariado'

Por Bruno Mateus
Publicado em 13 de dezembro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Marco Antônio Felício da Silva

General da reserva do exército

Militar defende a edição do AI-5, a que considera um instrumento necessário para evitar o que ele chama de “ditadura do proletariado”. Na entrevista, ele critica a esquerda brasileira, nega violações cometidas na ditadura e louva o período militar entre 1964 e 1985.

Qual era a sua atuação nas Forças Armadas em 1968?

Eu era um jovem primeiro-tenente e oficial de informações de uma unidade de artilharia que se situa nos arredores de Juiz de Fora. Participava também das atividades da seção de informação da 4ª Região Militar.

O que o AI-5 representa para o senhor?

A possibilidade de você ter a liberdade que hoje você desfruta. Se não fosse o AI-5 naquela época, o Brasil entraria na escuridão. O país conseguiu a proeza de eliminar o movimento subversivo após 1964, que tantos males causou ao país, praticamente de uma forma em que as baixas foram muito pequenas de ambos os lados. O AI-5 foi necessário para que os militares pudessem neutralizar o movimento comunista, que pretendia instaurar uma ditadura do proletariado. 

Não é contraditória a ideia de liberdade quando houve assassinatos, torturas, sequestros e desaparecimentos forçados?

Mas quem é que lhe disse que os militares torturavam e assassinavam? Eu participei do movimento e nunca vi uma tortura. Vi gente morrer em combate. Morria gente do Exército e guerrilheiros. A esquerda que diz isso aí, pois quer construir uma nova história desde o final dos governos dos militares. As editorias dos jornais, por exemplo, estão dominadas por marxistas e gramscistas. A maioria dos nossos estudantes é de esquerda. 

Como a promulgação do AI-5 foi recebida no círculo militar?

Mesmo entre os militares houve quem discordasse por achá-lo muito duro. Na época, presenciei algumas discordâncias. Toda unanimidade é burra, como disse Nelson Rodrigues. Muitas vezes, quando há uma decisão e se tem subordinados, você não tem uma unanimidade. É pesado (o AI-5)? É, mas foi necessário. Você tem que tomar decisões pesadas, sem elas você não chega a lugar nenhum. A situação apenas iria piorar se não fosse o AI-5. Como era um governo que tinha feito uma intervenção e necessitava pacificar e destruir os movimentos de guerrilha, se não fosse o AI-5 com um poder do presidente aumentado não haveria a neutralização desses movimentos. 

Então as violações aos direitos humanos cometidas durante a ditadura se justificam por essa guerra ao comunismo a qual o senhor se refere?

Não houve essa coisa de “ah, os direitos humanos não foram respeitados”, não teve nada disso. Você conversa com o povo daquela época e verifica como a qualidade de vida era muito melhor do que é hoje. O humano direito sempre foi respeitado. Direitos humanos é para humanos direitos, não para subversivos. O Estado, quando se vê atingido, e a Nação também, o que ocorre? O Exército, se necessário, emprega meios violentos. O Exército, quando entra em combate, é para destruir o inimigo. Ele é detentor dos meios que possibilitam empregar a violência no sentido de defender o Estado e a Nação. O Exército não brinca em serviço. 

E a questão da censura aos meios de comunicação e às produções artísticas? Caetano Veloso e Raul Seixas, só para citar dois casos, foram presos, torturados e exilados.

As atividades artísticas não foram prejudicadas. Nunca houve um produção tão fecunda como no governo Médici, por exemplo. Eles dizem que foram torturados. Existe um camarada que ensinava aos artistas que quando fossem presos, mesmo que não fossem torturados, que eles deveriam sair da prisão dizendo que foram torturados. Uma guerra não se faz com flores. Não adianta chorar agora. Tinham que pensar antes de tentar subverter a ordem, antes de lutar com armas na mão. Todos aqueles que lutaram pela implantação da uma ditadura do proletariado praticavam terrorismo, assaltavam bancos. Eram terroristas, bandidos. Hoje, contam uma nova história, principalmente nas redações de jornais.

Quando se fala nos crimes da ditadura, estamos falando de terrorismo de Estado, não?

Tortura, assassinato, você tem aí durante esses anos todos nas prisões brasileiras e ninguém fala nada. Querem colocar a figura do Exército como terrorista, e não era. Eles tinham como dever combater comunistas que tentavam implantar uma ditadura do proletariado. E digo mais: a liberdade que você hoje desfruta devemos inteiramente a esses militares e aos civis que, junto a eles, destruíram essas guerrilhas no decorrer de 1964 a 1985. 

Segundo o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, o número de mortos e desaparecidos no período da ditadura é de 434. Qual é a sua avaliação sobre esses dados?

Gostaria de falar sobre essa comissão, que é a comissão da inverdade. Criaram uma comissão patrocinada pelo governo do PT e por canalhas e passaram a investigar somente os militares. Baseados em que? As mortes, sejam elas 300 ou 400, aconteceram de ambos os lados. Infelizmente aconteceram, e aconteceram em número muito menor pelo cuidado que as Forças Armadas tiveram. Eu até lamento que tenham ocorrido (mortes), porque foi uma luta entre irmãos, mas um dos lados era a legalidade, e o outro era o dos guerrilheiros. 

Países vizinhos como Argentina, Uruguai e Chile, que passaram por ditaduras no mesmo período que a do Brasil, também tiveram comissões e levaram militares a julgamento e os puniram. Isso não deveria ter ocorrido aqui também, já que as violações cometidas pelos governos militares são consideradas crimes contra a humanidade e imprescritíveis?

Não, porque tivemos chefes das Forças Armadas que são convictos do bem que fizemos ao país. O Brasil cresceu muito na economia, a indústria naval tornou-se a primeira do mundo, as universidades aumentaram seus efetivos. 

Mas a desigualdade social cresceu muito, segundo estudos, e também houve casos de corrupção.

Não cresceu. Isso quem diz é a esquerda e todos aqueles que são contra o movimento. O país tinha pleno emprego, não tinha isso que temos hoje, 14 milhões de desempregados. Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma acabaram com o país. Colocaram o país ladeira abaixo.

Em 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou o Brasil por não julgar e os responsáveis pelos crimes cometidos na ditadura. Quatro anos depois, a Corte voltou a falar sobre a pena. Em julho deste ano, a mesma CIDH condenou o Estado brasileiro por não investigar e julgar os responsáveis pela tortura e morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975. O senhor não considera essa sequência de condenações ruim para a imagem do país?

Pior seria se o Brasil abdicasse de sua soberania e aceitasse condenações do exterior. Ainda mais pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, infiltrada por pessoas de esquerda, que querem a todo custo condenar o Brasil e desmoralizar o país. Então não vejo capacidade da Corte dar uma sentença acima das leis brasileiras. Não acho ruim para nossa imagem. Acharia pior se o país se curvasse à Corte. 

O senhor concorda com quem diz que o grande erro da ditadura foi ter torturado e não ter matado?

Não digo isso, mas acho que ganhamos a guerra, o combate militar, e perdemos a guerra da propaganda. O Exército depois buscou uma unidade da sociedade, se manteve afastado, calado, fazendo tudo para consolidar essa unidade. O lado contrário, os marxistas e esquerdistas de maneira geral, só fizeram pisar no Exército por meio de afrontas diárias. A Comissão da Verdade é uma delas. Numa busca pela unidade nacional, o Exército se calou e perdeu a guerra da propaganda. Foi o grande erro dos governos militares. 

No fim dos anos 1970, na transição do governo de Ernesto Geisel para o de João Figueiredo, começou a abertura democrática “lenta, gradual e segura”. Qual foi o seu sentimento em 15 de março de 1985, quando teve fim a ditadura militar?

Não houve ditadura. Pode ter havido um governo de exceção por algum tempo. Em 1985, achei que o país estava pacificado e que os civis tinham aprendido a lição, que tocariam o país para frente. Mas o que vi nos governos posteriores foi corrupção, falta de civismo, patriotismo, a destruição de praticamente tudo aquilo que os militares deixaram.

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